No percurso brilhante do Benfica esta época, a derrota em Liverpool acabou por ser atípica. Há meio ano que o SLB não perdia um jogo, em prova alguma. E mesmo assim, a dez minutos do fim estava a um golo de se classificar. A disposição dos defesas, em que apenas Luisão estava no seu lugar, a deficiente condição física de alguns jogadores, um guarda-redes inexperiente contribuíram para o resultado. Depois, um Liverpool com absoluta necessidade de ganhar e um Fernando Torres com espaço fizeram o resto. O segundo e terceiro golo são excelentes e rapidíssimas jogadas de contra-ataque, com trabalho estudado de equipa e passes de primeira. O Benfica, que até tinha começado bem, teve uma ou outra oportunidade desperdiçada e marcou com um livre directo superiormente executado por Cardozo. Depois veio o tal lance em que Júlio César sofreu um traumatismo craniano, e um Moreira ainda frio apanhou com o golpe final do espanhol do costume. Acabou aí o jogo e a eliminatória. O Benfica sofria um desaire justo mas demasiado pesado para o que se passou em campo. Arriscou e pagou por isso.
Claro que não é por essa razão que a boa carreira europeia, que teve o auge na vitória em Marselha, será esquecida. É pena, mas não mais do que isso, embora o número seja desagradável. É bom não esquecer que só à quarta tentativa é que Rafa Benitez conseguiu não perder com o Benfica. O confronto recordou algumas páginas dos anos oitenta, em que o clube da cidade dos Beatles era então a equipa mais forte da Europa, e se defrontou com o Benfica por várias vezes, sempre levando a melhor. Mas apesar da superioridade dos ingleses, nem por isso a equipa portuguesa ficou desprestigiada ou esquecida, como testemunhou há dias o mítico Ian Rush, fenomenal avançado e símbolo do Liverpool daqueles tempos. Há quatro anos, os Reds eram campeões europeus, mas dois golos fabulosos de Simão Sabrosa e Micolli fizeram estrondo perante o público da Kop. Agora, aconteceu o inverso da medalha. A prioridade era o campeonato, como Jorge Jesus se fartou de dizer, mas é sempre pena perder assim.
Fica o amargo de boca, a convicção de uma boa campanha europeia, e a confirmação de que Saviola faz mesmo imensa falta. Facto curioso: Cardozo, com dez golos, ainda pode acabar como o melhor marcador da Euroliga deste ano.
2 comentários:
O resultado e as exibições das 2 equipas reflectem a diferença entre o futebol inglês e o português. O resto é circunstancial.
Em condições competitivas idênticas, por exemplo jogando o mesmo número de jogos por mês, qualquer equipa média inglesa ou espanhola ganha às melhores portuguesas,por 2 ou 3 golos de diferença, 9 em cada 10 jogos. E se precisasse de ganhar por 4, apertava e ganhava mesmo.
Filipe Travassos
Não exageremos. Talvez com o Chelsea e o Manchester United. Mas não faltam exemplos recentes de triunfos portugueses sobre ingleses. Mesmo a goleada do Arsenal sobre o Porto não é normal.
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