terça-feira, fevereiro 14, 2017

Diz que sou um terrorista


Fiquei ontem a saber que sou um terrorista (sem aspas), um ultraconservador e um "manipulador de imagens chocantes" para "sujeitar maiores e menores a uma distorção obscena da realidade". Toda essa acusação consta do artigo de Alexandra Lucas Coelho no Público de segunda-feira. Já tinha reparado num certo radicalismo fracturante da colunista do diário (então ela não tinha sido despedida?), mas nunca tinha pensando que para ela, as pessoas que, como eu, defenderam o "não" nos referendos ao aborto - e eu fi-lo tanto em 1998 como em 2007 -  eram terroristas. Sem tirar nem pôr. Já agora, por esse critério, o actual Presidente da República e o SG da ONU também constam do rol. Para além da virulência dos termos, há outros dois aspectos que sobressaem: um é a não aceitação de resultados eleitorais que a desgostem, como prova ao dizer que a vitória do "não" em 1998 fazia crer que Portugal não era um estado democrático nem laico (ou seja, para Lucas Coelho se os resultados não forem os que pretende, então já não são democráticos, e o facto de as pessoas exprimirem valores de origem religiosa é em si mesmo um atentado à laicidade do estado); outro é a maneira como atira grosseiramente aos outros aspectos que mais depressa se colariam ao seu "lado": a tal manipulação de imagens chocantes", que se bem entendo, eram as diferentes formas de realizar abortos. As imagens podiam causar choque, mas não eram falsas nem sujeitas a alterações de fotoshop. Já inúmeros cartazes a favor do "sim" eram recriações grotescas, sobretudo os da autoria do PSR (pouco antes da formação do Bloco), com óbvios intuitos anticlericais (mas então a laicidade...?)

Resultado de imagem para cartazes aborto psr

O que resta é que, dez anos depois do referendo que lhes deu a vitória, e mesmo recusando absolutamente qualquer outra hipótese de tal instrumento de voto directo, alguns vencedores de então continuam a mostrar uma incrível raiva pelos que pensam de outra forma, ainda por cima com argumentos da mais primário desonestidade intelectual acompanhados de insultos infantis. Daqui não pode sair nenhuma discussão válida. E continuam, na sua arenga, sem fazer uma, mas uma que seja, referência ao cerne da questão: áqueles a quem tiram o direito de nascer.

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