De súbito, o regime verde da Líbia caiu como um castelo de cartas. Seis meses de guerra civil, que começou com a revolta a partir de Bengazi, prometendo sucesso rápido, seguida da resposta das forças do regime, que quase aniquilaram os rebeldes, não fosse a intervenção da NATO e a destruição do armamento pesado das tropas leais a Kadhafi. Depois, tímidos avanços dos revoltosos, de tal forma que a Líbia deixou as primeiras páginas e em breve quase nem se falava do conflito que minava a antiga colónia italiana. Até que de súbito os rebeldes fizeram notáveis avanços. Aproveitando o enfraquecimento das forças do regime e seus mercenários, minadas pelos ataques cirúrgicos vindos do ar, abriram caminho e entraram em Trípoli. O cenário verificado em Fevereiro cumpriu-se, enfim. Por terra, com o auxílio dos apelos do clero islâmico, e também por mar, em que forças vindas de outras cidades completaram o cerco, provavelmente com auxílio de meios navais da NATO. Embora houvesse alguma resistência, os pontos fulcrais, como os meios de difusão, foram prontamente tomados. Quando o aeroporto e o complexo de habitação de Kadhafi ainda resistiam, a Praça Verde, local simbólico onde o regime verde organizava as suas "manifestações" de apoio, era ocupada pelos rebeldes. Depois disso, percebia-se que o regime tinha caído. Era, e é, só uma questão de dias.
Quando apenas Sirte ergue a bandeira verde, pergunta-se onde estará Kadhafi e seus filhos, subitamente evaporados. A hipótese mais provável é que esteja acantonado em parte incerta. Duvido que tenha fugido para o estrangeiro - para o feudo do amigo Mugabe, por exemplo, ou para a Venezuela - e será mais provável que esteja em Sirte ou noutro ponto da Líbia. Ver-se-à agora se resistirá até ao fim, como prometeu, e perecerá em combate, ou se fugirá para um estado "amigo", juntamente com a sua família. Os milhões do petróleo que acumulou durante quarenta anos devem ser suficientes.
E a nova Líbia? Até agora, tem-se conseguido razoavelmente evitar pilhagens e vinganças. Com ajuda internacional e o descongelamento de contas avultadas, o país tem recursos para se reerguer. Resta conseguir formar um novo sistema político, obter acordos e consensos entre tribos, reconciliar Tripoli com Bengazi unir o país. Depois de décadas de regime "verde" personificado no coronel, será uma tarefa difícil. Mas é possível, com a representação dos vários grupos e tribos nas decisões do país. E já que se restaurou a antiga bandeira dos Senussis, porque não restaurar a monarquia dos mesmos? Tivesse Kadhafi falhado o golpe de 1969, e quem sabe o que seria a Líbia de hoje? A solução para a união da país pode e deve passar pelo regresso da dinastia e dos reis que lhe deram a independência.