De regresso aos posts, e ainda sem ter uma visão muito clara do novo governo, escusar-me-ei hoje a comentar os componentes do executivo - para além disso é tarde, e não estou com grande inspiração para divagações ministeriais a esta hora. Oportunamente falarei disso.
Quando se fala daquelas bandas de pop/rock, outrora consideradas "alternativas", nascidas há mais de vinte anos e cujo volume de vendas vai em amplo declínio, costuma-se dizer que "não resistiram ao tempo", e que "é um milagre que ainda subsistam".
Depois de Sábado passado percebi que tais confrarias musicais ainda estão aí para as curvas. De facto, um dos melhores exemplos do que ficou escrito em cima proporcionou uma exibição memorável e extensa, juntando êxitos e novidades na medida certa e, pasme-se, regressando por três vezes ao palco. Falo, como é óbvio, dos britânicos The Cure, que deram tons de magia à noite do Alto Minho. Robert Smith, esse mítico frontman da banda, com o seu eterno e mundialmente conhecido cabelo à palmeira (outros preferem compará-lo com um ouriço-cacheiro ou com um anarco-sindicalista, com alguma razão) e maquilhagem borratada apresentou-se intenso, com laivos de melancolia, sobretudo quando saía de cena, mas animado, sem dúvida, tendo em conta o anormal tempo que a banda se manteve em acção. Não faltaram as eternas "A Night like This", "Just in Heaven" (lado-B de "Anzol", dos Rádio Macau) ou "A Forest". O público saíu animado, e crê-se que os músicos, que na véspera tinham estado em Santiago, também. Por mim, que já apreciava a banda, irei logo que possível a uma qualquer FNAC vasculhar o essencial dos Cure que me falta. Com os constantes - mas adiados - rumores de que o grupo acaba mais dia menos dia dificilmente voltarei a vê-los. Mas a noite de Sábado, entre montes, azenhas e campos de milho, já ninguém ma tira. Não é todos os fins-de-semana que surge a oportunidade de ver ao vivo um clássico como a banda de Robert Smith, tocando o intemporal "Boys don´t Cry" enquadrado pelos seus desgrenhados e mitológicos cabelos.
É claro que isto se passou no não menos mítico festival de Vilar de Mouros, povoação pacata e verde nas outras alturas do ano. Nestes últimos dias, pelo contrário, juntaram-se aos moradores milhares de estudantes, hippies, rastas, punks, urbano-depressivos, galegos, PALOPs, ingleses, juristas e, no fecho da edição, uma vaga de saudosistas pertencentes a uma faixa etária algo superior (embora não tenha visto o Maestro Vitorino de Almeida, mentor destas coisas desde o seu início). Com dezenas de vendedores ambulantes, DJs de serviço e mesas de matrecos, além de algumas sessões de cinema ao ar livre, o caldo ficava completo.
Quanto à atracção propriamente dita, ou seja, a música de palco, posso dizer que Peter Gabriel está em plena forma, tendo mostrado um excelente espectáculo (o homem salta, corre, dança, eu sei lá); já os Chemical Brothers desiludiram-me, silenciosos com a sua discoteca ao vivo, embora o jogo de luzes e lasers tivesse o seu interesse; os Clã foram iguais a si próprios, pondo sempre o público em semi-delírio; de PJ Harvey esperava mais qualquer coisinha, ainda que a actuação tivesse sido intensa e poderosa, mas deu a sensação de ser demasido rápida, de saber a pouco; a Macy Gray não prestei grande atenção, mas parece-me que com o seu penteado mastodôntico, a voz em alta potência e a companhia das esbeltas meninas a cantar soul cativou realmente o público. Quanto à legend, o génio, a referência de gerações Bob Dylan, bem, pode-se dizer que ainda tem voz, se bem que as suas palavras não sejam totalmente inteligíveis, e também não ficou assim muito tempo em palco, frente aos seus sintetizadores. Mas sempre deu para vê-lo a uns metros, sobretudo aos cinquentões e sessentões que acorreram em massa (embora não tenha permitido que os ecrãs gigantes o revelassem), e apesar de tudo o concerto teve ritmo e simpatia quanto bastasse, como se fosse entre um grande grupo de amigos.
A partir de agora, Vilar de Mouros volta à tranquilidade e bucolismo que a caracteriza. E merece-os, claro.
Outros blogs já tinham feito elogiosas alusões a um novo lançamento, mas só agora é que lhe pude dar real atenção, só para confirmar o que de bom se afirmava dele. O post intitulado "From China, with hate" diz exactamente o que eu penso sobre tal regime e tal país. Mas o blog vale pelo seu todo. A partir de hoje há que consultá-lo compulsivamente.
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