Por João Pedro Pimenta. Blog de expressão portuense, benfiquista, monárquica, católica e politicamente indeterminada. Pelo menos até ver...
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Voltando a António Pedro e ao cinquentenário da sua morte, aqui está a reposição de um programa de 1992, que passou o então Canal 2, apresentado por Castro Guedes, e onde se revisita a vida e a obra de António Pedro, centrada em Moledo, e aqueles que com ele conviveram, com diversos testemunhos (como Ruy de Carvalho e Júlio Cardoso, de resto também presente na exibição desta peça). Note-se, aos 19:09, nas imagens do seu enterro, em 1966, Eunice Muñoz, em primeiro plano, cuja carreira António Pedro ajudara a incrementar.
A imagem e o som não são famosos, mas tratou-se de uma gravação directa da exibição pela Companhia de Dança de Lisboa.
Há exactamente 50 anos, a 17 de Agosto de 1966, morria aos 56 anos o artista António Pedro da Costa na sua casa de Moledo do Minho, vítima de asma. António Pedro, como era simplesmente conhecido, nasceu em Cabo Verde, veio para a metrópole aos 4 anos, onde estudou no colégio jesuíta de La Guardia, e depois nas universidades de Coimbra e Lisboa. Nunca concluiu os seus cursos. Era um autodidacta tremendo que não podia ficar agarrado somente a uma área. Esteve ligado ao Nacional Sindicalismo, de Rolão Preto, dirigindo o jornal do movimento, o Revolução, mas rapidamente deixou a política e dedicou-se mais às artes. A todas as artes.
Passou por Paris, Brasil e Londres, privando com figuras gradas das artes e ligando-se a movimentos vanguardistas. Em Portugal criou a primeira galeria de arte, a U.P., e mais tarde envolver-se-ia com o grupo surrealista, com o qual é mais conotado, embora não possa ser colocado apenas nas redomas oníricas do surrealismo. Era pintor, caricaturista, ceramista, encenador, dramaturgo, poeta, contista, ensaísta, etc. Um artista total, um pouco como Almada, com quem também se deu. Incrementou o Teatro Experimental do Porto, e as carreiras de actores que ganhariam nome no palco, como Eunice Muñós e José Viana, ou de pintores, como Vieira da Silva. Por toda a parte, mas sobretudo na região Norte, e em particular no Minho, deixou a sua marca, fosse em programas das RTP (muitos dos quais desapareceram, com o reaproveitamento das suas bobines), em guiões para cinema e curtas-metragens, nos seus contos e poemas, nas casas que projectou, nos azulejos que desenhou (como os que podem ser vistos na garrafeira Baco, em Caminha), no símbolo do Ínsua Clube, que fundou, e que se assemelha ao peixe paleocristão, e nos vestígios do teatro que tentou construir em Moledo, que ficou a meio, popularmente conhecido como "as ruínas", e que hoje em dia alberga um conhecido bar e um auditório com o seu nome. Seria em Moledo que morreria, há 50 anos. E é em Moledo, em Caminha e Viana que a sua memória é recordada por estes dias, em inúmeras e diversificadas iniciativas. Para recordar este talentoso multi-artista e re-divulgar a sua figura, que bem o merece.
Neste pequeno trecho podemos ouvir António Pedro e acompanhar um pouco do seu trajecto, incluindo o testemunho de Joaquim Guardão, ainda vivo, e que tive a honra de conhecer. Há mais, no site da Companha de Dança de Lisboa.
Com os Jogos Olímpicos, os fogos e as viagens de membros do Governo patrocinadas pela Galp, ficou esquecida a primeira polémica de Agosto: os critérios para o valor do IMI de cada casa, como a exposição solar, a vista para cemitérios e ETARs, etc. Não é muito justo que uma casa modesta tenha de pagar mais por apanhar mais luz do sol (pode ser pela escassez de arvoredo, por exemplo), mas para se acabar com essa questão havia uma solução definitiva: abolia-se o IMI. Ainda por cima, baixaria muita da especulação financeira e incrementaria antes a reabilitação. Mas depois de que viveriam as nossas autarquias? Arranjar um sucedâneo sensato nunca seria fácil.
