Natal em branco
Confesso: cada vez mais o Natal me aborrece. O período mágico da quadra, na infância, varreu-se. Os natais passados em Vila Real (onde era "mais Natal", ou mais autêntico) já lá vão, e duvido mesmo se lá voltarei a comemorá-lo, ao menos nos tempos mais próximos. O que vejo nos dias que correm são pessoas apressadas, filas e filas de trânsito, uma oferta consumista que raia a loucura, os sempiternos anúncios de brinquedos parvos na TV, pais natais por toda a parte. A propósito, gostava de saber porque é que em todos os programinhas natalícios perguntam sempre ás criancinhas "o que é que pediste ao Pai-Natal?". Mas quem é que lhes disse que acreditavam nele? E porque é que lhes têm de impingir à força a existência do ancião de vermelho? E já agora, porque é que não perguntam antes aos miúdos se sabem porque é que há Natal?
Eis a questão principal, afastada das bocas do mundo. A razão do Natal, o nascimento de Jesus, é o mais invisível traço alusivo à quadra, excepto nalguns presépios artísticos, ou na Missa do Galo. Fora disso, a recordação do nascimento de Cristo passa quase despercebida, face à torrente de "Péres-Noëls", grinaldas, embrulhos e pinheiros (de que até gosto muito) que por toda a parte pululam. Para uma pessoa que, como eu, jamais na sua infância acreditou no Pai Natal mas sim no Menino Jesus - coisa que me causava certa confusão, como a dificuldade do Menino andar por aí a comprar prendas- é uma ideia penosa. A sensação é a de que o Natal materialista usurpou o sentido espiritual da época, inspirado por Cristo.
É claro que há aspectos mais comezinhos, como o de não gostar de um único prato ou doce de Natal, ou de não o ter vivido com neve, como seria desejável. A neve, seja em horizontes a perder de vista, seja numa grande cidade, nunca deixou de me encantar e de me dar uma enorme sensação de paz. Infelizmente, os ares do Atlântico afastam-na daqui. O espírito de
Natal está vivo? Talvez, para os mais novos. Para os outros, creio que se lhes varreu no fundo da alma, apesar de externamente demonstrarem o contrário. A não ser que a inspiração de Cristo o tenha mantido. Para mim, o Natal ficou perdido algures em Trás-os-Montes.
De qualquer modo, um Santo e Feliz Natal para todos, na medida do possível.
sexta-feira, dezembro 24, 2004
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3 comentários:
Um grande Natal da Zona Franca
E as batatas? Caíram bem?
É verdade, o Natal tem vindo a perder a sua magia. Para mim hoje não passa de um periodo de reencontro e é aí que encontro a sua magia.
Grande Abraço e Boas Festas
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