domingo, novembro 02, 2008

"Um ambiente de terrível hostilidade"
Tenho seguido a campanha eleitoral com moderado interesse, embora ele tenda a subir nestes últimos dias, e não com fervorosa curiosidade ou constante busca de novas notícias ou sondagens via net ou televisão. Dentro daqueles que lhe dedicaram maior atenção, destaca-se O Cachimbo de Magritte, talvez o melhor blogue de pensamento pró-conservador que temos disponível. Habituado à qualidade das discussões e da fundamentação das ideias que aí se defendem, tenho estranhado o tom acintoso e demagógico com que alguns novos escribas têm abordado a dita campanha.


Já se tornou quase moda criticar os posts de André Pessoa, mas a verdade é que eles traduzem o que de mais faccioso e exacerbado existe nos redneck portugueses. Desde a colecção de posts sobre " do ódio", até às acusações de que "Obama é a negação da democracia", passando pela "denúncia" de supostas gaffes do candidato que se prova não o serem, mostra-nos que há mais admiradores de Ann Coulter a escrever em português do que eu julgava. Depois, há os inevitáveis comentários, em que alguns anónimos completam a mesma toada com comparações da campanha de Obama com a de Salvador Allende, e até com Hitler (!), afirmações de que o "obamismo" é uma traição à América que só pode ser impedida pela "grande mulher" Sarah Palin, e ainda com acusações de que haverá votos comprados. Desaparecido há alguns dias, o incrível André Pessoa (bastas vezes secundado por Nuno Lobo) brinda-nos no seu último post sobre o assunto com a fantástica ideia que Andrew Sullivan, um dos mais conhecidos bloggers conservadores dos EUA, representa "a loucura da esquerda americana". E mais abaixo deixa-nos outra pérola: "se apoiantes de McCain inventam ataques e precisamente porque o ambiente e de terrivel hostilidade". Estão justificadas todas as invenções possíveis e imaginárias: "um ambiente de terrível hostilidade". Decerto que os comícios onde Sarah Palin acusa Obama de terrorismo e logo surgem alguns apaniguados a gritar "mata", além daqueles que acham que o democrata nem sequer é americano, e que os simples nomes Obama e Hussein o tornam logo num perigoso islamista, não cabem no conceito de hostilidade de Pessoa. Pelo contrário, são plenamente justificadas. O que eu gostava de saber é se algumas invenções da campanha de Bush contra McCain nas primárias de há oito anos também tiveram lugar num "ambiente de terrível hostilidade".

A única coisa que se conclui é que todo este desespero perante a derrota provável (mas não certa) do candidato do partido que levou os Estados Unidos ao atoleiro nos últimos anos revela, parafraseando o notável André Pessoa, a loucura de alguma direita portuguesa.

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