quinta-feira, fevereiro 12, 2009

O Bloco e o poder

O Bloco de Esquerda realizou a sua convenção, com apelos a medidas económicas "anti-capitalistas". O tempo passou e o nosso Bloco já vai em dez anos. Quem diria. Mas a verdade é que já nos vamos habituando à sua presença, e o movimento tornou-se sinónimo de "esquerdismo" e "politicamente correcto" por excelência, com a já desbotada expressão "esquerda-caviar".

Continua a ser um partido de díficil caracerização nas famílias ideológicas, quase tanto como o PSD. Amálgama de neo-trostquistas, ex-comunistas, maoístas recauchutados e desertores socialistas que se uniu para entrar no parlamento, talvez a classificação mais próxima seja a de esquerda radical.


O mais interessante - ou inquietante, dependendo das sensibilidades políticas - é que este partido é a mais bem sucedida tentativa de quebrar o domínio parlamentar de trinta e tal anos dos 4 habituais residentes do parlamento. De tal forma que já nem se deve falar em tentativa, mas em concretização. O caso mais conhecido até aqui fora o PRD inspirado e depois liderado pelo General Eanes, que logo na estreia, em 1985, entrou a matar com 18% e 45 deputados. Mas o deslumbramento e a irresponsável moção de censura ao governo de Cavaco foram disparos no pé e levaram-nos abaixo dos 5% primeiro, em legislativas antecipadas, e quatro anos depois à saída inglória do parlamento e posterior extinção. Houve também o caso do PSN, dos reformados de Manuel Sérgio, que conseguiu um mandato, mas a solidariedade derivou para a divisão e para as zangas e o partido escoou-se tão lesto como viera. Outros partidos que tiveram representação parlamentar iriam fazer parte do BE. A UDP chegou a entrar em S. Bento só de per si, com aquele inenarrável Américo Duarte, e mais umas legislaturas, com o PCP. O MDP-CDE, que nas constituintes obteve perto de 5% (quando Vasco Gonçalves dizia que iria ganhar as eleições), só também sumergido na APU voltou a entrar no hemiciclo.


Com a aliança PSR-UDP-Política XXI (herdeiro do extinto MDP)-FER, formou-se o Bloco de esquerda como o conhecemos. De resultados modestos nos primeiros anos, muito embora tivesse conseguido alguns deputados, ultrapassou os 6% em 2005 e pelas sondagens promete não ficar por aqui. A nível local é que as coisas parecem correr menos. Sem dúvida uma consequência sociológica dos seus apoiantes.


O Bloco é um partido com tendência a crescer em alturas de crise, com as suas iras, os seus protestos por tudo, o seu apoio incondicional às causas fracturantes, o seu aproveitamento mediático. E nota-se que cresce aproveitando a onda de contestação social às políticas de Sócrates, face à anémica ou atabalhoada oposição dos partidos à direita do PS ou a algumas limitações do PC em conseguir chegar a novo eleitorado. O Bloco vive da crise e da contestação, da crítica demolidora e de apelos constantes do contra. Cresce mais nas eleições nacionais porque aproveita o descontentamento, mas fica-se por resultados modestos nas locais por falta de implantação no terreno.


Na última convenção, Loução apelou a uma nova economia "socialista e anti-capitalista", o que significa que o discurso pode estar a radicalizar-se. Mas apelou igualmente a alianças como "movimentos de cidadãos", numa clara colagem ao MIC de Alegre e Roseta. À primeira vista parece uma inocente abordagem a independentes, mas numa altura destas, com perspectivas de crescimento nas sondagens, percebe-se a verdadeira ideia: a de ganhar mais votos aqui e ali (Sá Fernandes era outro exemplo, mas já lhes fugiu), a de conseguir o poder com as coligações que precisar, aproveitando o descontentamento e as divisões no PS. No fundo, a ideia de rejuvenescimento político do BE está a esgotar-se, e fica a clara sensação de um partido como os outros, que busca poder. Outra forma de o camuflar é haver um "coordenador" e dizer que não há líderes, como se Louçã não o fosse há anos. Nisso e em muitas outras coisas, parece-se com Paulo Portas. A sede de protagonismo e poder é outra característica, demasiado visível para se mascarar. Pode ser é que quando a situação económica e social, dê o seu tombo, quanto mais não seja por saturação.

Um comentário:

Anônimo disse...

E que tal renovar os links da coluna aí da direita? Há muitos blogues bons que não estão aí enumerados.