O tonto do costume
Desde que esteve na mesa das operações que levaram ao efectivo derrube do Estado Novo, permitiu-se tudo a Otelo Saraiva de Carvalho: promoções à pressa na carreira, ídolo da extrema esquerda, capa da Time (como membro da "troika vermelha"), candidato à presidência pelas "massas populares", terrorista ligado às FP-25, solto da prisão por amnistia presidencial, etc, incluindo todos os disparates e bravatas que lhe passaram pela cabeça, desde a sinistra referência aos fuzilamentos no Campo Pequeno até a uma certa complacência para com Salazar (há quem diga que Otelo era um dos militares que transportou o caixão do ditador), passando pelos habituais desejos de "fazer um novo 25 de Abril". Começa a ser demais. Agora, acha que se os limites dos direitos dos militares forem ultrapassados a tropa deve fazer um golpe de estado contra o actual governo.
Para quem ainda tinha ilusões sobre qualquer traço de credencial democrática de Otelo, as ilusões perderam-se em defnitivo. O "capitão de Abril" revela que afinal os seus interesses são, como eram em 1974, meramente corporativos. Quais liberdades, quais quê. E que as espingardas podem ir contra a vontade de milhões de eleitores. Pouco lhe importa que o actual executivo tenha toda a legitimidade democrática: o que o incomoda são os tais "direitos dos militares".
Otelo é um tonto do regime com pretensões messiânicas insuportáveis, a quem ninguém deve nada, é ele que deve o perdão dos seus dislates e crimes. Como tal, devia guardar algum senso. Não sei se a sua posição na reserva implica que não possa ser punido disciplinarmente, ao menos com uma reprimenda. Mas se pudesse, era tempo de as autoridades militares lhe abrirem um processo por insubordinação. Já chega de ouvirmos constantemente as ameaças e bravatas deste logro vivo que meia dúzia de lunáticos erigiram como referência moral sem que ninguém lhe diga nada.
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