O sr. Erdogan, que tenta a difícil combinação de sultão com Ataturk, mandou prender recentemente milhares de militares, professores, magistrados e outros cargos supostamente mancomunados com o ex-aliado e actual pior inimigo Gullen, está com ideias de restaurar a pena de morte, persegue os curdos a ponto de poupar o DAESH e procura reforçar ainda mais os seus poderes através de um referendo próximo. Munido deste historial democrático, e para garantir mais votos, encarregou os seus ministros de fazerem uma digressão de propaganda pela Europa para participarem em comícios com as numerosas comunidades turcas que vivem na Alemanha e na Holanda. Como se sabe, os enviados governamentais foram impedidos pelas autoridades locais de fazerem campanhas em países que não o seu próprio, o que levou a veementes protestos por parte da Turquia e a que o próprio presidente apelidasse os holandeses de "racistas", "nazis", "covardes", etc, ao mesmo tempo que exigia pedidos de desculpa e que pedia sanções contra a Holanda. Entretanto, manifestantes turcos protestaram nas ruas de Amsterdão e Roterdão, antes de serem escorraçados pela polícia, o que serviu para novas ameaças de Erdogan.
Um absurdo próprio da época em que vivemos, bem ilustrativo dos já tão famosos "factos alternativos": um presidente prepotente e autoritário, com historial duvidoso no que ao respeito pelas liberdades fundamentais diz respeito, a insultar e ameaçar um país com uma democracia sólida e que se limitou a fazer cumprir as suas regras de forma exemplar (sem precisar de populistas como o sr. Wilders). Para mais, sabe-se que na Turquia não são permitidos comícios políticos feitos por emissários estrangeiros, e que os partidos curdos têm passado por inúmeras dificuldades sob a bota de Erdogan e dos seus sucessivos governos. De resto, um regime que permitiu deliberadamente que o DAESH entrasse nas suas próprias fronteiras a chamar "terroristas" à Alemanha e à Holanda, ou que chama indiscriminadamente "nazis" quanto perpetrou o primeiro genocídio do séc. XX sem que o tenha até agora reconhecido é o cúmulo dos cúmulos do descaramento. Definitivamente, Erdogan julga-se um novo sultão otomano, até na forma como ameaça a Europa ou se permite fazer propaganda agressiva nas ruas de outros países. Esperemos que não haja Lepantos, cercos a capitais e outras coisas que julgávamos próprias de séculos passados. E os sultões de outrora eram certamente mais diplomáticos do que esta cópia barata.
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