sábado, julho 31, 2004

Governo

Embora já se tenham passado alguns dias, não pude, por causa de afazeres vários, tecer ainda uma análise ao novo governo. Mas o momento é chegado. Falarei enfim de algumas escolhas para os ministérios e secretarias de estado.Não todos, evidentemente, já que alguns são-me pouco mais que perfeitos desconhecidos. Também não me pronunciei sobre as Finanças, MNE e Administração Interna, de que já falei há dias.


Desde já, como se pode calcular por posts passados, não sou de forma alguma entusiasta da dupla Santana/Portas. Considero-os dois malabaristas da política, dois homens que jogam tudo no populismo/oportunismo e no seu enorme instinto político, a quem o poder caíu nos braços de forma abrupta. Do primeiro tenho enorme receio, por tudo quanto deixou de herança nos lugares de responsabilidade que já teve (leia-se sobretudo dívidas); o segundo, pela imagem que tem dado tanto no seu partido, onde não hesitou em apagar antigos líderes da memória, ao melhor estilo estalinista, como no governo, onde continua a usar o seu populismo onde lhe convém, a justificar um caso de sorte com a protecção divina ou a exibir-se com novos brinquedos de uso subaquático. E ainda há, claro, as nomeações dos amigos, assunto a que aludirei mais adiante.
A entrada de Rui Gomes da Silva, Henrique Chaves e dos restantes santanistas não admira nada. Era previsível que a "entourage" do novo PM lhe seguisse os passos no governo (só falta mesmo Conceição Monteiro), ainda que sejam postos em cargos que para os quais não serão a melhor escolha. Álvaro Barreto servirá provavelmente como representante dos governos de Cavaco, e também para afirmar que têm "gente com experiência no cargo". Maria José Bustorff é apesar de tudo uma escolha melhor do que as que vinham a lume, mas terá muito trabalho pela frente, visto que nos últimos dois anos não tivemos praticamente titular da pasta. José Pedro Aguiar-Branco, advogado experiente e ex-titular da Ordem dos Advogados no Porto está dentro dos principais probemas no que toca à justiça, e sabe certamente quais os imbróglios que lhe aparecerão pela frente; será aliás curioso observar os actos de um governante que não era propriamente um entusiasta da ex-ministra Cardona (e aproveito para desejar boa sorte a Paulo Rangel, um dos poucos Secretários de Estado cientes do que lhe puseram em mãos), tal como o Bastonário Júdice. Restam-nos ainda Morais Sarmento, reconduzido ás mesmas funções (assim como Luís Filipe Pereira, que a ver vamos no que dá), e o resistente Arnaut, agora com funções acrescidas, para mal dos nossos pecados.



Mas o pior deste governo é sem dúvida a "contribuição" do PP, partido que como se sabe acusou os outros de serem insaciáveis de poder, quando ele próprio demonstra uma imensa avidez do mesmo, senão maior. Já aqui falei de Bagão, uma das maiores incógnitas deste executivo. Seria impossível não nomear o maior erro de casting desde a escolha de Diamantino Durão (lembram-se?): esse mesmo, Luís Nobre Guedes. Uma clara escolha de amigos. O homem que redigiu o programa político em que se pedia o fim do mesmo ministério que agora irá dirigir. Alguém que nunca trabalhou nas áreas do ambiente exepto para defender duas empresas (e não consta que fosse para defender os valores ambientais). Em suma, a escolha mais disparatada possível. Bem pode perorar Paulo Portas contra as críticas que lhe foram feitas; pergunta-se: mas que qualidades tinha LNG afinal para ficar com esta pasta? Suponho que a resposta seria um silêncio glacial. Com este senhor ministro do ambiente, a entrega da REN e RAN ás mãos dos autarcas e os incêndios engolindo cada pedaço de verde ainda existente, as questões naturais em Portugal serão em breve uma recordação vaga.
Com Telmo Correia seguiu-se a mesma via; devo dizer que não lhe conheço antecedentes no que ao Turismo diz respeito - se tem, peço desde já desculpa- pelo que me parece que houve aqui de novo um excessivo factor partidário. Paulo Portas, sube-se quase logo, continua à frente da defesa e, ao que parece, dos assuntos do Mar, embora só tivesse tido conhecimento disso na própria tomada de posse, o que revela desde já uma óptima organização governamental. Provavelmente o estudo de novos dossiers permitir-lhe-á descobrir novas aplicações para os "seus" submarinos.


