segunda-feira, maio 16, 2011

Alegre espanto

 




Devo dizer que recebi a notícia da atribuição do Prémio Camões a Manuel António Pina com certo espanto. E mais espantado fiquei quando soube que a decisão tinha sido tomada por unanimidade, e com curta duração na escolha. Talvez pela familiaridade que o autor me desperta, por julgar sempre que estes prémios vão para nomes consagradíssimos conhecidos no mundo inteiro, parecia-me complicado ser ele o galardoado.


Ou então por, algo alheio à poesia, não conhecer tão bem a sua obra poética como o seu talento de cronista. No tasco onde habitualmente tomo o café da manhã, pego muitas vezes no policial JN de propósito para ler as suas crónicas na coluna direita da última página, e raras vezes saio arrependido. Uma das últimas, aliás, sobre Marinho Pinto, é deliciosa no seu sarcasmo prudente com que mimoseia o Bastonário. Mas que a leitura de Pina não se fique por aqui e se estenda ao resto da sua obra - obrigação que eu próprio deveria seguir.


O que interessa é que o maior prémio literário de língua portuguesa fica com ele. Não sei a opinião da maior parte dos homens de letras (essa classe tão complicada e dada às invejazinhas de carreira) lusófonos, mas por mim fiquei radiante, depois do pasmo inicial, e se o encontrar aí pela Boavista, ou numa qualquer sessão da Feira do Livro, dou-lhe imediatamente os parabéns. É mais um prémio de grande vulto para uma figura da cultura portuense, depois do galardão de Eduardo Souto Moura, embora a maioria ignore e prefira dar relevo às diatribes do sr. Pinto da Costa e sus muchachos.


Um grande bem haja, Manuel António Pina.

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