O resultado das primárias do PS impressionou pela mobilização e pela robustíssima vitória de António Costa. Negá-las é desviar a realidade dos olhos ou inventar desculpas de mau pagador. Pode-se achar que o PS se dividiu, que se lavou a roupa suja em público, que tem de conquistar o país, etc, mas é inegável que com as primárias (e todos os seus passos em falso) o partido marcou pontos e que António Costa tem uma posição extremamente sólida. Depois de ser deputado, eurodeputado, ministro (três vezes) e presidente da câmara de Lisboa (até quando?), Costa consegue chegar ao topo do partido, com amplas hipóteses de no futuro próximo levar o PS de novo para o governo. Tem, é claro, os seus anticorpos, a imagem à frente da capital não é tão positiva como isso e terá de gerir muito bem as divisões partidárias, em especial a herança socratista, e dar credibilidade ao PS, que bem precisa dela. Mas não se duvide: com este resultado esmagador, ainda mais legitimado com os votos dos simpatizantes, só muito dificilmente é que António Costa não será o próximo Primeiro-Ministro de Portugal.
Já agora, uma das frases da noite, em que pouca gente reparou, devia ser a declaração de Jerónimo de Sousa: o secretário-geral do PCP acha que "estas primárias foram uma farsa". Ouvir o líder do partido mais fechado de todos, onde o debate é nulo e os dirigentes escolhidos antes de serem eleitos (por unanimidade) criticar umas eleições, que, com todos os seus defeitos se tentou abrir à sociedade portuguesa, é de rir à gargalhada e de perguntar a Jerónimo se acha que tirando o militantes do PC, alguém acredita naquilo. Éo mesmo que comparar o "referendo" na Crimeia com o da Escócia. Jerónimo provavelmente acha que este último também é "uma farsa". E ainda há quem sonhe com a "união das esquerdas".