Como é evidente, os secretários de estado foram colocados onde calhou. O caso mais mediático foi, evidentemente, o de Teresa Caeiro, a tal senhora que estava na Segurança Social, rumou à Defesa e acabou nas Artes e Espectáculos (mas não era ela que tinha uma relação sentimental com o representante da ENDEMOL?). O Acidental - ao qual não me devia referir porque está de férias, logo não pode retorquir - tenta de todas as formas e feitios defender a honra de "Tegui", não hesitando em chamar "machistas"e "tecnocratas" aos que criticam a nomeação, chegando ao ponto de dizer que em qualquer cargo faria "um trabalho exepcional"; por outras palavras, Caeiro é pau para toda a colher ( a propósito, ver aqui o que pensa Clara Ferreira Alves sobre este caso). Mas é também, infelizmente, o rosto do mais despudorado compadrio e das maneiras de se pôr os amigos em postos-chave. Já agora, gostava também de saber porque raio é que puseram Diogo Feio na educação. Não nego que seja um bom jurista, ou bom docente, ou renomado especialista em questões fiscais. Mas será uma área tão sensível como a Educação o melhor laboratório para experiências deste gênero?
Resta pensar que se tal se passasse com outro qualquer partido teríamos logo Paulo Portas, de dedo em riste e voz em tom alto, protestando pela forma como "o compadrio e a corrupção se fazia a coberto dos dois maiores partidos". Sim, sim, pode o ministro da Defesa bramir contra os todos os críticos; não é novidade nehuma que a coerência não é o seu forte.
Para terminar, é absolutamente deplorável que do governo só tenham saído umas palavras de circunstância quanto aos fogos que mais uma vez lavram no país. Pensava-se que nada suplantaria o ano passado; vemos afinal que as situações podem ainda ser piores do que o que cremos inicialmente. O anterior executivo despediu-se á pressa; o actual lava as mãos, dizendo que se não tem quaisquer responsabilidades. Pois não, mas a base parlamentar é a mesma. Ou será este governo é esquizofrénico? Certo é que daqui a dias parte dos seus elementos estará na Quinta do Lago, no Ancão ou na marina de Vilamoura, esquecidos do cenário dantesco escondido por trás do Barrocal. Ou quem sabe, nem imaginam que há mais Algarve para além do dos seus pousos habituais.

SLB-Anderlecht: a reedição de velhos confrontos. Desta vez jogamos nós primeiro cá. Dia de S. Bartolomeu será em Bruxelas. Oxalá que com os resultados dos dois últimos encontros entre históricos.


Amanhã parto de férias. Tentarei, sempre que possível, ir actualizando o blog, co um ou outro post. Mas já se sabe que a silly-season é parca em trabalho de blogoesfera. A todos umas boas férias.

quinta-feira, julho 29, 2004

Falando de outros blogs...

Rua da Judiaria tem estado sublime nos últimos tempos. Não só na denúncia da atroz situação do Sudão, onde se teme uma repetição dos acontecimentos do Ruanda dez anos depois, mas também na explanação das virtudes e defeitos do Muro de Israel (o ponto de vista da separação entre os povos até que haja um apaziguamento é muito bem focado, embora tenha as minhas discordâncias). Ainda relativo ao Sudão, as comparações entre genocídios vários e da relevãncia que se lhes atribuiu é merecedora de reflexão cuidada.
Só é pena que no post relativo a Frida Khalo, de 13 de Julho,Nuno Guerreiro não tenha posto uma pequena fotografia de Salma Hayek, no papel da mesma. Sempre dava um toque feminino mais agradável, ao lado das gravuras da menos vistosa Frida (a verdadeira).

O Panamá da Existência, perdão, Fora do Mundo acordou da sua letargia, já aqui mencionada há poucos posts. E quem mais o poderia ter feito senão o incontornável Pedro Mexia, que voltou à carga e em força? Pedro Lomba, eis um bom exemplo para levantar por momentos os olhos dos Códigos e do texto dos jornais em que escreve e vir escrever umas abundantes linhas no blog; em nome dos velhos tempos. A propósito, óptima a menção a Kirsten Dunst, para já não falar da sensualíssima fotografia. E só por aí se pode imaginar a enorme tortura de Peter Parker.

Altino Torres, do food-i-do, organizou um repasto em Gaia para os bloggers que aderissem, na noite do dia 30. Eu não faço parte de tal grupo porque, além de só ter visto  o prazo de inscrições tarde demais, no dito dia deverei estar em Trás-os-Montes. Mas com sorte ainda consigo vir à noite e tomar um mero copo. Se o Altino deixar, claro.

segunda-feira, julho 26, 2004

Novas do desporto

E o inevitável aconteceu: Lance Armstrong ultrapassou a mítica barreira das cinco vitórias consecutivas no Tour e chegou aos Champs Elysées já hexacampeão, deixando para trás Miguel Indurain e outros grandes atletas cujo nome agora me falha. Um feito homérico, depois de dias e dias subindo os Alpes e os Pirinéus e fazendo distâncias imensas, apesar da preciosa ajuda do resto da equipa.
Tenho de fazer uma pequena confissão: no fundo, estava com esperança que Armstrong desta vez não chegasse lá de amarelo. Porque a dobragem das cinco voltas faria caír um recorde, mas tiraria toda a carga mitolõgica desse número no Tour, que durante décadas nunca deixou de ser alvo apetecido por parte dos melhores ciclistas. ou seja, a sensação do cume da montanha estar ainda por atingir. O que daria uma ponta de inantigibilidade à mei-dúzia.
Mas enfim, os recordes são para se bater, e seria extremamente cruel que Armstrong tivesse um percalço mais grave no fim da prova que lhe retirasse a vitória pela qual tanto se tinha batido. Até porque o seu mérito é algo de indubitável. O homem que já tinha vencido a batalha da vida (os seus afamados problemas cancerígenos) atinge agora um restrito patamar ao qual raríssimos atletas chegaram. Os melhores, precisamente. E no selim do velocípede, Lance é incontestavelmente o melhor.
A meia dúzia de Tours está atingida. A ver quando é que alguém agora conseguirá sete. Talvez o próprio, para o ano. Ou quem sabe se, mais liberto da sua função de auxiliar, o ciclista luso José Azevedo não tentará uma gracinha maior do que o quinto lugar?


