Truman e o sangue
Tenho vários filmes na agenda, como Syriana, Brockeback Mountain (se conseguir companhia feminina), Mrs Hendersson Presents ou Orgulho e Preconceito. E Capote. Já sei que não é um biopic integral, e sim a experiência que levou à escrita da obra "A sangue frio". Não desmerece a vista de olhos, mesmo assim. E a composição de Philip Seymour Hoffman também não, como seria de esperar. Estranho é que só agora tenha obtido um "leading role", conhecendo todas as potencialidades do "sósia de Pedro Mexia". A pose, a voz afectada, os tiques, estão todos lá. Claro que a composição de um papel sobre uma figura real é bem mais do que o seu autómato, a sua faceta visível. Mas pelo pouco que já vi e li, Seymour Hoffman entra na personagem, nos seus segredos, nas fraquezas, no seu maquiavelismo e perversidade.
Para se ficar com uma ideia do que era o mundano escritor e do quão bem o actor faz por merecer o Óscar para que está nomeado, aconselha-se o filme Um Cadáver à Sobremesa/Murder by Death. Uma paródia descabelada aos filmes noirs e de suspense, reunindo as caricaturas de alguns do mais famosos detectives da literatura, representados por sua vez por um elenco estrondoso: Peter Sellers, um detective chinês: Peter Falk, um Humphrey Bogart de trazer por casa; David Niven sempre cavalheiresco, com a respectiva Lady Maggie Smith; um pseudo-Poirot e seu motorista; uma Miss Marple pesada e a sua decrépita ama; à sua espera, o mordomo cego da casa, responsável pelas bagagens e pela arrumação dos carros, interpretado por Alec Guiness. E o anfitrião, o misterioso Lionel Twain, contra quem, descobrir-se-á mais tarde, todos têm contas a ajustar, quem é? Truman Capote, himself. De cigarrilha em punho, lentes fumadas e chapéu de largas abas, não consegue disfarçar aquela voz
efeminada e ciciante (ainda que com alguns momentos de fúria) nem a pose característica. Está lá todo, pelo menos até ao simulado crime de que é vítima.
Se tiverem oportunidade, vejam os dois filmes e façam as devidas comparações. Não me lembro agora de nada mais (publicamente) visível, mas é possível que o haja. Eu por mim quero ver se na próxima semana assisto a mais uma lição do que é ser um grande actor, dada por Mr. Seymour Hoffman.
domingo, fevereiro 26, 2006
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