sexta-feira, julho 22, 2005

Primeira saída

Não li o artigo de Campos e Cunha no Público de Domingo, por isso, contrariamente aos entendidos, fui apanhado de surpresa pela demissão do (Ex)titular da pasta das finanças. O gesto é preocupante, e deixa adivinhar um conjunto de questões não resolvidas entre Campos e Cunha e José Sócrates (ou, pior do que isso, o inefável aparelho do PS). As opções do investimento público, como o discutível projecto da OTA, e o discutibilíssimo TGV, que ora parecem obras necessárias para o avanço do país ora nos soam como meras brincadeiras de novos-ricos, serão talvez a chave do problema, o que não parece ser novidade para ninguém. Adivinhas à parte, a saída de alguém que parecia rigoroso e competente (apesar da rocambolesca história das pensões), ao fim de quatro meses no seu posto, não deixará de causar apreensão. Não conheço Fernando Teixeira dos Santos, não duvido da sua preparação, mas temo que não tenha muita corda. De qualquer forma, é possível que com este desaire, Sócrates perceba que não pode pisar o risco muitas vezes de aqui em diante. E que não são umas "meras" autárquicas que farão com que o seu executivo se aguente.

E a propósito: já ouço umas bocas a dizer que "isto é o início do fim", "este governo não dura muito mais", etc. Era bom que as pessoas, sejam quais forem as suas preferências político-ideológicas, tivessem um pouco mais de senso: desde 99 que não temos um governo que cumpra os quatro anos de legislatura. Tivemos dois primeiros-ministros que se demitiram e outro que nunca devia ter sido nomeado. Não podemos andar sempre a brincar aos governos conforme a disposição das analistas, sejam os da TV ou do café. As mudanças custam caro e atrasam ainda mais o já derrapado crescimento do país. E em relação à dissolução da AR por Sampaio, já aqui dei a minha opinião, mas posso voltar a repeti-la: o PR tinha toda a legitimidade para o fazer. Toda. O governo de Santana Lopes era de iniciativa presidencial (e não legitimada em eleições que só formalmente são para escolher o poder legislativo), e além disso havia uma condição base: o novo executivo deveria seguir a mesma política económica levada a cabo até aí por Manuela Ferreira Leite. Tendo seguido a via oposta (com os delirantes "a recessão acabou"), deram a Sampaio a oportunidade para acabar com a legislatura. Perante as confusões que se sucediam, ele não hesitou. Convinha agora um pouco da serenidade que Sua Exª nos pede regularmente. Sobretudo ao governo, que bem tem de pensar no seu rumo daqui para a frente.

PS: o inafastável dinossauro de Braga, Mesquita Machado, amante do betão e da edificação vertical, exprimiu a sua enorme "satisfação e alegria" com a remodelação governamental, já que entendia que Campos e Cunha fora "um autêntico desastre" e que "não tinha sensibilidade para os problemas das pessoas" (em linguagem de autarca deve querer dizer que não beneficiava patos-bravos e urbanizações desregradas). Eis um sinal realmente preocupante do que está a suceder. Espero é que Mesquita Machado tenha razões para ficar igualmente desiludido com o novo titular da pasta. Isto é, se os bracarenses não se fartarem de vez e o puserem a andar do cargo a que se agarra como uma lapa.

3 comentários:

Freddy disse...

Começa a derrocada...
O Pingú e eu vamos de férias.

Abraço da Zona Franca

mfc disse...

É muito cedo para avaliar...
Vamos ver primeiro o desempenho e a linha de rumo.

João Pedro disse...

Espero bem que não haja nenhuma derrocada nos próximos tempos, Fraddy. Fartos de mudanças de governos andamos nós. Boas férias para ti e para o teu alter-ego.
claro que ainda é cedo para futurismos, MFC. Mas um ministro-chaver ser substituído com 4 meses no governo e quando a sua contestação interna era conhecida não é nada bom sinal.