segunda-feira, novembro 09, 2009

Vinte anos


O assunto do dia é inevitável: os vinte anos da queda (ou do seu início) do Muro da Vergonha, que dividiu Berlim durante perto de trinta anos e cercou o enclave da RFA, tanto na cidade como na região circundante. Em Novembro de 1989, a queda do Bloco de Leste, provocada pelo degelo das relações com o Ocidente, com a Glasnost e a Perestroika de Gorbatchov, e pela certeza de que os soviéticos já não enviariam os seus tanques para impedir certas "veleidades", era uma realidade em marcha.

Também na República Democrática Alemã os protestos, que começaram em Leipzig (curioso como as vagas que derrubaram os regimes comunistas começam muitas vezes em cidades secundárias), estavam em crescendo. Milhares de alemães fugiam para a Hungria, e daí para o ocidente. A Nove de Novembro, por causa de um"lapso", milhares de alemães de Leste que se concentravam na Alexanderplazt, mesmo no cento da cidade, entre o Palast der Republik e a altíssima antena de televisão, precipitaram-se para troço do muro, junto à Porta de Brandeburgo, onde as forças policiais, impotentes perante aquela multidão, depuseram as armas. Pela primeira vez, muitos alemães viam o outro lado do muro, e muitos outros reviam as imagens de há muitos anos. Ficaram na memória as imagens dos populares a subir o muro, de blocos deste a ser derrubados, da festa imensa entre a multidão.


Passei por lá em 1998. Na maior parte da sua extensão, o muro não existia. Havia alguns quilómetros dele, cobertos de graffitis, como recordação e vestígio histórico, assim como as guaritas de Checkpoint Charlie, mas tanto na cidade como nos arredores (já que a barreira existia também nos bosques circundantes) apenas restava o local. Ao lado da porta de Brandemburgo, dezenas de cruzes, uma por cada vítima morta pelos guardas, recorda aqueles que tentavam fugir desesperadamente daquele cenário cinzento guardado por torres de controle e arame farpado, por metralhadoras e pela omnipresente STASI. A última cruz é a que simboliza a morte do próprio muro.

Hoje vendem-se pedaços do muro como recordação histórica. Os vendedores ambulantes de peças e curiosidades da antiga RDA fazem negócio com a venda desses símbolos de Ostalgie, entre os quais se contam igualmente miniaturas dos Trabants. O muro pode ter desaparecido em grande parte, ou ser mero objecto de fotografias dos turistas, mas um grande risco vermelho, ao longo do seu antigo percurso, mostra-nos o seu traçado e lembra-nos que por ali passou uma das páginas mais sombrias da história da Europa do Séc. XX. Que começou a ruir, e com estrondo, em Novembro, há já vinte anos.

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