Um encontro de titãs deu-se hoje no Estádio da Luz. Os grandes ibéricos reencontraram-se, num jogo que acabou num democrático 2-2. O SLB parece realmente mais organizado, com as jovens promessas como Amoreirinha, Bruno Aguiar e Manuel Fernandes a mostrar trabalho, um Miguel a quem as férias não terão tirado ímpeto, um Geovanni mais confiante, um Sokota sempre incisivo, e um Zahovic que se deve ter passado! Julgará ele que é novo e que consegue jogar da forma como tem demonstrado ou quê? Pois se assim pensa, melhor para ele e para nós.E ainda faltam os lesionados Carlitos (outra promessa) e Nuno Gomes. Para além de um "matador", que é do que realmente se precisa para completar o puzzle e formar uma equipa completa que possa enfrentar em competições oficiais o Real Madrid e afins. Esperemos é não nos encontrar com a equipa de Camacho já na eliminatória para a Liga dos Campeões: seria na realidade começar tal competição pelo fim. E depois não tinha piada nenhuma ver o Real fora da Champions.

O Brasil venceu a Copa América, batendo a Argentina nos penalties, com o golo do empate que ditaria a cruel decisão a ser marcado no minuto final, ao que parece. Não tenho SportTV, logo não pude assistir à competição, mas pelo que ouvia a turma das Pampas era muito superior à dos canarinhos, aliás desfalcados de Ronaldo e Cia. Parece que afinal os melhores não ganharam. Mas não é o que tem mais acontecido? Afinal de contas, e de forma análoga, também a Grécia conquistou a Taça do Euro há três semanas atrás.

domingo, julho 25, 2004

Carlos Paredes -1925-2004
 
A guitarra estava já calada há largos anos. Agora, a sua Alma apagou-se definitivamente.

quinta-feira, julho 22, 2004

Panamá da Inércia

Não percebo porque é que criaram o Fora do Mundo, se rapidamente o põem fora da actualidade. A junção entre o Mestre da Aviz  e a coluna mexiano-lombar anda demasiado lassa. Afinal quando é que se vêem algumas linhas novas? razão tem o Esplanar para lhe atribuír o epíteto de Panamá da Existência. Aguardam-se novas daqueles lados.

PS: reconsiderem este meu post; os rapazes do inerte blog regressaram aparentemente à vida e até postaram gozando com a sua condição de Panamianos da blogoesfera.

quarta-feira, julho 21, 2004

Retorno de fim-de-semana musical
De regresso aos posts, e ainda sem ter uma visão muito clara do novo governo, escusar-me-ei  hoje a comentar os componentes do executivo - para além disso é tarde, e não estou com grande inspiração para divagações ministeriais a esta hora. Oportunamente falarei disso.

Quando se fala daquelas bandas de pop/rock, outrora consideradas  "alternativas",  nascidas há mais de vinte anos e cujo volume de vendas vai em amplo declínio, costuma-se dizer que "não resistiram ao tempo", e que "é um milagre que ainda subsistam".
Depois de Sábado passado percebi que tais confrarias musicais ainda estão aí para as curvas. De facto, um dos melhores exemplos do que ficou escrito em cima proporcionou uma exibição memorável e extensa, juntando êxitos e novidades na medida certa e, pasme-se, regressando por três vezes ao palco. Falo, como é óbvio, dos britânicos The Cure, que deram tons de magia à noite do Alto Minho. Robert Smith, esse mítico frontman da banda, com o seu eterno e mundialmente conhecido cabelo à palmeira (outros preferem compará-lo com um ouriço-cacheiro ou com um anarco-sindicalista, com alguma razão) e maquilhagem borratada apresentou-se intenso, com laivos de melancolia, sobretudo quando saía de cena, mas animado, sem dúvida, tendo em conta o anormal tempo que a banda se manteve em acção. Não faltaram as eternas "A Night like This", "Just in Heaven" (lado-B de "Anzol", dos Rádio Macau) ou "A Forest". O público saíu animado, e crê-se que os músicos, que na véspera tinham estado em Santiago, também. Por mim, que já apreciava a banda, irei logo que possível a uma qualquer FNAC vasculhar o essencial dos Cure que me falta. Com os constantes - mas adiados - rumores de que o grupo acaba mais dia menos dia dificilmente voltarei a vê-los. Mas a noite de Sábado, entre montes, azenhas e campos de milho, já ninguém ma tira. Não é todos os fins-de-semana que surge a oportunidade de ver ao vivo um clássico como a banda de Robert Smith, tocando o intemporal "Boys don´t Cry" enquadrado pelos seus desgrenhados e mitológicos cabelos.

