Portas versão 5.0
O regresso de Paulo Portas à ribalta político-partidária, depois de dois anos precisos a picar o ponto na AR, escrever crónicas políticas no SOL mascaradas de críticas de cinema e emanar algumas opiniões na SIC- Notícias, é a coisa menos inesperada que vimos desde que Cavaco ganhou as presidenciais. A pacata"travessia do deserto", sem grandes ondas, começou com a derrota em Fevereiro de 2005, e todos pensaram que Portas iria dedicar-se a uma carreira mais internacionalizada, aproveitando o que granjeou com o seu antigo cargo governamental. Falou-se mesmo de um centro de estudos para ideologizar a nova direita portuguesa, com subsídios americanos. Tudo isso ficou no papel ou não passou de uma abstracção. A Atlântico encarregou-se de começar o combate das ideias (não, não estou a defender que seja uma revista "portista") e o antigo líder do CDS começou a preparar o seu regresso à cúpula partidária a partir da surpresa que constituiu a derrota do seu delfim Telmo Correia.
Nos últimos dois anos assistiu-se a direcção de Ribeiro e Castro mais voltada para a democracia cristã e para o CDS original, pouco hábil e com alguns passos desastrados, esvaziando a direita e deixando-a alienar-se por Sócrates. Mas o eurodeputado teve igualmente medidas importantes, como a revitalização das estruturas regionais e locais do partido, postas à parte pelas direcções anteriores. O seu trabalho foi torpedeado pelos "portistas" que constituíam a quase totalidade do grupo parlamentar, como se viu com o exemplo cabal de Nuno Melo, mesmo depois de Ribeiro e Castro ter ganho novo congresso. Este tipo de atitudes tem normalmente vários nomes, como deslealdade, conspiração, ou corrosão interna. Mas Portas já esteve envolvido em situações semelhantes, como os truques recíprocos com Manuel Monteiro. Agora, porém, o caso é mais descarado e já não tem o efeito surpresa de há alguns anos.
Paulo Portas é sem dúvida o mais hábil, inteligente e dinâmico líder que a direita portuguesa conheceu nos últimos vinte anos. E também o mais cínico e mefistofélico (Marcelo idem, mas não sei se lhe deva colar a palvara "direita"). Simplesmente, a onda de re-renovação que trouxe nos anos noventa já se dissipou em grande parte. A posse referência jovem-populista-estadista esgotou-se, pelo que aposta algora numa vertente mais liberal. Um pouco tarde, na minha visão. A aura de invencibilidade interna já não é a mesma; o regresso ao antigo cargo traz sempre anticorpos e expectativas desconfiadas, e agora, depois da guerrilha a Ribeiro e Castro, mais do que nunca. é certo que no CDS já houve um regresso triunfal, o de Freitas do Amaral em 1988, com a redução a "partido do táxi", mas não tinha na altura oposição alguma e as melhorias foram nulas. Agora as coisas são diferentes. Portas vai ter mais dificuldade do que julga ganhar a liderança do partido, e mais ainda a guindá-lo de novo a partido de poder, ou quando muito a guia da direita portuguesa. Muitas surpresas estão-lhe reservadas, e ele, atrás daquela postura calmamente messiânica, provavelmente sabe disso.
terça-feira, março 06, 2007
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