quarta-feira, abril 30, 2008

O caos laranja
Imagem retirada do Abrupto


Gostava de ter postado mais sobre a situação interna no PSD, mas desisti. A toda a hora e momento vem mais uma novidade, surge um novo candidato, divulga-se mais um apoio. É o caos laranja. As agências noticiosas e de faits-divers devem esfregar as mãos de contentes.

Com o avanço de Manuel Ferreira Leite, as coisas pareciam ter tomado um rumo, tal é a aura sebastianista da temível ex-ministra. Aguiar Branco desistiu logo, e Passos Coelho parecia ser um actor secundário (para não falar de Patinha Antão e Neto da Silva, simples figurantes). Mas eis senão quando Alberto João, himself, entra em cena, apoiado pelas distritais do Porto, Lisboa e Algarve, chefiadas pelas promessas de cacique Marco António, Cruzeiro e Bota, outro eterno pantomineiro laranja. A coisa começou a tomar ares de ópera bufa. Finalmente - e quem mais poderia ser? - o Menino-Guerreiro Santana Lopes, não contente com o lugar de chefe da bancada parlamentar, decide pela enésima vez candidatar-se à liderança, movido pelo eterno bicho que o levou a tantas candidaturas e ainda mais abandonos de projectos a meio. Motivo? "Portugal", claro está. De ópera bufa, passámos a teatro de revista do mais puro. Talvez seja a antiga promessa de reabilitar o Parque Mayer.
Jardim parece andar a gozar com tudo e todos. Amuou, voltou ao palco elogiando Santana, depois pediu aos militantes para não votarem em nenhum, proferiu novas afirmações ambíguas, etc. Num par de dias rivalizou com Menezes no dito por não dito. Entre as várias frases costumeiras, disse que estava "ideologicamente próximo de Santana". De que ideologia falará ele? Do tão propalado liberalismo? Impossível, com o peso do sector público na Madeira e o Governo Regional a imiscuir-se em tudo o que é crítica ao seu desempenho. Só se for nas off-shores. A social-democracia é algo musculada, e Santana nunca deixa cair o PPD. Conservadorismo? Uns laivos. Mas do que se trata mesmo, e ninguém disse em voz alta, é de populismo, tão bem simbolizado nas festas do Chão da Lagoa e no festivamente anunciado fim da crise económica por Lopes naquele período insano em que presidiu o executivo. O velho populismo que, mais do que qualquer outro partido, corrói o PSD, essa agremiação outrora comandada por uma elite liberal e com sentido de estado, mas que contou sempre, na sua maioria, com boa parte do aparelho de estado herdado do Estado Novo, os seus regedores locais e todas as classes sociais nele representadas.

E agora? Ferreira Leite ainda parece a mais bem colocada, mas as famosas "bases" podem reservar-lhe outra sorte. Ademais, nem todos se esqueceram com a nossa Dama de Ferro à lusitana teve um percurso aos altos e baixos nas finanças, com escasso sucesso, e que anteriormente tinha sido a Maria de Lurdes Rodrigues do seu tempo. Passos Coelho tem o problema da inexperiência e da visibilidade de cargos políticos de relevo, e não será certamente a presidência da Assembleia Municipal de Vila Real a dar-lha. Antão e Silva terão os seus minutos de fama em congresso. E do referido sector populista? Tenho as maiores dúvidas em acreditar que Jardim avance. Como não é parvo, sabe que fora da Madeira terá todas as dificuldades em se afirmar, e que lhe farão a cama por trás. Sem compreender o mundo que o rodeia como sempre, Santana é bem capaz de ir até ao fim, mesmo que não tenha mais apoios que Gomes da Silva e um ou outro iludido ou santanette. Ainda assim, mas também prevendo os escassos apoios de Lopes, continuo a pensar que Menezes não prolongará assim tanto as suas férias e que ainda terá os seus trunfos na manga. Até fins de Maio ainda vai correr muito sumo de laranja.

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