É a notícia do dia: Ronald Reagan, o "falcão anti-soviético", morreu ontem aos 93 anos depois de uma prolongada e degenerativa doença. Na sua grande maioria, os blogs lamentaram a perda do que consideraram "um dos maiores presidentes de sempre dos EUA".
Peço desculpa, mas discordarei dessa opinião maioritária. Lamento a sua morte, como lamentarei a de qualquer ser humano, embora talvez fosse o que melhor lhe podia ter sucedido, já que vivia num estado absolutamente comatoso há já largos meses. Mas não posso concordar com aqueles que o consideram o vencedor da Guerra Fria, ou pior ainda, um paladino da Liberdade.
Quanto à segunda recordarei apenas a aviltante invasão a Granada, o apoio aos combatentes islâmicos do Afeganistão (a antecâmara da Al-Qaeda), o sustento aos Contras da Nicarágua e El-Salvador, na tentativa de restaurar regimes brutais que apeassem os sandinistas
do poder (também eles ditatoriais, mas num registo bastante menor), e, last but not least,as relações de amizade que estabeleceu com o Iraque de Saddam, no fito de combater o Irão recém-Khomeinizado, não hesitando em armar até aos dentes o carniceiro de Bagdad, mesmo conhecendo o carácter do seu regime.Isto para além do sonho megalómano da "Guerra das Estrelas", do apoio incondiconal à sua versão feminina Tatcher,e aos bombardeamentos da Tripoli de Khadafi, o único acto com que verdadeiramente posso concordar (embora não tivessem o aval da ONU), já que começou aí a inflexão do ditador líbio, com os resultados que se conhecem hoje. Eis as traves mestras da política internacional de Reagan, e da sua propalada liberdade.
Relativamente ao facto de ter sido o vencedor da Guerra Fria, só posso dizer que tal pensamento é uma perfeita injustiça para com Gorbatchov, João Paulo II, Walesa, e tantos outros que puganaram pelo fim da tirania comunista. Reagan era o presidente da altura, é certo. Empreendeu um programa de "Guerra das Estrelas" para subverter a URSS. Para sua sorte apareceu aos comandos desta o homem do famoso sinal na careca, que se dispunha a proceder ao degelo e a trazer a perestroika à Praça Vermelha. Hoje em dia está na moda tratar Gorbatchov como um derrotado. Mas se no seu lugar surgisse um duro estalinista, quem sabe o que poderia ter acontecido? Quem nos diz que uma animosidade crescente não teria degenerado numa guerra apocalíptica? Ronnie apenas colheu os louros das circunstâncias; mas o mérito, esse, coube sobretudo a Gorby e a outros já aqui referidos.
Nem vale a pena falar dos resultados das políticas internas dos EUA durante os anos 80, sobretudo no que à economia diz respeito. Se o sentimento patriótico dos americanos se elevou imenso, o mesmo não se poderá dizer da sua situação financeira,como resultado da estrita aplicação das teses dos Chicago Boys. Viu-se no que deram...
Paz a Ronnie. A paz que negou a tantos outros. E a que qualquer homem ou mulher têm direito.
Já há muito tempo que por aqui não passava. Mas as novidades arqueológicas e as histórias envolvendo galeões, corsários e naufrágios que Alexandre Monteiro exemplarmente conta valem algumas visitas mais assíduas.
Serralves...Eis o verdadeiro motivo de orgulho dos portuenses. A referência cultural de toda uma cidade (e das mais relevantes a nível nacional) completou 15 anos de Fundação e 5 de museu. Os parabéns deram-se durante 40 horas seguidas, em que o público em geral entrou gratuitamente no parque e no museu, estabelecendo um são convívio onde se viam sofás vermelhos nos jardins, entretenimento infantil, provagem de flores (!), música ao vivo, etc. À noite havia ligeiras transmutações, com o ténis coberto por uma tenda própria para o evento, onde um qualquer DJ renomado passava dance-music inesgotável, à sombra das árvores que caracterizam o enorme parque e da disceta colunata da casa de chá.
As habituais exposições de arte estiveram também expostas nesse fim-de-semana non stop, após as quais se podia ir comer um qualquer prato na cafetaria do museu, do alto da qual se avistava boa parte dos jardins e a coluna de gente a bater em retirada da festa ás primeiras horas da manhã.
Embora não tenha ficado completamente satisfeito, agradou-me a experiência de vaguear pelo belíssimo parque à noite, que apesar de encoberta exibia uma claridade fora do vulgar (claro que a iluminação artificial ajudava). O tom mágico do arvoredo, dos lagos, dos jardins de buxo e das esculturas era digno de um qualquer livro juvenil de Sophia De Mello Breyner; tais obras, como "O Rapaz de Bronze" ou "A Floresta", essenciais quando aprendia as primeiras letras,podiam ter sido inspiradas ali, ou não fosse a autora natural deste mesmo Porto, e habitasse uma casa a poucas centenas de metros dali. Fosse como fosse, era um cenário fantástico e quase irreal; abençoados mecenas que se lembraram de comprar esta imensa propriedade, impedindo que a mesma fosse posta à disposição de um qualquer grupo de patos-bravos sem alma.
Ao que parece, eventos semelhantes serão repetidos, com outros pretextos, talvez até no próximo Verão. Os portuenses agradecem. E regozijam-se por haver um lugar como Serralves, como elemento purificador da sua cidade.
Muitos perguntam qual será o futuro de Secretário, o insigne ex-jogador do FCP que há semanas se sagrou campeão da Europa pela 2ª vez (por incrível que pareça já o tinha conseguido pelo Real, também aí sem jogar, claro). Julgo que tenho a resposta: é que o dito ex-futebolista há dias entrava e saía incessantemente da Ordem dos Advogados do Porto, o que me levou a pôr duas hipóteses: ou se prepara para uma vida de douto jurista; ou então estagia para ocupar uma função pouco mais ou menos coincidente com o apelido. São palpites...
segunda-feira, junho 07, 2004
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