Ainda pouco falei do Benfica 2009-2010, excepto na partida no Restelo, o único jogo, de resto, a que assisti nesta época. A derrota de Sábado passado, em Braga, a primeira da época, parece-me um bom pretexto para tratar do assunto.
Era um pouco céptico na exoneração de Quique Flores, tanto pela necessidade de estabilidade técnica como pelas indemnizações a pagar. Provavelmente estaroa influenciado pelas prestações do Benfica no início da época, e por simpatizar com o ar digno e cavalheiresco do espanhol; mas a verdade é que o Benfica não melhorou o seu futebol, pelo contrário, e Quique nunca se incomodou em demasia com os pontos perdidos em empates melancólicos. Veio Jesus.
As aquisições pareceram-me correctas, mesmo tendo em conta os custos de alguns jogadores (Javi e Ramires, por exemplo) em contraste com as escassíssimas verbas que entraram, e que obrigaram o recurso ao crédito. Sou muito céptico em relação a este gênero de engenharias financeiras, porque comportam um risco pesado. Claro que por vezes há que arriscar, mas no estado em que estão as finanças dos clubes, pede-se alguma cautela. Mas no plano desportivo as "peças" adquiridas foram as certas e integraram-se bem nas que já lá estavam.
Na baliza apenas lamento que Moreira tenha sido relegado para terceira opção, apesar de gostar muito de Quim. Júlio César parece-me bom "keeper", mas tenho dúvidas se será um fora-de-série.
Na defesa, manteve-se Luisão, a pedido de Jesus. David Luiz tornou-se um central de primeira água, e terá apenas de aprender a conter um pouco os ímpetos para que os clubes mais ricos da Europa o cobiçem. Sidney e Miguel vítor são uma linha de reserva segura. Nas laterais, Maxi Pereira, com a raça que já mostrou, segura a direita sem grande rivalidade de Luís Filipe (até Ruben Amorim é preferido para segunda escolha). À esquerda a coisa não é tão clara. Shaffer é rápido, centra que é uma maravilha, mas tem algumas fragilidades a defender. César Peixoto tem técnica, mas o mesmo problema, e não me parece que resolva muita coisa. Aliás, teria preferido que se mantivesse Jorge Ribeiro, formado na Luz e com melhor remate, e não se fosse buscar o companheiro de Diana Chaves. Opções...
Depois, o meio campo. Quem pensasse que sairiam Katsouranis e logo depois Yebda imaginaria o desastre para aquela zona. Acontece que os grandes reforços estão aí: Ramires é um corredor incansável, entre a gazela e a carraça, sempre activo, sempre lutador, e ainda tem apetência para golos. Javi Garcia, uma incógnita com músculos à chegada, é essencial à frente da defesa, e além de ser forte e raçudo, tem inteligência táctica, que faz com que lance a bola em jogo e não a atire para a frente de qualquer maneira. Também estes ficarão pouco tempo na Luz. Ruben Amorim, a melhor surpresa da época passada, alterna entre o banco e o jogo, mas está lá sempre.
Aimar parece ter segurado os arames e mostra as qualidades que o tornaram num virtuoso. O único golo que marcou até agora é um portento, e os seus passes e cobranças de falta parecem telecomandados, tais as assistências para golo que têm proporcionado. Convém que simule um pouco menos, porque quando for realmente abalroado ninguém apitará a falta. Entretanto, Carlos Martins também parece de volta aos bons velhos tempos: quando joga, mostra o que vale e provoca sempre estragos. As lesões é que têm sido inclementes... Resta ainda Menezes, um brasileiro que mostrou alguma técnica, mas que ainda terá muito que palmilhar.
Por fim, o sector que mais tem dado nas vistas: o ataque. Oscar Cardozo revela-se cada vez mais um perigo na área, e não só com o pé direito. Saviola, o excelente atacante argentino, é o companheiro ideal, com a sua velocidade e técnica. Menos possante e explosivo que Suazo, compensa isso com outra hagilidade que o hondurenho que regressou ao Inter não possui. No banco, Nuno Gomes é um suplente de luxo, Weldon já mostrou serviço, revelando ser um jogador rápido, inteligente e com sentido de oportunidade. Mantorras tem como função galvanizar as massas, e se possível, marcar um golo, coisa que faz com poucos minutos em jogo. Keirrisson é o caso mais bicudo: com apenas vinte anos, já marcou imensos golos no Brasil, o que valeu a sua (caríssima) aquisição pelo Barcelona e posterior empréstimo, mas até agora não justificou minimamente o negócio.
A alimentar o ataque, nas alas, temos Di Maria, que parece querer mostrar o que dele se esperava. continua a pecar no remate, mas quando se deixa de indivualismos é dificílimo de apanhar. Fábio Coentrão regressou em boa hora, e é talvez a maior revelação: técnica, garra e cruzamentos perfeitos - já leva não sei quantas assistências - são a história deste jogador neste época. Não esperava tanta maturidade nem tanta qualidade, confesso. Do outro lado, e já que se voltou a emprestar Adu, Não se sabe o que dará Urreta este ano. Na época passada deixou muito boas indicações...
Como já disse, Katsouranis e Suazo foram bem substituídos. Quanto a Reyes, sem muito dinheiro para o pagar e sem propostas de outros clubes, restou-lhe voltar ao Atlético de Madrid, onde é suplente de uma equipa à deriva. Gostava do jogador, mas ficou aquém do que sabe e pode dar. E Di Maria ou Coentrão não lhe dariam grandes oportunidades de brilhar. Como o Benfica tem parte do seu passe, ver-se-à se no futuro o espanhol voltará para passear o seu Lamborghini nas ruelas de Alfama.
Mas a equipa parece substancialmente melhor do que em Maio, disso não haja dúvida. Saviola, Ramires e Javi foram os jockers que vieram fazer o complemento a David Luiz, Cardozo e Aimar - neste caso, é um reencontro entre os dois amigos argentinos, que em conjunto tão boa conta deram do recado quando jogavam juntos no seu país, e que refazem uma dupla de renome internacional. Jesus mostra que sabe da poda e do que precisa. O problema serão os abrandamentos de ritmo, os efeitos do esforço físico e uma certa dificuldade da equipa reagir quando se apanha a levar um golo, como já se viu esta época. Mas com talento a rodos e um melhor conhecimento por parte do seu técnico do campeonato português, o Benfica tem tudo para incomodar os adversários e suplantá-los.
PS: o triunfo no Goodison Park terá tirado as dúvidas aos mais cépticos, depois da pesada goleada imposta na Luz. No total, foram sete golos sem resposta a um dos grandes do futebol inglês. Não estarão no seu melhor momento, até por causa das ausências, mas os Toffees tinham alguns nomes de respeito, como Tim Howard, Fellaimi, Saha ou Jô. Mas o Benfica bateu-os inapelavelmente.
Fica uma nota, uma mera curiosidade, mas ainda assim honrosa: revela o clássico Times que o Benfica, com esta vitória, tornou-se a primeira (e até agora única) equipa a vencer nos estádios dos dois clubes de Liverpool; há três anos, a histórica eliminatória em Anfield Road, e agora isto, pelos mesmos números. Uma vez mais, o Benfica a impôr o respeito entre os bretões. Confirme-se. Contra jornais ingleses bicentenários não há argumentos.
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