terça-feira, janeiro 27, 2004

Miki

Porque o nome e as imagens de Miki não me saíram ainda da cabeça, deixo umas notas, para que se possa, eu incluído, aclarar as ideias:

-Miki tinha aparentemente sido pai há quinze dias; embora isto aumente o dramatismo da questão, não deixo de recordar aquela frase que diz "quem tem filhos nunca morre completamente".

-Tinha dito que o dia mais belo da sua vida fora quando pedira a mão da namorada em casamento. Uma atitude absolutamente romântica, mas que infelizmente jamais se concretizará.

-Logo agora que tinha ganho em parte o processo que mantinha contra o Porto e assegurado que ficava na equipa do Benfica o resto da época...O fim por vezes chega nos momentos de maior alegria...

-Miki era era grande, forte e louro; lembrava um guerreiro jovial. Sem dúvida que descendia dos húngaros que lutaram em vão para não serem subjugados pelos otomanos, dos invasores magiares que fundaram a sua nação, ou até, quem sabe, daqueles que tentaram dar a liberdade à Hungria em 1956, e foram esmagados pelos soviéticos.

-Tombou envergando a camisola do Benfica, um sonho para tantos, num relvado verde, com a vitória assegurada, e o público em uníssono a aclamá-lo. Apesar do ambiente trágico que se gerou à sua volta, pergunto-me a mim mesmo se não será essa a morte que um futebolista, ainda por cima empenhado, mais deseja. E se terá ouvido o seu nome ribombando pelo estádio. Espero bem que sim.

-No post de ontem falei daquele fantástico golo que marcou no Bessa e que permitiu que o Benfica ultrapassasse a primeira eliminatória da UEFA. Só não disse que tinha sido o último da sua carreira. Que eu tive a suprema benção de ter visto in loco, a poucos metros. E que o Benfica, para homenagear a sua memória, se encha de ânimo e ganhe a UEFA, concluíndo a obra que Miki iniciou.

-Embora ultimamente o considerasse um pouco tosco, segui a carreira dele no SLB com esperança e interesse, nomeadamente os seus golos. Em Portugal estreou-se com o Porto marcando um golo ao Olimpiakos da Grécia. Pelo SLB marcou ao Moreirense, Belenenses e ...Guimarães.

-Não deixa de ser irónico que tenha desaparecido no relvado de um clube contra o qual sempre jogara bem: em dois jogos frente ao Vitória de Guimarães marcou 4 golos, de águia ao peito. E já agora, uma palavra para os jogadores desse clube, que ajudaram como podiam, ficando também eles em estado de choque pelo drama ocorrido ali, em sua "casa".

-Muito se falou dos atrasos da ambulância, falta de meios, etc. É verdade. Mas todos os que criticaram provavelmente fariam o mesmo. Não por incompetência ou especial desleixo. Apenas porque o ser humano é imperfeito e nem sempre consegue prever determinadas situações.

-Feher, em húngaro, significa "branco". O que é que isso importa? Nada. Mas muito pouca coisa hoje me interessa, e por isso permito-me dizer coisas minimamente desinteressantes.
Só me pergunto: porquê? Porquê ele? Porquê ontem? O que é que aconteceu realmente?
Mas agora é demasiado tarde para o que quer que haja, embora seja difícil de crer. Creio que nunca fiquei tão aborrecido pela morte de alguém que não conhecia pessoalmente; apenas de vista.
Só me convenço (ainda mais) de uma coisa: que vida estupida!
Ou talvez não. É tão preciosa que quando prega partidas ficamos inconsoláveis.
Estou mesmo maldisposto...

Até sempre, Miki

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