Ainda sobre o Papa em Auschwitz
Não tinha escrito nada sobre a importante visita do Papa a Auschwitz, há já quinze dias. Muito se falou sobre o testemunho de Bento XVI, principalmente da classificação que deu aos nazis, um "grupo de criminosos que abusou do povo alemão... na sua sede de destruição e poder". Estas palavras provocaram alguma celeuma e muitos franzires de sobrolho. Vasco Pulido Valente, por exemplo, atribui a culpa aos alemães em geral "e à sua nobreza" em particular, esquecendo-se talvez da oposiçãoda família real bávara ao avanço nacional-socialista. Mas foram os líderes judaicos que, de forma contida, mais criticaram o Papa, entendendo que a responsabilidade cabia ao povo alemão por inteiro e não apenas aos dirigentes e ideólogos nazis.
Não afastando totalmente este tese, há muita inverdade neste pequeno ajuste de contas moral. Afinal de contas, o partido Nazi não teve uma maioria esmagadora quando ganhou as eleições de 1933. As restantes formações políticas foram severamente reprimidase os seus apoiantes presos ou liquidados. E afinal de contas, os judeus que aí viviam não deixavam de ser alemães.
Além disso,esse pensamento é perverso porque pode ser invertido para outra óptica. É que o sentimento anti-semita, contra os "pérfidos judeus", que durante séculos vigorou no cristianismo e que levou a tantos autos-de -fé, baseava-se precisamente na ideia dos descendentes de Abraão serem, no seu todo, um povo deicida. Considerar todos os alemães como culpados do Holocausto não é uma ideia muito longínqua de confundir os membros do Sinédrio com os judeus de todos os tempos e lugares. Não seria pior que os religiosos e líderes de comunidades judaicas reflectissem bem antes de lançar críticas com uma pontinha de veneno. Merkel não tem culpa dos crimes de Hitler, assim como Olmert não é Caifás.
quinta-feira, junho 15, 2006
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2 comentários:
João Pedro,
Sabe o que é o mais engraçado no seu blog? A ausência de comentários? Porque será...
Pense nisso e boa sorte para o seu curso (ainda vai a tempo de desistir :) e olhe que este é um conselho de quem já esteve na sua situação - não obstante ter quase por certo qu ejá tem uma qualquer cunha preparada para quando obtiver a sua licenciatura)
Caro Pedro, os comentários são da responsabilidade de quem passa por cá e deixa ficar a sua opinião. Não épelo facto de haver poucos que vou alterar oconteúdo do blog.
Quanto à licenciatura, já acabei há uns anos. Cunhas? Era bom, era, mas têm provavelmente outros destinatários. O que eu não percebo é porque é que vem com essas alusões. Acho que não nos conhecemos de parte nenhuma. Como é que pode dizer que já esteve na minha situação, ou que eu tenho cunhas preparadas?
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