Do resultado dos Óscares acertei em todos menos o de Melhor Actor. Parece uma grande proeza mas não é. Mais imprevisíveis só mesmo esse e o de Melhor Actriz Secundária (Olé, Penélope!). Devia ter previsto que depois de não arriscar em Brockeback Mountain, Hollywood tinha de puxar os galões do "espírito liberal" e premiar o papel de Sean Penn em Milk, logo numa altura em que os californianos votaram contra o casamento homossexual. O filme teve as melhores críticas de quem o viu (eu não vi, confesso), Gus Van Sant é um realizador de créditos firmados e do protagonista espera-se sempre interpretação superlativa. Escreveu-se que Penn tinha aqui "o papel da sua vida", mas desses já ele teve uns quantos, e qualquer papel mediano que represente é "o papel da vida" de um actor mediano. Mas ficará sempre a ideia de que se tratou de um voto activista, político, social, premiando mais a causa do que as qualidades artísticas da obra.
E houve ainda mais uma falha: tinha-me esquecido de pôr a minha aposta para Melhor Filme Estrangeiro, que ia para Valsa com Bashir. Tinha forte concorrência de A Turma, mas acabou por ser suplantado por uma surpresa japonesa. É bom haver sempre alguns prémios inesperados.
Boa ideia também a de anunciarem os prémios de representação com cinco anteriores vencedores. É uma consagração mais profunda e sempre serve para atrir ao Kodac Theatre mais gente de vulto.
Do resto que vi, porque não estava com grande espírito para festas, achei algo sensaborão. Com uma excepção: a do miúdo de Slumdog Millionaire, todo ele risonho e traquinas, numa cerimónia em que por certo nem nos seus maiores sonhos ousara pensar figurar. Afinal, o cinema ainda pode operar maravilhas, como levar os esfarrapados de Bombaim à passadeira vermelha da Meca do Cinema.
Um comentário:
No Daily Show, Jon Stewart mostra-se, neste VÍDEO legendado em português, sarcasticamente optimista quanto às promessas de liberdades civis anunciadas por Barack Obama. Este afirmara numa conferência de imprensa que Guantánamo seria encerrada dentro de menos de um ano.
Jon Stewart: Um ano? Não quero ser idiota, mas… é preciso empacotar muita coisa para fechar? Há lá um colchão, alguns Alcorões… Digo-te, a Moiches (empresa de mudanças) faz isso numa tarde.
Num número de ventriloquismo, Stewart entabula um diálogo com o boneco Gitmo [um prisioneiro de Guantánamo]
Jon Stewart: Com mais informações sobre o encerramento desta prisão infame, temos o nosso homem no interior da prisão, o detido de Guantánamo, Gitmo. Muito obrigado por estares connosco, Gitmo, tu já estás preso em Guantánamo há algum tempo. Deve ser um dia feliz para ti.
Gitmo: Gitmo não estar muito satisfeito. Terem dito a Gitmo muitas vezes que ele vai voltar para casa. Gitmo saber ser uma técnica para abalar o Gitmo.
Jon Stewart: Não! A sério, Gitmo, é verdade! O presidente Obama já começou a encerrar Guantánamo. Até já acabou com as técnicas de interrogatório avançadas.
Gitmo: A sério? Então porque é que Gitmo ainda ter mão enfiada no rabo?
Jon Stewart: Gitmo, finalmente estamos a tentar fazer o que está certo.
Gitmo: Está bem. Gitmo dar-vos benefício da dúvida. Mas para onde enviam Gitmo? Não poder libertar Gitmo. Gitmo ser louco agora.
Jon Stewart: Gitmo, ainda estamos a tratar dos pormenores. Mas é uma nova era, Gitmo. Na América deixámos de sacrificar as liberdades civis na guerra contra o terrorismo. O presidente Obama disse isso.
Gitmo: Sim! Gitmo adorar presidente Obama! Finalmente Gitmo ver promessa da América! É um novo começo para todos nós! Sim!
Jon Stewart: Ainda bem que sentes isso, Gitmo. Acho que ultrapassámos a crise. Sabem disso, certo?
Gitmo: Sabes, Gitmo e os amigos de Gitmo continuam a querer matar-vos. Queremos destruir o vosso estilo de vida.
Jon Stewart: Sim, nós sabemos, Gitmo, mas com estes abusos fazemos isso por vocês.
Gitmo: Não estão seguros… Não querem estar seguros?
Jon Stewart: Gitmo, não existe segurança! Façamos nós o que fizermos, a nossa segurança não está garantida. É esse o preço a pagar por uma sociedade livre. Finalmente vamos fazer o que está certo.
Gitmo: Sou muito assustador…
Jon Stewart: Gitmo, isto não tem nada a ver contigo. Não podes definir-nos. Trata-se de não deixar que o medo faça isso.
Gitmo: Correio! [Gitmo entrega uma carta a Jon Stewart que a abre e donde sai um pó branco].
Jon Stewart: Isto é antrax?
Gitmor: Não... Açúcar em pó. Mas não querem bisbilhotar o correio de toda a gente agora?
Jon Stewart: Não. Podemos salvaguardar-nos bem com tácticas inteligentes e legais.
Gitmo: Deixo-vos em paz se me arranjarem virgens…
VÍDEO legendado em português
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