Não sei se é pelo facto de se estar debruçado no que é essencial (ou seja, as provas), mas esperava uns Jogos Olímpicos mais acidentados. E os prenúncios não eram nada bons: instalações com deficiências, furtos, poluição extrema das águas, obras atrasadas, falta de recursos, problemas infindos no Rio, tudo sob uma grave crise económica e política que levou à substituição da presidente do Brasil a poucos meses dos jogos por um vice pouco conhecido e ainda menos popular. O certo é que apesar de alguns problemas que provavelmente têm sido camuflados, as atenções viraram-se para a competição. Os enormes desportistas Phelps e Bolt (sobretudo o jamaicano) subiram ainda mais no panteão dos atletas, surgiram novos nomes, como Simone Biles e Van Niekerk, e até dia 21 ainda há muito para ver. Entre os portugueses, Telma Monteiro conseguiu a tão almejada medalha, depois de duas edições de jogos desoladoras, mas o resto tem sido frustrante, apesar dos esforços dos jogadores. Ainda hoje, Nelson Évora e Fernando Pimenta ficaram perto do pódio, sem hipóteses de o pisar. A selecção C de futebol conseguiu a proeza - mais uma de Rui Jorge - de ficar em primeiro lugar no seu grupo, antes de ser derrotada sem apelo nem agravo pela Alemanha. Veremos o que faz o limiano daqui a dias, assim como a cavaleira Luciana Diniz mas as esperanças de medalhas vão-se eclipsando.
Apesar de tudo, as coisas vão correndo satisfatoriamente e a cerimónia de abertura, de que só vi partes e em diferido, agradou, embora duvide que tenha ultrapassado o excelente espectáculo inicial de Londres em 2012. Não houve grandes referências aos portugueses nestes primeiros jogos num país lusófono, mas a correcção política das "causas indígenas" falou mais alto. Enfim, houve Gisele Bundchen.
Sem querer ser chato, há uma questão que surgirá inevitavelmente: acabada a festa, que Brasil teremos no pós-jogos? Dilma deve ser definitivamente exonerada no fim do mês, os problemas com as expropriações por causa dos jogos voltarão, e a herança do evento vai pesar. Aliás não compreendo como é que se pode organizar um Mundial de Futebol e uns Jogos Olímpicos com apenas dois anos de intervalo, o que revela que os brasileiros, na senda de se tornarem uma superpotência, tiveram mais olhos que barriga. Agora, em plena crise e desaceleração económica, caiu-lhes tudo em cima. O futuro próximo não vai ser fácil.
Ao fim da tarde lá consegui ver um esboço de céu azul por entre este manto de fumo pesado e sufocante e as microcinzas que caem. Não sei se a causa vem de Gondomar, de Águeda, de Arouca ou dos Arcos, mas o mais provável é que seja uma conjugação de tudo.
Com todos estes fogos horrorosos, sobressaem duas características bem portuguesas: a solidariedade, evidente entre todos os que vão ajudar os que têm as suas casas em perigo, e a maledicência, que se espalha em milhares de milhares de comentários das redes sociais, sempre com um culpado em mira: o governo (tanto o actual como os anteriores), as autarquias, os bombeiros, os "interesses instalados", os madeireiros, as celuloses, os turistas, etc. E inevitavelmente fala-se sempre na prevenção. Certíssimo, a prevenção, mas seria bom que se falasse disso não apenas em Agosto, à vista das chamas, mas em Janeiro ou Fevereiro (falo da discussão entre a sociedade civil, porque ignoro os planos do MAE e restantes organismos responsáveis). E mesmo uma pessoa como eu, que não percebe grande coisa do assunto, já conseguia prever que com uma vegetação enorme devido a uma Primavera chuvosa, temperaturas anormalmente altos, ventos fortíssimos e a nossa "bela" floresta constituída por esse grande combustível chamado eucalipto, só mesmo por muita sorte é que não haveria fogos. Mas a sorte não aparece sempre.
Todos os anos se repete a mesma discussão sobre fogos. E estes variam devido a um e só um factor: o clima. Há dois anos, choveu nos primeiros dias de Agosto e quase não se falou do assunto. A diferença entre haver ou não incêndios parece resumir-se à maior ou menor pluviosidade de verão. É disso mesmo que estamos a precisar: de uma boa chuvada.
A meteorologia anuncia chuva para a semana. Oxalá acerte.
Chegou Agosto. O meu mês, o mês que simboliza o Verão, aquela altura mítica e tão aguardada durante o resto do ano pela esmagadora maioria da população que vive no hemisfério Norte. Cada dia de Agosto, mais do que qualquer outro, seja em férias ou em trabalho, é precioso e tem de ser aproveitado até à última gota.
É verdade que para além de ser um nativo deste mês, também pode contribuir para essa minha mitificação o facto de no último 31 de Julho ter feito "bodas de prata" que parti uma perna, levando a que passasse um Agosto de pré-adolescência imobilizado. Não é experiência que recomende. E assim, enquanto alguns acham que 31 de Julho é o melhor para, por exemplo, casar, eu espero sempre que esse dia aziago passe rapidamente. Para entrar no oásis de Agosto.