Cidades e concelhos...exemplos de sub-desenvolvimento?
Um dos maiores provincianismos a que se assiste cá na pátria é o de qualquer povoação, vila ou subúrbio querer ser cidade a toda a força. O estatuto de cidade cai bem, dá uma ressonância mais cosmopolita e sofisticada, e permite que qualquer habitante de uma ex-vila possa agora olhar nos olhos para um qualquer morador de um burgo de estatuto mais antigo, e, com ar de quem chegou à festa há pouco, afirmar: "sou da cidade de tal".
Por essa mesma razão é que temos verificado uma avalanche de "promoções" de vilas a cidades, ou de aldeias a vilas, sem par na nossa história administrativa. A quantidade de cidades-freguesia é incalculável. São por norma subúrbios que, por via de um desmesurado crescimento demográfico, alcançam a categoria de cidade. No entanto, não são mais do que dormitórios sem um centro urbano digno, nem infra-estruturas adequadas, ou equipamentos que permitam qualidade de vida minimamente aceitável. Exemplos cabais são Ermesinde, Cacém, Rio Tinto, Sacavém, Gafanha, e outras numerosas localidades. Outro caso é o de vilas do interior que, atravessando uma fase de maior fulgor, pretendem (e conseguem-no) ser promovidas. Já não percebia porque raio é que Vila Nova de Foz-Côa ou Oliveira do Bairro eram cidades - já o caso de Miranda tem por trás razões históricas. Mas há pouco tempo houve nova fornada de burgos, entre os quais avultavam dormitórios (Valbom, Caparica) e vilas do interior, como Trancoso, Sabugal, Reguengos de Monsaraz, e -ó completa falta de juízo- Tarouca! Que me perdoem todos os naturais da localidade a Sul de Lamego (essa sim, uma antiga cidade com dimensões de capital de distrito), que nada tenho contra eles, mas convém elucidar as pessoas: Tarouca é uma vilazinha, inserida nas "Terras do Demo", com um ou outro edifício administrativo, algumas dezena de casas numas poucas ruelas, tudo facilmente contabilizável do alto de uma pequena colina com uma umas alminhas em cima, no centro da povoação. Mais uma vez peço desculpa, mas pensar que está ali uma cidade pode levar a diversas reacções, desde largar a rir à gargalhada até iniciar um estudo sociológico para investigar certas pretensões estranhas dos portugueses. Valha-nos que ainda há pessoas que não alimentam tais vanglórias, como os naturais de Ponte de Lima, Cascais ou Sintra, preferindo ser vilas conhecidas a cidades anónimas. Até porque não precisam.
Um dos maiores provincianismos a que se assiste cá na pátria é o de qualquer povoação, vila ou subúrbio querer ser cidade a toda a força. O estatuto de cidade cai bem, dá uma ressonância mais cosmopolita e sofisticada, e permite que qualquer habitante de uma ex-vila possa agora olhar nos olhos para um qualquer morador de um burgo de estatuto mais antigo, e, com ar de quem chegou à festa há pouco, afirmar: "sou da cidade de tal".