 
É claro que isto se passou no não menos mítico festival de Vilar de Mouros, povoação pacata e verde nas outras alturas do ano. Nestes últimos dias, pelo contrário, juntaram-se aos moradores milhares de estudantes, hippies, rastas, punks,  urbano-depressivos, galegos, PALOPs, ingleses, juristas e, no fecho da edição, uma vaga de saudosistas pertencentes a uma faixa etária algo superior (embora não tenha visto o Maestro Vitorino de Almeida, mentor destas coisas desde o seu início). Com dezenas de vendedores ambulantes, DJs de serviço e mesas de matrecos, além de algumas sessões de cinema ao ar livre, o caldo ficava completo.
Quanto à atracção propriamente dita, ou seja, a música de palco, posso dizer que Peter Gabriel está em plena forma, tendo mostrado um excelente espectáculo (o homem salta, corre, dança, eu sei lá); já os Chemical Brothers desiludiram-me,  silenciosos com a sua discoteca ao vivo, embora o jogo de luzes e lasers tivesse o seu interesse; os Clã foram iguais a si próprios,  pondo sempre o público em semi-delírio; de PJ Harvey esperava mais qualquer coisinha, ainda que a actuação tivesse sido intensa e poderosa, mas deu a sensação de ser demasido rápida, de saber a pouco; a Macy Gray não prestei grande atenção, mas parece-me que com o seu penteado mastodôntico, a voz em alta potência e a companhia das esbeltas meninas a cantar soul cativou realmente o público. Quanto à legend, o génio, a referência de gerações Bob Dylan, bem, pode-se dizer que ainda tem voz, se bem que as suas palavras não sejam totalmente inteligíveis, e também não ficou assim muito tempo em palco, frente aos seus sintetizadores. Mas sempre deu para vê-lo a uns metros, sobretudo aos cinquentões e sessentões que acorreram em massa (embora não tenha permitido que os ecrãs gigantes o revelassem), e apesar de tudo o concerto teve ritmo e simpatia quanto bastasse, como se fosse entre um grande grupo de amigos.
A partir de agora, Vilar de Mouros volta à tranquilidade e bucolismo que a caracteriza. E merece-os, claro.

 
Outros blogs já tinham feito elogiosas alusões a um novo lançamento, mas só agora é que lhe pude dar real atenção, só para confirmar o que de bom se afirmava dele. O post intitulado "From China, with hate" diz exactamente o que eu penso sobre tal regime e tal país. Mas o blog vale pelo seu todo. A partir de hoje há que consultá-lo compulsivamente.

sexta-feira, julho 16, 2004

As Razões de Vitorino

António Vitorino, dado como o "D. Sebastião" do PS, recusou mais uma vez a passadeira vermelha que lhe estendiam e não se assumiu como futuro líder do Partido da Rosa. A decisão só pode surpreender os mais desatentos. Há diversos factores a ter em conta e que mostram bem o porquê da "nega".
Vitorino não esteve na Comissão Europeia por acaso. Durante o seu mandato como Comissário para a Justiça desempenhou um papel de elevadíssima importância em dossiers tão relevantes como o do terrorismo. Teve um trabalho que está já a dar os seus frutos e que lhe granjeou um enorme prestígio nas comunidades europeias. Relembre-se o quase desespero de Prodi quando surgiu a hipótese de substituir Guterres à frente do PS. Vitorino preferiu então continuar com o seu trabalho, que, relembre-se, respeitava a toda a União e não somente ao seu país; como agora quis continuar com o seu cargo até Outubro. sem interrupções partidárias. Todos esses actos granjearam-lhe uma aura de competência e respeitabilidade raros, que aliás José Manuel Fernandes expôs de forma clara no editorial do Público de ontem , o que lhe agradeço desde já por me poupar adjectivos (embora não concorde com a parte em que diz que "o país se desmorona à nossa frente", pelo óbvio exagero).
É exactamente por este prestígio granjeado ( e não nos esqueçamos que um político que convive com os grandes actores internacionais fica sempre prestigiado aos olhos dos seus) que o PS o quis tão sofregamente a comandar os destinos no Largo do Rato. Sucede no entanto que no panorama partidário português o PS é mais clientelar entre os clientelares, o movimento que congrega mais invejas, compadrios e interesses de toda a ordem na política nacional. As guerras fratricidas são uma constante, e mesmo agora prepara-se uma nova, entre neo-Guterristas, essencialmente. O que seria de admirar era a hipotética vinda de Vitorino para o partido. Mas quem tem as suas competências, o seu prestígio e demais qualidades jamais poderia aceitar de bom grado tomar o leme de tal organização. As frases que usou na conferência de imprensa que deu foram elucidativas. e reveladoras da superioridade do comissário sobre os mesquinhos jogos do aparelho partidário.
Indignaram-se algumas figuras graduadas do socialismo português. Como se atrevia Vitorino a mais uma vez recusar o bastão de marechal que tão generosamente lhe queriam colocar nas mãos? Que desplante, o de querer dar mais atenção aos seus últimos trabalhos na Comissão em vez de tomar as rédeas da oposição! Quando quiser voltar mais tarde, todos lhe voltarão as costas.
Ninguém terá pensado que Vitorino não precisa que lhe façam reverências (provavelmente com punhais escondidos), e muito menos que poderá jamais estar interessado em estar à frente do partido? Ou que tem uma vida própria, e que ninguém tem o direito de lhe indicar o seu futuro, e muito menos querer pôr o PS à frente da sua vida pessoal ou mesmo dos destinos da Europa?
Provavelmente não. Viam apenas o partido à sua frente, triunfante numas legislativas futuras, e atrás dele uma infinidade de novas oportunidades à espera que novos "boys" as agarrassem em força. Nada mais lhes poderia interessar. Eis aquilo a que Vitorino avisadamente se furtou, impedindo que o usassem para alcançar o Eldorado das serventias públicas, como de coisa própria se tratasse. E só por aí se pode ver o carácter e a inteligência de alguém que pode dar muito ao país sem colocar a sua imagem em cheque em questões menores. Porque está infinitamente acima disso.

