Toda esta discussão sobre a "verdadeira oposição" e a criação de um partido "mesmo de direita" em Portugal já tem uns bons anos, e no entanto nada se chegou a fazer em sentido contrário.
As oposições andam sempre às aranhas quando um governo tem uma maioria confortável e ainda não começou a apodrecer, como aconteceu com Cavaco e Guterres, e acontece agora com Sócrates. Há que resistir, inovar e esperar pelos efeitos do tempo, nada mais.
Já a criação da tal força de direita é um assunto sempre discutido mas ao qual nunca se chega a uma ideia conclusiva. Os dois partidos maiores considerados, PSD e CDS, continuam lá, mesmo que o segundo tenha um futuro incerto, e mais do que as ideias e os projectos, abundam os carreirismos e as punhaladas. Aliás, só o movimento do Caldas é que se pode considerar realmente de direita; o partido laranja reúne sociais-democratas, liberais, nacional-populistas, democratas-cristãos, conservadores, regionalistas, e tudo o que possa aparecer à direita (ou em alternativa ) ao PS e que o CDS não tenha capacidade de satisfazer.
O PSD é mesmo um partido único, e isso vê-se logo pelo nome que ostenta e pelos
grupos políticos a que pertenceu e pertence no Parlamento Europeu. Os mais parecidos que encontro - não por acaso também em países latinos - será a UDF francesa, sempre um aliado por necessidade dos gaullistas e um contrapeso na política francesa, como se vê pela ascensão de François Bayrou nas sondagens para as presidenciais, e a antiga UCD espanhola.
Há aliás outros pontos de convergência entre os dois partidos ibéricos. A UCD era um partido formado na
transicion da Espanha para a democracia pelo primeiro-ministro de então, Adolfo Suarez, que agrupava centristas, sociais-democratas, democratas-cristãos, liberais ou simplesmente tecnocratas vindos do franquismo. Ganhou as eleições gerais de 1977 e 1979, mas as enormes divergências internas, apenas cimentadas pela necessidade de dar à Espanha uma nova constituição, levaram a que Suarez saísse formando o novo CDS; outras formações integraram a Alianza Popular de Fraga Iribarne, mais à direita, posteriormente transformada em Partido Popular. A UCD teve menos de 7% dos votos em 1982, quando Felipe González chegou ao poder, e acabou por se extinguir.
O problema do PSD é que, longe de mudar, conseguiu o poder, em coligação ou sozinho, por mais de uma década. Os anos dourados do cavaquismo deixaram-no acomodado ao poder estatal. Quando caiu dele abaixo, ficou à deriva, viu os seus líderes mudarem consoante a brisa, e só voltou ao poder com a saída de Gueterres, e mesmo assim em coligação com o CDS-PP.
O PSD é um equívoco em si mesmo. Já deveria ter mudado há muito, abandonado as suas cores e as suas setas, renunciado à social-democracia em favor do PS. Ou acabado, pura e simplesmente, como a UCD. Certa vez li numa opinião de um jornal que se isso acontecesse, a ala esquerda seria engolida pelo PS e a direita engoliria o CDS. Melhor seria que a ala que se diz de centro-esquerda fosse para o PS, os conservadores e democratas-cristãos se fundissem no CDS, permitindo a criação de um partido renovado nesse sector, e os liberais se juntassem noutro movimento, que poderia ser a Nova Democracia, sem Monteiro à cabeça, bem entendido.
O futuro dirá se acontece isso ou se surge o tal "grande partido de direita", à imagem do PP espanhol. Ou se fica tudo na mesma, e o PSD volta um dia ao poder, com ou sem o CDS (PP), quando Sócrates tiver enfim esgotado a sua agenda de "reformas".
(Já agora, aconselho estes
dois posts do
Combustões. Não tenho a suposta admiração pelas persongens enunciadas no segundo texto, mas parece-me que não anda longe do que teclei aí em cima).