quinta-feira, março 24, 2011

Os anti-portugueses cá da terra

 
Sobre o discurso de Cavaco Silva dos cinquenta anos da Guerra colonial, fico um pouco dividido. O entusiasmo e a determinação da grande maioria dos soldados que ia para África, onde nunca antes tinham posto os pés, não deviam ser muito elevadas. Nesses aspecto, as palavras de Cavaco foram despropositadas.

Mas piores terão sido as reacções de Louçã e restantes camaradas ideológicos, que logo se apressaram a vir com as palavras de ordem do costume. O "anti-colonialismo" e a "denúncia da fascismo" este sempre presente. Nunca lhes ouvimos, no entanto, uma palavra de consolo a todos os que viviam em África e tiveram de fugir com a roupa do corpo, sob o perigo de acabar a golpes de catana. Como aconteceu às vítimas dos massacres da responsabilidade da UPA de Holden Roberto, detonador da guerra. Também sobre esses não lhes ouvimos palavras de condenação.

Podemos achar que não se conduziu bem a guerra, que Portugal terá sido muito intransigente, que era apenas uma questão de tempo e que as colónias (ou províncias ultramarinas) acabariam por se separar. Da minha parte, acho até que se justificava muito mais a deslocação de tropas para a Índia portuguesa, que não tinha mais a ver com a União Indiana do que com Portugal, e que mais não era do que uma troca de colonialismos.

O que não se pode é negar que as hostilidades em Angola começaram com horrorosos massacres da UPA - depois FNLA - nos territórios perto do Zaire, nos quais morreram milhares de pessoas (brancas e negras), além de uma quantidade infinda de outros horrores. E que perante isso, tornava-se imperioso usar a força e reagir militarmente - alguém acha que se podia simplesmente "negociar" com gente daquela? Ao que parece, há em Portugal quem ache que esses milhares de portugueses mortos nada valiam, e que em nome do anti-colonialismo tudo era legítimo, até as mais horrorosas barbáries. É assim, a "Culpa do Homem Branco" conjugada com "causas nobres" e a "solidariedade dos povos oprimidos": gera as mais ignóbeis criaturas, que não hesitam em trair os compatriotas. Se é que estes os podem tratar assim.

3 comentários:

A.Teixeira disse...

Sucintamente, João Pedro, suponho que andar à procura de razoabilidade nas opiniões de “Louçã e restantes camaradas ideológicos” – arrisco-me a acrescentar seja qual for o tema – será o equivalente a ir esperar um comboio para uma paragem de autocarro… Vai tomar-lhe muuuito tempo.

Por outro lado, gostaria de lhe chamar a atenção para as limitações da sua alusão aos acontecimentos do Norte de Angola 1961 como pretexto para as acções militares subsequentes. Como portugueses, sendo a mesma potência colonial, tendemos a pensar as três guerras em conjunto quando na verdade estamos a tratar com três nacionalismos distintos e cada um dos países em guerra seguiu a sua via depois das independências.

Em rigor, os argumentos que usou para a situação angolana não se deveriam aplicar à Guiné (onde a insurreição armada começou dois anos depois) e a Moçambique (um ano depois do da Guiné). Contudo, como sabe, a reacção portuguesa foi rigorosamente a mesma. Não se continuem a invocar os massacres da UPA para não se “ter podido” negociar – nunca se “quis” negociar e foi por isso que a História evoluiu como evoluiu.

João Pedro disse...

Eu apenas defendi a razoabilidade 8e necessidade) de uma intervenção obrigatória no caso angolano por causa da extrema violência e mortandade das acções da UPA naquele caso em concreto, e não nos casos da Guiné e Moçambique, onde havia líderes independentistas bem mais predispostos ao diálogo, como amílcar Cabral e Mondlane - curiosamente, ou não, ambos assassinados.

A.Teixeira disse...

Não duvido que tenha sido essa a sua intenção João Pedro mas, relendo mais uma vez o que escreveu, nada ali distingue explicitamente entre a justificação do que seria uma solução militar táctica - e limitada no tempo! - para um Teatro de Operações (o TO de Angola) e o que seria uma política colonial geral, aplicada em todas as colónias.

Ora, porque fundamentais, sou de opinião que essas precisões precisam de estar sempre explícitas.