A escolha de Bagão Félix para as Finanças Públicas é algo surpreendente, não só pelo seu trabalho à frente do seu ex-ministério ter sido controverso como também pela não ocupação de nenhum cargo de relevo em tempos recentes nesta área. A decisão que levou à nomeação será provavelmente motivada por trocas de pastas com o PP, e pela sua experiência na banca. Pede-se-lhe que siga uma política de rigor (embora não fosse demais exigir-lhe que fizesse os cortes orçamentais necessários nas áreas certas) e que não desbarate as contas públicas com eventuais delírios santanistas. Dá-se o benefício da dúvida. Mas um costume mantém-se: os sindicatos estão contra e as organizações empresariais a favor.
António Monteiro parece-me uma boa escolha, não só por ser amplamente respeitado no meio mas também por uma ocasião onde o vi a desempenhar um papel crucial : a crise de Timor, em 1999. Esteve em cargos de alto prestígio, na ONU e como embaixador em Paris (simbolicamente o apogeu da carreira diplomática), e preparava-se para ir para Madrid ou, segundo ouvi também, reformar-se da actividade. A alternativa óbvia era exactamente tornar-se o novo inquilino das Necessidades.
De Daniel Sanches quase nada sei, como aliás seria de esperar de um antigo dirigente do SIS.
Retenho na memória que António Mexia é um fiel santanista. De Álvaro Barreto lembro-me no governo de Cavaco Silva, embora fosse uma figura de mediano relevo, mas pergunto-me porque terá decidido ser o Decano do novo executivo, para mais com a pasta da Economia.
As restantes peças governamentais conhecê-las-emos até á tomada de posse, dia 20. Até lá, gozemos a descoberta de novas caras. E já agora, a tentar adivinhá-las.

quinta-feira, julho 15, 2004

14 Juillet

Muitos não se lembraram, mas hoje é 14 de Julho. Há exactamente 215 anos caía a Bastilha, e tinha início um movimento que mudaria a Europa e o Mundo.
Apesar da minha posição de regime não coincidir totalmente com as utopias dos revolucionários (ver a razão no subtítulo do blog), é inegável a importância de tal acontecimento. É certo que um enraizado anti-francesismo, assinalável não só nos países anglo-saxónicos mas também noutros pontos, como Portugal, tende a menorizar a Revolução, fazendo sobressair apenas os aspectos mais Jacobinos e sangrentos, ou seja, o Terror. Num post recente,
O Acidental dizia isso mesmo nas entrelinhas, tentando sobrepôr-lhe as Revoluções Americana e Inglesa. Mas comparar a importância de tais movimentos com a da "Revolution" é um exercício impossível de se fazer, a não ser que se usem argumentos falacciosos.
A Glorious Revolution inglesa do séc. XVII teve sem dúvida o mérito de instalar definitivamente o parlamentarismo em Inglaterra; mas colocou também no poder um ditador puritano, Crommwell, que não hesitou em anexar a católica Irlanda e liquidar todos quantos se lhe opunham. Os ingleses apreciaram tanto a sua governação que depois da sua morte reinstalaram a Monarquia, ficando para todo o sempre vacinados contra a república. As suas ideias de parlamentarismo ficaram isoladas na ilha inglesa e não atravessaram o Canal da Mancha.
A Revolução Americana teve mais genuinidade, para além de um real desejo de liberdade não só do ponto de vista da independência nacional mas também de direitos dos cidadãos. A Constituição Americana é um documento notável para a sua época, que em parte resistiu ao tempo. Os seus ideais tiveram inspiração directa no iluminismo europeu, através das relações que homens como Jefferson e Franklin tiveram com os filósofos franceses. Por sua vez, os gauleses que participaram na Guerra da Independêcia Americana reexportaram esses mesmos ideais. O resultado verificou-se alguns anos depois, no dia que hoje se comemora.
A Revolução Francesa mudou um país de forma violenta e meteórica. O tipo de regime que durante séculos vigorara, inquebrantável e omnipotente, caíu com estrondo perante um povo sedento de vingança comandado por uma burguesia ainda mais sedenta de poder. Um cocktail incendiário, que quando acalmou produziu um déspota, Napoleão, que nos seus sonhos de união europeia (bem diferente da actual) acabou por espalhar a semente da Revolução. Nos 40 anos que se seguiram o continente tremeu com as alterações político-sociais que se verificaram - em Portugal com a Revolução Liberal - ou com as novas revoluções que surgiram (particularmente em 1848), e ainda com as alterações geográficas que levaram à criação de novos e poderosos estados, com destaque para a Itália e a Alemanha. A influência revolucionária atravessou os mares e contaminou a América do Sul, com os novos estados que aí surgiram em catadupa.
O legado da Revolução Francesa é extraordinário e de uma força impressionante, pese a violência que produziu. Deu também origem, em parte, à Revolução Russa de 1917 (ando so son...) Os efeitos são hoje bem conhecidos. E foram sem dúvida muito mais influentes e sentidos no mundo que os produzidos pelas revoluções anglo-saxónicas.
Atempadamente farei um post sobre o anti-francesismo.

