sexta-feira, julho 01, 2005

Um Marco do nosso poder local



Aqui há coisa de duas semanas, a Pública trazia uma extensa reportagem sobre o Marco de Canaveses e o longo consulado do seu conhecido dinossauro, Avelino Ferreira Torres. Era o retrato de um concelho onde imperam o abandono escolar, a falta de estruturas tão básicas como o saneamento e a água canalizada, enquanto o betão e a construção civil às três pancadas continuam a crescer. Mostrava-se gente do campo, idosas analfabetas ou jovens a trabalhar na agricultura ou nas oficinas. Expunham-se testemunhos vários, desde apoiantes do "homem de fibra" que transformou o Marco em cidade, aos críticos, políticos ou não, mostrando o vazio cultural do concelho, o descalabro das contas e a prepotência do presidente. Só faltou mesmo a entrevista com este último, que despachou os jornalistas aos berros.
O conhecimento que tenho da terra data de há uns anos. Num dos Invernos mais amenos de que tenho memória, andei quase uma semana pelo concelho todo, num trabalho de identificação e entrevista de todos os artesãos que encontrasse, para uma pesquisa de artesanato encomendada pelo centro de sondagens da Universidade Católica.
Entre cesteiros, tanoeiros (talvez o último de Portugal), bordadeiras, tecedeiras (provavelmente visitei a idosa que surge na Pública) e outros cujo ofício não me vem à memória mas que nos seus vasilhames de estanho e chapéus de palha verdadeira arte, ouvi um longo rol de queixas. Muitas delas dirigiam-se ao total desinteresse da Câmara no seu trabalho, à ausência de um mínimo de divulgação por parte da autarquia. Dei-me conta disso logo à partida: assim que cheguei ao Marco dirigi-me à câmara municipal, onde funcionava o turismo local, para obter informação sobre o artesanato concelhio. Não me souberam dar qualquer informação, e só me deram um mapa do concelho e respectivas freguesias. Enquanto esperava, vi numa sala ao lado, através da porta envidraçada que a isolava, uma reunião colegial, presidida por, claro está, Ferreira Torres. Uma das minhas primordiais visões do Marco era o seu todo-poderoso presidente.
Além dos artesãos, outras pessoas, como alguns comerciantes, queixaram-se dele: desde as costumeiras ameaças físicas aos adversários, até à utilização de máquinas (e trabalhadores) camarários nas suas terras, sem falar na sua fortuna que cresceu desmesuradamente desde que está à frente da autarquia. A única pessoa que vi elogiá-lo foi uma tecelã, na freguesia de Várzea e Aliviada, que tinha no tear um autocolante do autarca , e que dizia com um sorriso tímido, baixando os olhos : "coitado do homem, lá faz o que pode"... Na altura em que lá estive houve um caso que teve honras num qualquer programa da SIC, estilo Praça Pública, em que um comerciante oferecia flores à entrada do mercado municipal para chamar a atenção de uma situação marginalizadora que lhe tinha sido criada pela câmara; no mesmo programa surgia, Avelino, verociferando no ecrã contra "a comunicação social".
A cidade do Marco é caracterizada por um urbanismo descuidado e o trânsito é a puxar para o caótico. Destacavam-se a câmara municipal, num ponto elevado, a célebre igreja de Siza Vieira, a meio de um descampado, e o Estádio Avelino Ferreira Torres. Curiosamente as pessoas da cidade olhavam para os "forasteiros" com uma desconfiança que não se via nas freguesias mais pequenas.
De resto, o concelho tem belas paisagens, sobretudo em Alpendurada (onde me lembro de comer um frango divinal por mil paus da altura, a refeição inteira), sobre o Douro, uma estação arqueológica, algumas igrejas, solares e pelourinhos merecedores de atenção, e pessoas simples e afáveis. dos artesãos trouxe como prendas um chapéus de palha e um vasilhame de estanho, que guardo na cómoda do quarto. Mas também uma certa pena por aquelas pessoas ignoradas pela edilidade presidida pelo homem que se prepara para assaltar Amarante, talvez para fugir de algo.
Esse homem, Ferreira Torres, com inúmeros casos judiciais de irregularidades e desvio de fundos à perna, promove a sua campanha à câmara amarantina através de viagens de helicóptero, mega-jantares e outdoors omnipresentes. Que não hesitou em auto-promover-se na grotesca "Quinta das Celebridades" (mas aquilo promoverá alguém?), metendo férias a meio do mandato. Esse homem, não nos esqueçamos, diz que "sabe quem é que matou o irmão" mas recusa-se a dizer - irmão esse, aliás, um famoso bombista que, tendo sido vendedor ambulante, tornou-se milionário depois de três anos em África, ninguém sabe como. Esse homem é o rosto do que pior as nossas autarquias têm: o cacique local, que vence eleições graças à "obra feita", bate nos adversários, perpetua-se no poder e caracteriza-se por um boçal nepotismo e por gastos sumptuosos com o acessório, além, claro, de favorecer tudo o que é construtor civil.
E é precisamente esta criatura que, depois de vinte e três anos a controlar - é o termo - o Marco, pretende fazer o mesmo em terras de Amarante. E o povo, ou parte dele, aplaude. Não conhecesse um pouco da sua obra, e diria que se merecem um ao outro.

4 comentários:

Anônimo disse...

Força velino! Amarante é nosso!
PS: Isaltino a Presidente (da República) e João Pedro Pimenta a PM

Unknown disse...

Perfiro um homen serio
Luis Ramos Para presidente

Roberto Iza Valdés disse...
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Anônimo disse...

vai te foder o bla nao metas o povo do marco ao barulho o ferreira torres pode ser tudo e mais alguma coisa, MAS O POVO DO MARCO TEM OS OLHOS ABERTOS....
ELE SO ENGANA PESSOAS INGENUAS QUE NAO TEM CAPACIDADE PARA COMPREENDER ALGUMS PROBLEMAS....
ESSES SAO ENGANADOS...CRESCE....