Composição de artes
Pode uma obra cinematográfica ser constituída por outras formas de arte? Vejamos: junta-se um punhado de literatura, da clássica (Dostoievsky, no caso); uma excelsa fotografia em tons cinzentos, com raros espaços luminosos; uns pozinhos de pintura (a exposta na Tate Modern); escultura, certamente, exprimida pelas esculturais actrizes que povoam as cenas; arquitectura talvez, com a contraposição das várias faces de Londres (a nova morada do jovem casal, por exemplo, com as largas vidraças mostrando Westminster), ou a típica Country House; teatro, evidentemente, não só de forma directa, com a apresentação do último musical de Andrew Lloyd Weber, mas sobretudo com o desenrolar da tragédia clássica; o adultério e a paixão desenfreada como Hybris, a situação da gravidez na mulher errada como o Pathos, o sofrimento crescente, o Destino previsto em alguns pormenores (a leitura da desdita do jovem Raskolnikov, que está escarrapachada), e o Clímax, onde se dá a catástrofe, ou seja, o crime hediondo, restando muito pouco de Catarse; tragédia essa temperada pela música, criando o necessário ambiente, interpretadana ópera do sublime e sentido Enrico Caruso.
O resultado é Match Point, grande obra da Sétima Arte da autoria de um dos seus maiores criadores: Woody Allen. E mais poder-lhe-ia acrescentar, se me viesse à memória.
Ps: entretanto também vi Munich, uma das obras mais aguardadas dos últimos meses. À parte as quase três horas e a incompleta vendeta dos protagonistas, a única coisa que para já posso dizer é repetir o título de um jornal: um filme desconfortável.
sexta-feira, fevereiro 17, 2006
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2 comentários:
Não vou ver o Match Point pq gosto demasiado do W.Allen para ficar desiludido...
Qto ao Munich, bom filme mas com as americanices ( e desta vez judaíces) do costume!
Acredita que não ficas desiludido.
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