Embora já se tenham passado alguns dias, não pude, por causa de afazeres vários, tecer ainda uma análise ao novo governo. Mas o momento é chegado. Falarei enfim de algumas escolhas para os ministérios e secretarias de estado.Não todos, evidentemente, já que alguns são-me pouco mais que perfeitos desconhecidos. Também não me pronunciei sobre as Finanças, MNE e Administração Interna, de que já falei há dias.
Desde já, como se pode calcular por posts passados, não sou de forma alguma entusiasta da dupla Santana/Portas. Considero-os dois malabaristas da política, dois homens que jogam tudo no populismo/oportunismo e no seu enorme instinto político, a quem o poder caíu nos braços de forma abrupta. Do primeiro tenho enorme receio, por tudo quanto deixou de herança nos lugares de responsabilidade que já teve (leia-se sobretudo dívidas); o segundo, pela imagem que tem dado tanto no seu partido, onde não hesitou em apagar antigos líderes da memória, ao melhor estilo estalinista, como no governo, onde continua a usar o seu populismo onde lhe convém, a justificar um caso de sorte com a protecção divina ou a exibir-se com novos brinquedos de uso subaquático. E ainda há, claro, as nomeações dos amigos, assunto a que aludirei mais adiante.
A entrada de Rui Gomes da Silva, Henrique Chaves e dos restantes santanistas não admira nada. Era previsível que a "entourage" do novo PM lhe seguisse os passos no governo (só falta mesmo Conceição Monteiro), ainda que sejam postos em cargos que para os quais não serão a melhor escolha. Álvaro Barreto servirá provavelmente como representante dos governos de Cavaco, e também para afirmar que têm "gente com experiência no cargo". Maria José Bustorff é apesar de tudo uma escolha melhor do que as que vinham a lume, mas terá muito trabalho pela frente, visto que nos últimos dois anos não tivemos praticamente titular da pasta. José Pedro Aguiar-Branco, advogado experiente e ex-titular da Ordem dos Advogados no Porto está dentro dos principais probemas no que toca à justiça, e sabe certamente quais os imbróglios que lhe aparecerão pela frente; será aliás curioso observar os actos de um governante que não era propriamente um entusiasta da ex-ministra Cardona (e aproveito para desejar boa sorte a Paulo Rangel, um dos poucos Secretários de Estado cientes do que lhe puseram em mãos), tal como o Bastonário Júdice. Restam-nos ainda Morais Sarmento, reconduzido ás mesmas funções (assim como Luís Filipe Pereira, que a ver vamos no que dá), e o resistente Arnaut, agora com funções acrescidas, para mal dos nossos pecados.
Mas o pior deste governo é sem dúvida a "contribuição" do PP, partido que como se sabe acusou os outros de serem insaciáveis de poder, quando ele próprio demonstra uma imensa avidez do mesmo, senão maior. Já aqui falei de Bagão, uma das maiores incógnitas deste executivo. Seria impossível não nomear o maior erro de casting desde a escolha de Diamantino Durão (lembram-se?): esse mesmo, Luís Nobre Guedes. Uma clara escolha de amigos. O homem que redigiu o programa político em que se pedia o fim do mesmo ministério que agora irá dirigir. Alguém que nunca trabalhou nas áreas do ambiente exepto para defender duas empresas (e não consta que fosse para defender os valores ambientais). Em suma, a escolha mais disparatada possível. Bem pode perorar Paulo Portas contra as críticas que lhe foram feitas; pergunta-se: mas que qualidades tinha LNG afinal para ficar com esta pasta? Suponho que a resposta seria um silêncio glacial. Com este senhor ministro do ambiente, a entrega da REN e RAN ás mãos dos autarcas e os incêndios engolindo cada pedaço de verde ainda existente, as questões naturais em Portugal serão em breve uma recordação vaga.
Com Telmo Correia seguiu-se a mesma via; devo dizer que não lhe conheço antecedentes no que ao Turismo diz respeito - se tem, peço desde já desculpa- pelo que me parece que houve aqui de novo um excessivo factor partidário. Paulo Portas, sube-se quase logo, continua à frente da defesa e, ao que parece, dos assuntos do Mar, embora só tivesse tido conhecimento disso na própria tomada de posse, o que revela desde já uma óptima organização governamental. Provavelmente o estudo de novos dossiers permitir-lhe-á descobrir novas aplicações para os "seus" submarinos.
Como é evidente, os secretários de estado foram colocados onde calhou. O caso mais mediático foi, evidentemente, o de Teresa Caeiro, a tal senhora que estava na Segurança Social, rumou à Defesa e acabou nas Artes e Espectáculos (mas não era ela que tinha uma relação sentimental com o representante da ENDEMOL?). O Acidental - ao qual não me devia referir porque está de férias, logo não pode retorquir - tenta de todas as formas e feitios defender a honra de "Tegui", não hesitando em chamar "machistas"e "tecnocratas" aos que criticam a nomeação, chegando ao ponto de dizer que em qualquer cargo faria "um trabalho exepcional"; por outras palavras, Caeiro é pau para toda a colher ( a propósito, ver aqui o que pensa Clara Ferreira Alves sobre este caso). Mas é também, infelizmente, o rosto do mais despudorado compadrio e das maneiras de se pôr os amigos em postos-chave. Já agora, gostava também de saber porque raio é que puseram Diogo Feio na educação. Não nego que seja um bom jurista, ou bom docente, ou renomado especialista em questões fiscais. Mas será uma área tão sensível como a Educação o melhor laboratório para experiências deste gênero?
Resta pensar que se tal se passasse com outro qualquer partido teríamos logo Paulo Portas, de dedo em riste e voz em tom alto, protestando pela forma como "o compadrio e a corrupção se fazia a coberto dos dois maiores partidos". Sim, sim, pode o ministro da Defesa bramir contra os todos os críticos; não é novidade nehuma que a coerência não é o seu forte.
Para terminar, é absolutamente deplorável que do governo só tenham saído umas palavras de circunstância quanto aos fogos que mais uma vez lavram no país. Pensava-se que nada suplantaria o ano passado; vemos afinal que as situações podem ainda ser piores do que o que cremos inicialmente. O anterior executivo despediu-se á pressa; o actual lava as mãos, dizendo que se não tem quaisquer responsabilidades. Pois não, mas a base parlamentar é a mesma. Ou será este governo é esquizofrénico? Certo é que daqui a dias parte dos seus elementos estará na Quinta do Lago, no Ancão ou na marina de Vilamoura, esquecidos do cenário dantesco escondido por trás do Barrocal. Ou quem sabe, nem imaginam que há mais Algarve para além do dos seus pousos habituais.
SLB-Anderlecht: a reedição de velhos confrontos. Desta vez jogamos nós primeiro cá. Dia de S. Bartolomeu será em Bruxelas. Oxalá que com os resultados dos dois últimos encontros entre históricos.
Amanhã parto de férias. Tentarei, sempre que possível, ir actualizando o blog, co um ou outro post. Mas já se sabe que a silly-season é parca em trabalho de blogoesfera. A todos umas boas férias.