Pela primeira vez na sua história, o Benfica defronta o Nápoles, na primeira eliminatória da Taça UEFA. Um sorteio pouco feliz assim o determinou. O grande clube do Sul de Itália pode não estar na forma do fim dos anos 80, mas no seu S. Paolo, com uma turba fanática e uma equipa aguerrida e bem montada, é um adversário temível. Por alguma razão todos os grandes de Itália perderam lá no ano passado.
Antes do apogeu na década de oitenta, o clube já tinha ganho uma ou outra taça sob a direcção de Achille Lauro, poderoso armador, Sindaco de Nápoles durante alguns anos e líder dos monárquicos italianos a nível nacional (no referendo de 1946 que instituiu a República, a monarquia teve as suas maiores votações precisamente na Campânia: mais de 60%), mais conhecido também pelo assalto a um navio com o seu nome. Até que chegou o seu novo Deus Maradona, cuja idolatria repartem com os argentinos: o pequeno génio deu a ganhar ao clube dois scudettos e uma Taça UEFA, coisa só em sonhos imaginada pelos napolitanos. Depois da sua partida, o clube começou a decair. Teve mais uma ou outra participação nas competições europeias, e depois tombou nas divisões secundárias, vergado pelo passivo financeiro. Recuperado da falência pelo empresário Aurelio di Laurentiis (sobrinho de Dino De Laurentiis), voltou em 2007 à Serie A e à UEFA. Além de Diego Armando passaram por lá jogadores Careca, André Cruz, Jonas Thern, Ciro Ferrara ou Fabio Canavarro, e técnicos tais como Marcello Lipi.
Mas não é só a Maradona que os napolitanos, povo crente, veneram. O padroeiro da cidade, San Gennaro (ou São Januário), é alvo de um culto célebre, que inclui o milagre anual da liquefacção do seu sangue, durante a sua festa. Que ocorre precisamente...Sexta-Feira, 19, no dia a seguir ao jogo com o Benfica. Significa portanto que os napolitanos não poderão pedir pelo seu clube o bom milagre durante as comemorações do Santo, mas apenas antes, ou na melhor das hipóteses, pedir-lhe que o resultado da noite anterior possa ainda ser revertido. Espero eu, assim como espero que no dia de San Gennaro não haja grande festança e que o Santo não esteja virado para grandes benesses. Ele que atenda ao problema do lixo espalhado pela cidade, ou da Camorra, do desemprego atávico e da situação económica e social italiana que ali é particularmente severa. Agora quanto ao futebol, que esteja virado para outro lado que nós agradecemos.
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