Por essa mesma razão é que temos verificado uma avalanche de "promoções" de vilas a cidades, ou de aldeias a vilas, sem par na nossa história administrativa. A quantidade de cidades-freguesia é incalculável. São por norma subúrbios que, por via de um desmesurado crescimento demográfico, alcançam a categoria de cidade. No entanto, não são mais do que dormitórios sem um centro urbano digno, nem infra-estruturas adequadas, ou equipamentos que permitam qualidade de vida minimamente aceitável. Exemplos cabais são Ermesinde, Cacém, Rio Tinto, Sacavém, Gafanha, e outras numerosas localidades. Outro caso é o de vilas do interior que, atravessando uma fase de maior fulgor, pretendem (e conseguem-no) ser promovidas. Já não percebia porque raio é que Vila Nova de Foz-Côa ou Oliveira do Bairro eram cidades - já o caso de Miranda tem por trás razões históricas. Mas há pouco tempo houve nova fornada de burgos, entre os quais avultavam dormitórios (Valbom, Caparica) e vilas do interior, como Trancoso, Sabugal, Reguengos de Monsaraz, e -ó completa falta de juízo- Tarouca! Que me perdoem todos os naturais da localidade a Sul de Lamego (essa sim, uma antiga cidade com dimensões de capital de distrito), que nada tenho contra eles, mas convém elucidar as pessoas: Tarouca é uma vilazinha, inserida nas "Terras do Demo", com um ou outro edifício administrativo, algumas dezena de casas numas poucas ruelas, tudo facilmente contabilizável do alto de uma pequena colina com uma umas alminhas em cima, no centro da povoação. Mais uma vez peço desculpa, mas pensar que está ali uma cidade pode levar a diversas reacções, desde largar a rir à gargalhada até iniciar um estudo sociológico para investigar certas pretensões estranhas dos portugueses. Valha-nos que ainda há pessoas que não alimentam tais vanglórias, como os naturais de Ponte de Lima, Cascais ou Sintra, preferindo ser vilas conhecidas a cidades anónimas. Até porque não precisam.
Outro provincianismo que tal é o de haver uma data de freguesias a querer ser concelho (e, claro está, cidade). Certos casos eram compreensíveis por razões administrativas, como Trofa, Odivelas ou até Vizela. Todas são localidades com alguma dimensão, sobretudo a primeira, e todas ficam situadas em áreas de forte densidade populacional. Situações diferentes passam-se com a Tocha, Samora Correia, Vila Praia de Âncora, e, evidentemente, o mais mediático: Canas de Senhorim. Neste último, como se sabe, reina a loucura. Volta e meia os populares desatam aos berros, a agitar bandeiras, a vociferar contra o Presidente e contra Nelas, a bloquear as vias de comunicação, com exclamações de que "não votamos", "isto parece Timor", ou "só lhes falta matarem-nos". Todas as razões são usadas, mesmo as da saúde pública, como a remoção de urânio, para exigir a pretensão concelhia. Note-se que as forças de segurança têm tido uma paciência de chinês com os locais, caso contrário já teriam lançado umas quantas cargas de bastonada sobre os manifestantes, tamanhos são os impropérios que estes lhes lançam. O ridículo de toda esta situação, para além dos exacerbados protestos dos canenses, é que se conseguissem realmente alcançar o estatuto que pretendem, dividir-se-ia um concelho já de si pouco populoso, Nelas, para formar dois pequenos municípios, e em que o de Canas pouco ultrapassaria os cinco mil habitantes. Há que relembrar aos cidadãos que nos primórdios do liberalismo ocorreram importantes reformas, pelas mãos de Mouzinho da Silveira, que reduziram os concelhos (alguns deles minúsculos) de mais de 800 para cerca de 300, e que recriá-los seria regredir quase duzentos anos. No extremo, podíamos chegar ao insólito de restaurar municípios como Ucanha, com cerca de trezentos habitantes, ou S. João da Foz, hoje inserida de pleno direito no Porto, se bem que ainda hoje o costume de lá se dizer "vou ao Porto". Por isso mesmo é que Mouzinho deve estar a dar voltas no túmulo, ao ouvir os berros dos canenses e semelhantes. Não esperava que tanto tempo depois lhe viessem contestar a sua obra, como num estranho regresso ao passado absolutista. Mas talvez o povo português não tenha mudado assim tanto.
2 comentários:
Para quando a passagem da minha Praça a Vila??!
Ó mãezinha... eu tb quero!
A Foz tem tudo para ser cidade...
Mto mais que alguns pardieiros como o buraco de Canas de Senhorim...
Qto às imagens, qdo tiver tempo (e me lembrar) mando-te os códigos por mail.
Abraço ( http://zonafranca.blogspot.com/)
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