Rui Rio ganhou a liderança do PSD, como se começou cedo a perceber, à medida que os números da votação iam saindo cá para fora. Facilmente se adivinhava que ganhando praticamente todos os distritos do norte e centro do país (faltou Coimbra e Lisboa, insuficiente para dar a volta), onde está a maioria da população e o grosso dos votantes do PSD, que a vitória já não escaparia a Rio.
Como disse no outro post, o antigo presidente da CM Porto está longe de ser um génio político, uma figura redentora ou um estadista de alta craveira. É rigoroso, firme, possivelmente bem intencionado, mas não será, salvo grande surpresa, o salvador por que os militantes do PSD tanto esperam. Dificilmente ganhará a António Costa nas próximas eleições, a não ser que algo de surpreendente se passe (e a verdade é que em 1984 ninguém imaginava Cavaco no poder pouco tempo depois, tal como ninguém imaginaria em 2004 ver brevemente Sócrates à frente do governo). Pode acontecer que o PS ganhe com maioria relativa e precise do PSD para viabilizar um governo, permitindo assim a perda da influência da extrema-esquerda, um dos objectivos de Rio. De qualquer forma, estranho a tentativa de colagem de Rio à esquerda: é verdade que em matéria de costumes é mais libertário, mas quando esteve à frente da câmara do Porto, distinguiu-se pelo rigor nas contas e pelo baixo despesismo e investimento público, por uma postura autoritária e por desdenhar da cultura, o que o tornou num dos alvos preferidos da esquerda (e se pensarmos que o BE portuense é em grande medida constituído por actores e sociólogos...).
Mas entre Rio e Santana a escolha era óbvia. Parece incrível como é que em 2018 ainda haja gente a seguir o "menino-guerreiro", mas a verdade é que ainda conseguiu uns incríveis 46% dos votos. Mesmo depois do seu curto e desastroso governo, da sua errância, de quase nunca cumprir um projecto até ao fim e de os deixar sempre um legado endividado, e de já ter perdido uma eleição com António Costa em 2009 (que devia ser uma mancha no currículo mais que suficiente para nem se apresentar), ainda há muito quem acredite nele. Será por amizade, por ingenuidade, por ódio a Rio? Todas essas razões são válidas, mas 46% é muito.
Seja como for, o PSD pode gozar agora de um período de maior sanidade, mas não terá certamente a vida fácil nem gozará de um estado de graça.
Quanto a Passos Coelho, resolveu, e bem, sair do parlamento. Deve fazer a correspondente travessia política no deserto. Veremos o que o futuro lhe reserva.
Já agora, a razão para se prever que Rio seria o novo líder do PSD é que até já havia um hino que lhe era dedicado. Caramba, os autores destas causas tinham certamente dons premonitórios: é que já me lembro de ouvir isto desde as "ondas laranjas" de Cavaco Silva.
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