sábado, julho 10, 2004

A decisão


O maior mistério do ano depois da revelação do treinador do Benfica está enfim desvendado. Ao contrário da minha última profecia - e começo a errar palpites a mais - o PR resolveu nomear um governo com base na actual maioria e manter legislatura existente. O seu anúncio provocou alívio á direita, raiva à extrema-esquerda e a queda do líder de centro-esquerda, numa atitude quanto a mim incompreensível.
Nos últimos dias, medindo os prós e contras de cada uma das decisões, considerei que a convocação de eleições seria talvez o mal menor. Se o chefe do governo largava o mesmo abruptamente para desempenhar um cargo comunitário, e se deixava como sucessor alguém que tinha apenas a legitimidade de uma comissão política, não fora sequer candidato ás últimas legislativas e tinha um compromisso válido com os eleitores da capital (num desempenho no mínimo polémico), imediatamente após uma derrota eleitoral pesada, bem mais influente do que a derrota autárquica do PS em 2001 que precipitou o governo de então, então melhor seria chamar-se os leitores a pronunciar-se. não foi no entanto esta a leitura de Sampaio. Sem ficar escandalizado, e compreendendo em parte os seus pontos de vista, discordo pelas razões já mencionadas. Entendo que apesar de tudo o PR actuou da forma que lhe pareceu mais justa e menos gravosa. Mesmo sabendo quem ocupará a chefia do governo.
Aí reside o cerne do problema. Santana é o bon-vivant da política que por onde passou jamais deixou um trabalho valoroso, antes pelo contrário, para além de apresentar um discurso vazio de conteúdo. Portas é um conservador com pretensos moralismos, que não hesita em mudar de princípios quando lhe convém, como quando se viu no papel das suas vítimas nos tempos do Independente; tem um instinto de sobrevivência raro e não hesitou, quando tal lhe convinha, em apagar as memórias do seu próprio partido. Estes dois homens têm duas características comuns: oportunismo e um imenso populismo. É esta dupla que se prepara para governar o país. Um cenário tenebroso, caótico, apelador dos sentimentos mais negativos de "resistência". E que acaba por dar razão a Manuel Monteiro, quando afirmava há tempos que Santana e Portas tinham planos para tomar conta do país.
O outro ponto de interesse vem directamente do largo do Rato. Sem que nada o fizesse prever, Ferro rodrigues considerou a decisão de Sampaio "uma derrota pessoal" e abandonou a liderança do PS, três escassas semanas após a maior vitória de sempre do seu partido, e quando parecia saír das ondas tumultuosas que o rodearam no último ano. É uma decisão incompreensível, que a meu ver resulta de uma de duas hióteses: ou Ferro esperava de forma indelével uma outra resposta de Sampaio e teve uma precipitação inimaginável para um líder de um partido à escala do PS; ou então era uma escolha mais ponderada, motivada pelos combates entre os tubarões no interior do partido, e, porque não, pelo regresso de Vitorino, a grande esperança do partido (e talvez do país), a quem inclusivamente pode ter querido dar o lugar por lhe reconhecer um melhor perfil para o cargo. Estas são as razões que encontro para o inesperado abandono de Ferro Rodrigues, um líder algo inábil mas honesto, e que parecia ter alcançado um forte grau de resistência.
À direita, como se esperava, reina o contentamento. A esquerda ficou desiludida e a extrema-esquerda histérica. Ana Gomes parece não saber controlar as próprias palavras quando lhe é exigido. O Barnabé publicou de rajada quinze posts, com lamentos de raiva, incitamentos a "manifs" e arrependimento por ter votado em Sampaio, "esse traidor". Era bom que houvesse, como o PR preconiza, alguma serenidade. Que se pensasse que pelo seu cargo não pode seguir ideias partidárias ou ideologias demasiado marcadas, mas tão só a sua consciência, a CRP e a vontade do povo, ao contrário do que pensam alguns que lamentam a "traição". É em momentos como este que percebo a razão de ser monárquico, e me congratulo com isso.

