Em 1934, Almada Negreiros e Sarah Afonso passaram férias de Verão em Moledo, em casa de António Pedro, antes deste se mudar definitivamente para a aldeia minhota, onde morreria em Agosto de 1966. Entre idas ao areal e convívios vários entre outras figuras das artes e das letras, criaram-se numerosos programas. Um deles consistiu numa ida de barca à Ínsua (para quem não saiba, é uma ilhota entre a desembocadura do rio Minho e a praia de Moledo, face a o início de Espanha) e um piquenique. À vinda, as condições do mar, que ali tem correntes traiçoeiras, iam provocando sérios problemas ao barco, mas tudo se resolveu. Isso inspirou Almada a criar um pequeno filme animado, em formato "lanterna mágica", com 64 desenhos em papel de seda, mudo e com legendas, recriando o quase-naufrágio, e produzido pela efemeramente inventada "Moledo Filmes", para animar os serões de convívio. "O Naufrágio da Ínsua" esteve todos estes anos escondido do público e dos especialistas, até ser reencontrado e exibido agora na monumental exposição na Gulbenkian, até 2 de Junho, e que mostra 400 obras de Almada, das mais icónicas e reconhecíveis às até agora desconhecidas, como este simpático inédito de animação que pode ser visto no piso de baixo. Um aviso: a exposição não se despacha numa simples hora. Vale a pena visitá-la com calma. Permite-nos revisitar Almada e os seus estilos diversos, conhecer novas obras e até saber que já nos anos trinta Moledo era destino de férias e de encontros entre as gentes das artes e das letras, muito antes de se tornar a praia conhecida que é hoje, tantas vezes caricaturada como apenas um local ventoso e elitista.
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