quinta-feira, janeiro 29, 2004

Os arquivos atravessam uma fase mais problemática. Logo que possível estarão de novo à disposição.


Hoje voltei ao interessante Guerra Civil Espanhola, um blog que deixei correr demasiado tempo e que estuda um dos mais fascinantes (ainda que violentos) períodos do século passado, a nível ideológico, militar e cultural - basta pensar que inspirou a "Guernica" e inúmeras obras de George Orwell, não só o "Homenagem à Catalunha" mas também o menos conhecido "Apontamentos sobre a Guerra de Espanha", memorial extremamente esclarecedor sobre as condições das Brigadas Internacionais no terreno ( e particularmente em Aragão).
A impressão que me fica quando penso no conflito é o de uma enorme miscelânea ideológica e política. Quando era mais miúdo julguei tratar-se de um conflito entre monárquicos e republicanos. Desfeito o engano pensei que fosse então uma guerra civil entre republicanos e comunistas aliados contra fascistas. A premissa não estava tão errada quanto isso, mas ainda assim andava longe da realidade.
Vistos os factos, não foram tanto os nacionalistas, na sua composição de monárquicos, fascistas e conservadores, que ganharam a guerra, apesar do enorme apoio dos Nazis ou da Itália de Mussolini e da sua tremenda máquina bélica, primeira aparicão da Blitzkrieg. A diversidade e rivalidade entre os republicanos era por demais evidente, num jogo em que os anarquistas da CNT e o POUM, aparentado com o PSOE, acabaram por ser aniquilados, ou reduzidos à sua dimensão mínima, pelos comunistas do PCE (o que ajuda a perceber o posterior anti-comunismo de Orwell), movimento, que como todos os marxistas, tinha também as suas figuras românticas, entre as quais se destacava "La Passionária", Dolores Iabarruri, de seu nome. Mais do que as bombas sobre o País Basco, a falta de meios, ou a superioridade em armamento dos Nacionalistas, os Republicanos perderam a guerra devido ás suas lutas internas, ao receio que tinham criado devido a actos mais ou menos bárbaros e a razões mais paradoxais, como formar um governo no qual participavam anarquistas.
Ao olhar há tempos para as manifestações na data da morte de Franco, em que de um lado se viam os oposicionistas (bandeiras republicanas, "look" alternativo ou anarca) e do outro os franquistas (boinas da Falange, braço erguido e crucifixos nas mãos), pensei no que seria se a guerra tivesse lugar hoje, ou mais concretamente, em quem apoiaria. É certo que uma guerra civil ao lado não é propriamente agradável, mas serve isto para comparar o clima apaixonante da época ao vazio ideológico de hoje em dia (embora haja sempre a ameaça Etarra, no caso concreto). Quem apoiar? Por um lado os monárquicos estavam do lado Nacionalista, mas eram obrigados a marchar lado a lado com fascistas, nazis, e os assassinos de Lorca. Mas olhando para a esquerda víamos comunistas, anarquistas responsáveis pela morte de milhares de clérigos e republicanos em geral. E que prometiam um regime tão mau ou pior que o do Caudilho. Entre os dois, viesse o Diabo e escolhesse. E o que é curioso (ou sintomático) é que as cores dos anarquistas e da Falange eram exactamente as mesmas.
A única conclusão plausível a que se pode chegar a esta hora da noite é que, apesar da tal trepidação da época, nas vertentes que já foram referidas, uma eventual vitória dos Republicanos traria a incógnita para toda a Península. Há quem jure a pés juntos que o seu grande objectivo era anexar portugal e constituír uma Ibéria soviética. Se são meras teorias da conspiração ou não, é impossível dizê-lo. E, apesar das trevas do regime do "Generalíssimo" sobre a sua "Una, Grande,Libre" Espanha, podem regozijar-se hoje os vizinhos do lado por viverem numa Monarquia Parlamentar como garante de um verdadeiro Estado de Direito. O que não quer dizer que desejemos qualquer fusão com eles. O que era bom era que tívessemos o nosso próprio D. Juan-Carlos. Quem sabe um dia...

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