PS: horas depois deste anúncio, e enquanto se vivia o reboliço da reacção, morreu Maria de Lurdes Pintassilgo, a única primeira-ministra que Portugal teve. Uma perda muito grande num país que num só mês perdeu Sousa Franco e Sophia, não esquecendo Henrique Mendes; e agora Pintassilgo. Os tempos estão difíceis para as pessoas de real valor. Paz à sua alma.

sexta-feira, julho 09, 2004

O Rei do jet set ataca em força

De certa forma já se esperava. Com um apoio de tal ordem ( e que além do mais "não gosta de coisinhas moles"), temo que a balança se incline esmagadoramente para o lado de Santana. Sampaio poucas possibilidades terá de se furtar a uma tão grande influência na vida social do país.

quinta-feira, julho 08, 2004

Sentimentos de tristeza e desejos para o futuro

Sim, eu sei, já se passaram três dias,mas o desgosto inicial e os afazeres não me permitiram comentar a situação mais cedo. Sim, é óbvio que me refiro à triste final de Portugal no Domingo.
Desde já, não tenho contemplações com fair-plays nem em 2reconhecer que o adversário mereceu". Não, não mereceu. Porque era incapaz de fazer uma jogada completa que esboçasse um leve movimento de ataque. Porque se remeteu quase todo o jogo teimosamente à defesa, marcando o único golo num canto em que confiou na altura dos avançados e na sorte (e teve-a). E é este ponto que me enerva: uma equipa que nunca tendo feito nada em qualquer prova internacional consegue, na sua primeira final, com um anti-jogo permanente, vencer a outra seleção em campo (no seu campo), quando esta, também estreando-se numa final, já tinha passado por outros combates em anos anteriores? Sim, a sensação que tenho é a de uma enorme injustiça, de tanto trabalho para nada, de um sonho destruído, ao passo que outros que pouco fizeram e nem tinham o mesmo sonho nos arrebataram aquilo que devia ser nosso pelas regras mais básicas da justiça. Diga-se o que se disser, o desfecho é em tudo imerecido, e a seleção grega é premiada pelo seu futebol-bocejo e pela crença constante de um golo caído literalmente do céu- ou do Olimpo. E nada me causou mais impressão do que ver as lágrimas dos jogadores, sobretudo as de Rui Costa, cabisbaixo, no "seu" estádio da Luz, entre os confettis helénicos, depois de tudo ter feito para alterar a marcha inexorável do marcador no seu último jogo pela seleção; e que por isso mesmo, a última oportunidade lhe fora sonegada. Não, ele mais do que todos não merecia isto.
Os jogadores portugueses foram e são uns heróis. Mas os heróis, como é sabido desde a mais remota antiguidade, nada podem contra a fúria dos Deuses.
Há pois que reflectir: será o eterno Fado Lusitano, que nos impede sempre de alcançar as glórias que a outros não escapam ( e haverá maior glória actualmente do que erguer uma Taça perante os olhos do Mundo e os aplausos do respectivo povo?) Ou será apenas esta final mais uma etapa para isso, como que um Cabo das tormentas enfim ultrapassado, faltando ainda a preparação final para "chegar à Índia"? A resposta segue dentro de momentos.
Não esquecer, claro, que os Jogos Olímpicos estão quase aí, e serão precisamente nas origens: Atenas. Que melhor ocasião para recuperar a Glória perdida, como castigo aos helenos (que actualmente não passam de um cruzamento de eslavos com turcos e muito pouco da raça original nas veias)?
As minhas palavras não estão realmente amáveis para a Grécia, sobretudo tendo em conta a sua influência na denominção deste blogue. Isto vai passar, sem dúvida, como tudo. Mas ficou-me a ideia de uma pequena travessura: ainda um dia hei-de trocar a bendeira grega da Acrópóle - que flameja atrás do partenon, dando a imagem de um navio encalhado num recife - por uma bandeira das quinas. As consequências para mim seriam funestas, mas realizaria a vingança perfeita.

Ainda no futebol, desvendou-se enfim o segredo do defeso: a "velha raposa" Trapatonni, um dos técnicos mais conceituados - e premiados- do Mundo, é o novo treinador do Benfica. Confesso que à primeira audição tal nome não me agradou, tendo em conta o seu passado recente na "Squadra Azurra" e as suas tácticas maioritariamente defensivas. Mas olhando para o seu curriculum clubístico, recente e antigo, animei-me mais, e neste momento posso dizer que sinto alguma confiança. Veremos, veremos, até porque velhos são os trapos, não os "Trapas".
Convém no entanto, passado que está o EURO, desfutebolizar um pouco. A higiene mental assim o exige. A vida continua, e lenta e pausadamente, as bandeiras vão sendo retiradas das janelas e das varandas onde drapejam. Porque sabemos agora que, mais tarde ou mais cedo, serão de novo usadas. Com um orgulho novo e terno, que até aqui não existia.
Em relação aos efeitos do EURO falarei nos próximos dias. Amanhã espera-nos, muito provavelmente, a mais difícil decisão da carreira presidencial de Jorge Sampaio. Inclino-me mais para que em breve sejamos de novo chamados ás urnas. Aguardemos "com serenidade", como diz o PR.

domingo, julho 04, 2004

Hoje é o dia


Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram
Que eu canto o peito ilustre Lusitano
A q Neptuno e Marte obedeceram
Cesse tudo o que a Musa antiga canta
Que outro valor mais alto se alevanta
.

