domingo, janeiro 16, 2011

A arma dos pequenos

Nestas eleições presidenciais marcadas pelo total deserto de ideias e pelas acusações quasi pessoais, a única coisa que me tem interessado é o folclore e as frases para recordar. Mas mesmo aquele tem andado em baixo (ao contrário das frases, que as há para todos os gostos), com pouca adesão e desfiles tristonhos. Um dos que tem lutado contra essa taciturna corrente é José Manuel Coelho, que mesmo com poucos apoios lá conseguiu chegar à última ao boletim de voto. O deputado regional da Nova Democracia é simultaneamente cínico e bonacheirão, usa uma palavreado simples e populista, mas eficaz, e as suas acções desconcertantes granjearam-lhe alguma popularidade ( aposto que maioria das pessoas o identifica mais depressa do que a Francisco Lopes, por exemplo). Saliente-se que é o primeiro madeirense a candidatar-se ao cargo, o que diz muito da qualidade de políticos do arquipélago.


Um dos grandes propósitos de Coelho é ganhar notoriedade para afrontar Alberto João Jardim, já com as eleições regionais deste ano à vista. Uma sondagem recente colocava-o como o mais bem posicionado para derrotar o eterno "Bokassa" da Madeira, à frente dos líderes do PS. É curioso notar como a oposição mais eficaz ao "jardinismo" parte exactamente de movimentos mais marginais, ou menos notórios a nível nacional. Em tempos, a UDP assumia esse papel, obtendo bons resultados eleitorais (à frente do PCP, por exemplo, cujo espaço ideológico na prática ocupava), e tendo mesmo conquistado a câmara do Machico, com o célebre Padre Martins Júnior, um clérigo incompatibilizado com a Diocese do Funchal, que nos anos oitenta era o rosto daquele formação de esquerda radical, antes se passar para o PS. Depois, a UDP dissolveu-se no Bloco de Esquerda e perdeu grande número de votos, e com isso visibilidade.

Agora, é a Nova Democracia que ocupa esse papel. O partido que Manuel Monteiro formou como dissidência do CDS-PP não teve grande êxito no país, na sua intenção de passar à frente de Paulo Portas. Mas na Madeira, o cunhado de Monteiro e um punhado de opositores a Jardim conseguiram entrar no Parlamento Regional com as cores do PND, fazendo desde então uma oposição mediática e subversiva, que mostrou bem mais do que os adormecidos partidos tradicionais. Essas facetas acentuaram-se com a entrada de um dos responsáveis do jornal satírico madeirense (e anti-Jardim) O Garajau, José Manuel Coelho, que protagonizou o célebre episódio da bandeira nazi, entre muitos outros.
É com humor, histrionismo e subversão que as pequenas formações partidárias captam atenções e votos. A Nova Democracia conseguiu-o num contexto regional. Não deixa de ser irónico que possa obter maior visibilidade a nível nacional não com Manuel Monteiro, outrora o rosto da direita em Portugal, mas com um candidato que militou no PCP e que se diz ainda "comunista"

Um comentário:

Carlos CastRo! disse...

Antes este na "mão" que os outros no "poleiro"