Não serei a pessoa mais competente para explicar (se é que é possível) o post de Henrique Raposo sobre a Encíclica Caritas in veritate. José Tolentino de Mendonça, mais meditativo, e O Corcunda, bastante mais contundente, já lhes deram a devida resposta. Mas o que me intriga é esta tentativa de reduzir o Catolicismo e mesmo o todo Cristianismo a uma mera ideologia de séculos recentes, que é "liberal" quando convém mas que se cola ao marxismo quando se torna inconveniente. É esse utilitarismo que prova que Raposo faz uma enorme confusão quando fala de Marx e dos "Summer hits de Louçã". Confunde uma doutrina e um pensamento de séculos e séculos com materialismos com os quais nada tem que ver e que até são o oposto. Reduz a um mero conjunto de ideias aquilo que para os cristãos é a Verdade revelada pelo Filho de Deus e pelo Espírito Santo através dos Seus seguidores. A Caritas in veritate é o seguimento lógico de outras Encíclicas, como a Rerum Novarum ou a Populorum Progressio, que se debruçaram sobre questões sociais emergentes numa perspectiva cristã, sem necessidade de pegar em ideologias feitas à pressa.
Para além do topete de querer, literalmente, ensinar a Bíblia ao Papa (para mais com uns sessenta anos de profundo estudo e meditação), ainda deixa a misteriosa questão no ar: "no dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus, qual é a parte que o Papa não entende?" Quem não entende a pergunta sou eu, que não vejo relação nenhuma com a crítica anterior, a não ser que Raposo esteja a enfiar os pés pelas mãos e a dar uma de marxista (ou de jacobino, para quem "o clero deve remeter-se à sacristia", o que na era do computador é problemático) . A questão a ser colocada deveria ser: na evidência do Cristianismo ser uma religião com raízes bem fundas e não uma ideologia recente, qual é a parte que Henrique Raposo não entende?
2 comentários:
Tem razão numa coisa. O Cristianismo é uma ideologia antiga.
Caro Carlos Pires, como disse, o Cristianismo é mais do que uma ideologia (embotra tenha inspirado várias), daí os erros que aponto ao texto de Henrique Raposo.
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