Falou-se tanto nestas últimas semanas sobre o WikiLeaks e o seu mentor, Julian Assange, que pouco ficou para dizer. Há opiniões contra, a favor e assim-assim. Falar de todo o caso tornou-se um exercício quase repetitivo. O que é que se pode dizer do fenómeno? Que tanto pode ser útil e realmente justo, como quando denuncia delitos praticados por estadistas, fraudes monumentais e crimes encobertos, como demagógico e perigoso, ao desvendar tudo quanto os diplomatas enviam nas suas missivas. Faz com que a tensão cresça desnecessariamente entre os estados. Os defensores furiosos do WikiLeaks referem a "hipocrisia" dos diplomatas; custa-me a crer que tenham sempre dito na cara o que realmente pensam das pessoas, que nunca tivessem dito nada de menos abonatório na ausência do visado ou que não se importem de ver a caixa de correio devassada.
Quanto a Assange, o homem do momento (e do Ano), é óbvio que a sua prisão por "delitos sexuais" não convence nem a velhinha do 3º Direito e é uma desculpa esfarrapada para o deter. Mas aquela face aparentemente calma desvenda um auto-intitulado profeta da informação verdadeira, uma espécie de pregoeiro messiânico da net, anunciando o pior dos tempos aos americanos, e apenas a esses. Alguém que acha que tem uma missão atribuída por sabe-se lá que divindade e a quer levar a cabo contra a Babel americana, desprezando a diplomacia e as relações internacionais. Esse homem, evidentemente, é um fanático. A maioria dos fanáticos messiânicos apresenta uma figura calma e uma voz melíflua (Hitler era uma excepção). Na dúvida, estou do lado contrário ao dele.
PS: ao menos o caso serviu para alguma coisa: por exemplo, para ganhar ainda mais consideração pelo actual MNE, que soube conservar as alianças sem deixar cair princípios básicos. Sim, falo dos voos americanos.
Um comentário:
Não sei muito bem onde é a fronteira da liberdade da informação mas de certeza que não será no terreno onde a Wikileaks tem actuado. A sua política de terra queimada substitui o jornalismo pelo voyeurismo da opinião pública, ao melhor estilo de se saber qual é a cor do papel higiénico que os diplomatas usam. Como se não houvesse segredo de estado nem a diplomacia não fosse um manual de boas maneiras. Reconheço o papel relevante de Julian Assange na denúncia das violações de direitos humanos mas a sua organização acaba por fazer o mesmo que tanto a sua missão divina e protagonismo reclamam: espiar.
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