quarta-feira, dezembro 30, 2009

Imagens da Roménia - Bucareste


Para finalizar o périplo romeno, eis-nos em Bucareste, a capital da Valáquia, e com a aglutinação da Transilvânia e Moldávia, também capital nacional desde 1859. Segundo a tradição, deve o seu nome a um pastor de nome Bucur, que a teria fundado.


A cidade teve o seu período de esplendor na altura entre-guerras. Depois da destruição causada pelos zeppelins da Alemanha Imperial, ergueram-se sumptuosos edifícios art-deco e art-nouveau, bulevarduls e jardins, palácios e bairros, o que lhe deu o cognome de "Paris do Leste".

Como se sabe, grande parte desapareceu na época anterior a 1989. O regime da altura arrasou boa parte do centro da cidade para construir uma nova centralidade. Assim, o ex-libris de Bucareste passou a ser o enorme palácio erguido por Ceausescu, o segundo maior edifício do Mundo, depois do Pentágono, que domina a capital, com uma imensa avenida à sua frente, que na altura da abertura se pretendia que rivalizasse com os Champs Elysés.


O palácio, inicialmente chamado Casa Poporului, alberga as duas câmaras do parlamento, a presidência e o governo, e tem ainda auditórios, restaurantes, etc, e é visitável pelo público em geral. Ainda assim, não é totalmente aproveitado, por manifesta falta de entidades administrativas suficientes, dado o gigantismo da coisa. há inúmeros átrios, escadarias majestosas e um imensos salão de baile. Das suas varandas, os governantes pronunciavam os seus discursos, numa posição de domínio sobre a multidão reunida defronte. Nelas, Ceausescu assistiu atónito à revolta do seu povo, quando esperava ser aclamado. Nas caves e subterrâneos do palácio, quase com a mesma área dos andares à superfície, diz-se, tinham túneis de comunicação e respectivos transportes para o exterior, a distância considerável. Mas na altura em que mais podiam provar a sua utilidade, as hesitações e medos do ditador fizeram com que não se servisse deles.


A zona onde agora está o ciclópico edifício foi totalmente arrasada, entre bairros elegantes, igrejas, jardins e recintos desportivos, numa fúria demolidora que ficou conhecida como Ceauşima (Ceausescu + Hiroshima). Em casos pontuais, certas construções mais preciosas foram transladadas para outras partes da cidade, que ficou irreconhecível depois desta extensa terraplanagem.


Contudo, entre os edifícios megalómanos e o que restou da cidade pré-2ª Guerra, fervilha uma verdadeira capital europeia, em que o trânsito flui lentamente pelos bulevarduls e pelas largas praças que comunicam umas com as outras através de avenidas longuíssimas. O centro da cidade é dominado pelo Palácio do Parlamento, pelo eixo entre a praça Unirii e a da Universidade (com o grande volume do Hotel Intercontinental) e pelo que resta da zona histórica, que se desenvolve entre a rua Lipscani e a Calea Victoriei. A primeira é a histórica rua comercial da cidade, e deve esse nome aos comerciantes de Leipzig (Lipsia), que desciam o Danúbio para vender os seus produtos, e que dinamizavam uma boa porção do comércio local. Pela via fora espalhavam-se os diferentes artesãos, e a meio, perpendicular, o mercado Lipscani, com as suas portadas de ferro, converteu-se numa zona de galerias de arte, ou seja, depois da venda de legumes tornou-se o Soho ou a Miguel Bombarda de Bucareste. Na rua, agora esventrada para repavimentação, permanecem inúmeras lojas, um teatro de Revista, tal e qual como em Portugal, agências bancárias e um dos restaurantes mais bonitos da cidade, o Carne cu Biere (embora o encanto do estabelecimento seja inversamente proporcional ao profissionalismo de quem serve, mais ocupado a promover espectáculos de danças "latinas"). Numa das extremidades estão as ruínas do palácio mandado erguer por Vlad Tepes, no Século XV, e a seu lado a mais antiga igreja da capital, a Curtea Veche.

A Calea Victorei é uma comprida rua com edifícios em estilo neoclássico, como o do Cercul Militar National, com alguns do período comunista lá enfiados. A meio, a praça da Revolução, antiga praça do Palácio, abre-se em frente ao Museu Nacional de Arte da Roménia, o antigo palácio real, habitado pelos reis até à extinção da monarquia, e à Biblioteca da Universidade. No centro fica um curioso monumento à Revolução de 1989, que teve um dos seus momentos mais quentes precisamente nesta praça. A estranha obra de arte, ou "Memorial do Renascimento", é comparada a uma batata no espeto, pelo que se pode considerar o correspondente ao monumento ao 25 de Abril, de João Cutileiro, que está no alto do Parque Eduardo VII, em Lisboa.
Mais atrás uma das razões porque Bucareste ficou conhecida como "Pequena Paris do Leste": a passagem Macca-Vilacrosse, uma rua em galeria coberta de vidro dourado, com a forma de ferradura, ocupada por cafés e bares, em especial egípcios, como se nota pela numerosa assistência fumando narguilé. A par desta mistura arquitectónica algo caótica, dos grandes parques e do comércio com todas as marcas internacionais, pode ser considerada uma imagem da nova Bucareste, menos carrancuda do que no antigo regime.

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