Qualquer pessoa que viaje com mediana regularidade já passou com certeza pelo aeroporto de Frankfurt am Main, quase sempre fazendo escala, podendo entrever a cidade apenas ao nível das nuvens. O que se vê é uma cidade correndo ao longo de um rio, com um conjunto de arranha-céus à americana, antes de uma parte central já mais "tipicamente alemã".
É uma imagem redutora, claro, mas a realidade não anda muito longe disso. Com os seus seiscentos e poucos mil habitantes, tem o aeroporto mais movimentado da Europa, a maior Feira do Livro do Mundo (e de têxteis, automóveis, etc), é a sede das instituições financeiras da UE e é uma encruzilhada nas vias férreas, rodoviárias e fluviais do país. Pesada responsabilidade, portanto.
Os arranha-céus, quase todos de instituições bancárias (o Commerz Bank é omnipresente e até patrocinou a estádio), lembram vagamente a skyline de Chicago. São rasgados por avenidas longilíneas, que depois de uns parques e de um visível red-light district, se transformam em ruas com largo movimento velocipédico. Os edifícios de média estatura dão lugar a construções mais barrocas, ostentando muitas vezes o brasão do Hesse, estado federal onde nos encontramos. Segue-se um conjunto de praças, com inúmeras esplanadas, cada qual com o seu ecrã mostrando o jogo da hora aos espectadores atentos e às respectivas canecas de cerveja. A mais central de todas, a Roemerberg, em grande parte reconstruída depois da 2ª Guerra, ostenta típicas casas alemãs seiscentistas, as Fachwerhauses, e tem no centro uma fonte com uma estátua da Justiça. Pululam as lojas de recordações, desde o merchandising do Mundial às canecas bávaras de cerveja. Escusado será dizer que o grosso dos turistas se concentra ali. No dia em que cheguei, os argentinos comemoravam efusivamente a goleada sobre a Sérvia.
A dois passos, a Catedral, a Kaiser Dom, com certa imponência, embora longe da de Colónia. A sua importância mede-se por ter acolhido a eleição de vários imperadores do Sacro Império Romano Germânico durante quatrocentos anos, se bem que a coroação se desse em Aix-la-Chapelle, a exemplo de Carlos Magno.
A alguns quarteirões, a casa de Goëthe, talvez a máxima referência da língua alemã. Tal como outros vestígios históricos da cidade, a morada onde o autor de Werther nasceu e viveu até aos 26 anos teve de ser quase totalmente reconstruída depois da guerra. Com tempo disponível, deve merecer a visita, para se conhecer melhor o espírito do autor e poeta alternadamente romântico e clássico.
A parte monumental da cidade completa-se com os inúmeros museus (do Dinheiro, Judaico, etc) e a Alt Oper, mais a norte, aparentada com a ópera de Dresden, e contemporânea à de Paris. Em redor estendem-se alamedas pedonais plenas de esplanadas, lojas de prestígio, bancas de fruta e vegetais. Em sentido perpendicular a este movimento são as artérias que vão dar ao rio e às suas inúmeras pontes, cruzadas pelas muitas barcaças que fazem do Meno uma imensa estrada fluvial, antes de se juntar ao Reno, em Mainz. Ladeado por parques e ciclovias, foi esta a área escolhida para se instalar a "Fan Arena" durante o Mundial, com a tela gigante dos jogos assente no meio do rio.
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