segunda-feira, janeiro 22, 2018

Promessas ultrapassadas pelas confirmações


Estas recordações sobre os Cranberries levaram-me de novo aos anos noventa e à ascensão de novos grupos pop-rock. Sempre achei curiosos os casos das next big thing que surgem prontas a conquistar o Mundo e que subitamente são ultrapassadas e atropeladas por grupos por quem pouco se dava à partida. É o caso dos James, de quem já aqui escrevi, sobre quem paira uma engraçada "maldição", a de terem tido amiúde bandas a fazer as primeiras partes dos seus concertos e que depois se tornam maiores do que eles próprios (como os Radiohead, os Nirvana ou os Coldplay). Mas não são, longe disso, casos únicos.

Aí por 1992 ou 1993, em tempos de pré-Britpop, em que o Grunge era rei e senhor da cena pop-rock mundial, os britânicos andavam cabisbaixos, à procura de algum destaque num meio em que, terminado o shoegazing, e vulgarizado o madchester, pareciam condenados à decadência. Apareciam inúmeros grupos a tentar marcar a sua própria diferença. Uns eram aproveitáveis, outros nem tanto, e outros levavam os áugures do meio a rotundos enganos.

Aconteceu isso mesmo com os Kingmaker, um grupo prometedor, que supostamente iria conquistar os tops de vendas e marcar o som da pop britânica. Mas as coisas não correram pelo melhor, a popularidade que esperavam não chegou (como se pode ver pelo reduzido número de visualizações no videoclip mais abaixo) e o grupo acabou por se separar poucos anos depois.

Porque é que isto me veio à memória à boleia dos Cranberries? Porque, por alguns testemunhos que vi, os Kingmaker realizaram alguns concertos onde tinham, como banda suporte, um grupo londrino chamado Suede, que deram bem mais nas vistas que os próprios cabeças de cartaz. Como se sabe, os Suede, que começaram com um som glam-rock muito devedor de Bowie e dos anos setenta, tornaram-se num dos grupos fundadores e essenciais da Britpop e um dos mais amados no Reino Unido. Ou seja, eram eles próprios a next big thing do momento, com melhoresresultados.


Mas provaram um pouco do mesmo "remédio" atrás descrito: partiram para uma digressão nos Estados Unidos, levando uma pouco conhecida banda irlandesa para fazer as primeiras partes, uns certos Cranberries. Ao contrário do que esperavam, os ingleses passaram quase despercebidos no Novo Mundo, enquanto que os irlandeses e a voz de Dolores O´Riordan atraíram as atenções dos americanos, que começaram a fazer passar as suas músicas, como Linger, na MTV, e obtiveram logo um sucesso considerável que os catapultou para a fama. Os Suede foram olimpicamente ignorados e tiveram de se conformar em ser populares deste lado do Atlântico, sobretudo na terra de origem, onde durante bastante tempo continuaram a atrair as atenções sempre que lançavam um novo trabalho.

Quanto aos Kingmaker, desapareceram por completo. Provavelmente dedicaram-se a outras actividades que não a música. Deixaram apenas um rasto da sua existência na net, sobretudo no Youtube, para que possam ser recordados.



PS: nem sempre os Suede conseguiram ultrapassar os grupos cujos concertos abriam. partes. Na estreia dos REM em Portugal, em Lisboa, que tive a felicidade de ver, fizeram a primeira parte mas nem de perto chegaram ao seu nível. Mas sendo uma bela junção, reconheça-se que eram demasiado bons para serem um simples brinde.

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