quinta-feira, abril 17, 2008

As eleições no tempo de D. Camilo



No meu último post faço uma alusão às aventuras D. Camilo. Os livros da autoria de Giovanni Guareschi do padre com sangue na guelra, pároco de Brescello, uma aldeia da Emilia Romagna no vale do Pó, e a sua eterna luta com Peppone, o líder comunista local, de look à Estaline e tão belicoso quanto o seu clerical adversário, são um bom testemunho do confronto no pós-guerra entre a Democracia Cristã e o PCI, numa região marcadamente "vermelha". Os filmes, protagonizados por Fernandel deram-lhes uma cara e ajudaram a imortalizá-los. Conheci tais personagens ainda na adolescência e devorei então todas as obras relacionadas com eles. Anos mais tarde atravessei de comboio aquela região, e, pela descrição dos romances, pude perceber ao de leve o espírito que dela emanava: uma enorme planície, atravessada pelo Pó, barrado por vários diques, atravessada por campos imensos, despontando aqui e ali algumas aldeias, dominadas pelo seu campanário. À volta, um imenso e gelado nevoeiro de Inverno. Aquela região simultaneamente tão populosa e tão isolada era o cenário das aventuras de D. Camilo e das lutas locais entre os dois maiores partidos de então, hoje desaparecidos, cujos herdeiros, em parte, se aliaram. Na altura, não faltavam discursos violentos, e algumas acções envolviam pancadaria a ameaças. A DC tinha o beneplácito papal, e o PC tinha ainda a inspiração de Moscovo.
Lembrei-me disto por causa de um trecho escrito por Pedro Mexia, onde fala das primeiras eleições gerais no pós-guerra, que é pano de fundo dos romances de Guareschi.



As personagens passaram, como o seu tempo marcado pela divisão e pelas recordações das agruras da guerra. Mas não foram de modo algum esquecidas e ornaram-se mesmo atracções turísticas. Hoje em dia, existe em Brescello um museu dedicado a D. Camilo e a Peppone. Até o clube desportivo local adoptou para símbolo as suas efígies.


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