Canto I
A Sophia


Quando me iniciei nas primeiras letras, a minha mãe comprou-me um livro quadrado de folhas macias, que tinha como título "A Floresta". Nele descobri os prazeres da leitura, entre casas misteriosas, anões, tesouros, poetas e personagens de fábula. Tudo numa escrita cristalina e fortemente adjectivada. Seguiram-se outros: "O Rapaz de Bronze", "A Fada Oriana", "A Menina do Mar" (lindíssimo, comovente!), "O Cavaleiro da Dinamarca" (o meu favorito)e "A Noite de Natal", de onde se adaptou a peça nos meus longínquos tempos da catequese dos Dominicanos, em que participei com um papel menor. De esses todos só me faltou, creio eu, "A Árvore".
Um dia uma senhora apareceu a falar na televisão. Disseram-me que era a autora de todos esses contos que eram a base da minha leitura da época. Fiquei pois a imaginar aquela pessoa a escolher os adjectivos para adaptar a cada situação, a entoar cada sílaba e a chegar ao fim da história com uma magia renovada. Jamais me esqueci do seu nome: Sophia. Mais tarde conheci a sua poesia, tão marítima e helénica, os "Contos Exemplares", e as "Histórias da Terra e do Mar". Soube do seu percurso social, familiar, intelectual e político, que era portuense, como eu, do casarão dos Andersen, no actual Jardim Botânico, tão próximo da minha própria casa. Pude conhecê-la melhor por este texto - cortesia do BdE - do seu filho Miguel, que a admirava infinitamente. E soube que fora casada com outra personalidade "bigger than life", Francisco de Sousa Tavares.
Desapareceu agora, lamentada por uma nação latentemente em estado de euforia. Deixando-nos a todos orfãos. Mas em vão: a sua poesia entranhou-se incontornavelmente em nós. E todos os seus contos continuarão a ser lidos por gerações sem fim. Foram eles a base da minha aprendizagem literária. Onde quer que ela esteja, no Mar, no Céu ou no Olimpo, não esquecerei Sophia.

sábado, julho 03, 2004

Sophia de Mello Breyner Andersen 1919-2004

Marlon Brando 1924-2002


Por vezes Deus sente-se Só...terrivelmente Só, no Seu trono celestial de onde observa, ubiquamente, o Mundo. É em momentos assim que resolve chamar para o Seu lado alguns dos Seus filhos mais geniais.

sexta-feira, julho 02, 2004

Simplesmente revoltante


Santana Lopes eleito presidente na Reunião do Conselho Nacional


Grécia apurada para a final com um golo de prata

Dez mil pessoas à beira da morte no Sudão

A primeira por ser uma tentativa de legitimar um governo nacional com os votos de uma comissão que se submete à disciplina partidária, pondo à sua frente alguém que ninguém explica que atributos tem para o cargo.
A segunda porque não mereciam de todo, além de praticarem o futebol mais maçador do campeonato. Esperemos que sejam derrotados no Domingo, porque já tiveram uma recompensa demasiado grande para as respectivas qualidades técnicas - e a perder, preferia mil vezes que fosse com os checos.
A terceira porque representa tão simplesmente a miséria humana no seu todo. Ninguém levará jogos de futebol áquela gente. Ninguém lhes construirá casinos, ou montará festivais de rock, nem escolherá os seus dirigentes para líderes internacionais. Ninguém os verá escrever em blogues. E acima de tudo ninguém verá festa, euforia ou aclamações daquelas pessoas. Deles só mostrarão lágrimas, fome e doença. Para provar o quanto somos privilegiados.

quinta-feira, julho 01, 2004

E pronto!

Portugal está enfim numa final internacional. Até agora só tinha ocorrido ao nível de clubes. Pela primeira vez é a Selecção sénior que alcança o feito. Em casa. No nosso EURO. Frente à Laranja Mecânica. Com golos totalmente portugueses, apesar da tremenda linha avançada do adversário.
É sintomático que não se tenha verificado a mesma dose de emoção do jogo contra a Inglaterra. De facto, não se podiam correr riscos desnecessários de doenças cardíacas com nova ronda de grandes penalidades. Hoje ficámo-nos pela vitória normal, coroada ainda por cima com um golo do outro mundo de Maniche. Passámos à final semi-tranquilamente, à hora de jantar (coisa que uma vez mais o José Mário Silva, do BdE, não teve, ocupado que estava com o relato ao vivo). As buzinadelas fizeram-se ouvir. Mas é bom que haja alguma moderação. Sobretudo para poupar energias, se Domingo tivermos aquela grande alegria que não conseguimos em 66, 84 e 2000. E que de algum modo, conseguimos hoje, ineditamente.