Reflexões sobre o Domingo que acaba
Como se previa, o PS ganhou as eleições à coligação Força Portugal, ou PSD-CDS/PP. Menos previsível terá a sido a diferença de resultados, à roda dos 11%. O PS pausadamente colheu os louros e apontou Durão Barroso como sendo o "pai da derrota".
Embora o líder de qualquer movimento seja à partida o responsável moral pelas derrotas que venha a sofrer, parece-me que o(S) verdadeiro(S) culpado(S) é outro, e o seu nome é Paulo Portas, na companhia do seu partido. Mais do que quaisquer outros, os populares (populistas?)foram sem a menor dúvida a causa máxima da derrota da coligação de centro-direita. Que ninguém pense o contrário: a impopularidade de Portas, não só nas Forças Armadas mas a nível geral, a incapacidade do PP resolver as questões nas quais tem responsabilidades políticas, o tom arrogante e militarista e sobretudo o nível apresentado nesta campanha eleitoral ditaram os resultados dos partidos governamentais. E caso não tivessem concorrido coligados, quem sabe quão grande seria o tombo do PP, ou o alívio do PSD.
De qualquer forma, e porque não acredito que a morte do Prof. Sousa Franco tenha tido grandes efeitos práticos, o PS terá ganho as eleições sobretudo por demérito da coligação, e não tanto por um incrível poder de atração do eleitorado. Tal como há dois anos, quando o poder caíu nas mãos de Durão Barroso por culpa dos socialistas.
À esquerda, a CDU conseguiu aguentar-se, em boa parte por causa da energia de Ilda Figueiredo e Odete Santos, uma vez que os militantes carismáticos vão rareando.
O Bloco de Esquerda é um dos grandes vencedores, ao aumentar significativamente a votação e eleger Miguel Portas (também no PE haverá rotatividade?). Pela euforia que se viu entre os bloquistas, é de crer que comemoraram os resultados com uma distribuição grátis de Cannabis e cerveja (ou shots, talvez).
A ND ficou ainda mais abaixo do que se previa, com o histórico MRPP à sua frente. Claro que Manuel Monteiro retorquiu com o esperado "nas legislativas elegeremos deputados", entre outras coisas, mas só ele não deve ver o pouco entusiasmo que despertou no eleitorado. Veremos qual o futuro da ND.
Já agora, realço os mais uma vez baixos números do PPM, muito longe dos tempos de Ribeiro Telles e MEC (com o incrível e patético comunicado sobre a morte de Sousa Franco), e o resultado residual daquele partido proto-fascista que diz ter o apoio de Le Pen, mas que só bateu o micaelense PDA e o POUS, que como se sabe tem apenas como militantes Carmelinda Pereira e Aires Rodrigues.
As frases tontas da noite ficaram reservadas para Luís Filipe Menezes, que culpou entre outros Rui Rio pela derrota da Força Portugal, mostrando quão preocupante é a sua Riofobia, o que me faz pensar que o autarca de Gaia nem seque é capaz de pôr um pé no Porto; e, mais uma vez, Monteiro, que disse que os resultados tinham sido uma derrota para PSD e...PS; é crível, no entanto, que o Novo Democrata não tivesse sido informado ainda dos resultados e pensasse que a sua ND tinha elegido já um grupo parlamentar pronto para abalar para Estrasburgo. Enganos...
Ah, e não esquecer todos aqueles que desculparam os maus resultados com a abstenção, já que provavelmente saberiam o que ia na cabeça dos abstencionistas; sem dúvida um caso de extraordinários poderes telepáticos.
A França venceu a Inglaterra, nos descontos, com dois golos de Zidane, de bola parada. Eis o que acontece quando se luta até ao fim e se tem um grande naipe de génios da bola como os "bleus". Confesso que me deu um grande gozo ver os truculentos súbditos da rainha perder quando há muito cantavam vitória, à exepção do saudoso e quase mítico Erikson. O regresso à Luz não lhe podia ter corrido pior. A propósito, o cenário era o de uma autêntica Catedral do Futebol. Como devia ser sempre. Como muitos poucos estádios o são. E como a Luz, mais uma vez, demonstrou ser: um anfiteatro de sonho tornado realidade. E como é também um talismã para a Seleção Nacional, veremos os sonhos que nela caberão na próxima 4ª-feira.
segunda-feira, junho 14, 2004
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