sábado, março 06, 2010

Uma volta pelos cinemas do Porto

Se há dias fazia referência a alguns cinemas localizados na zona da Boavista, é agora altura de recordar as salas do Porto.

O panorama cinematográfico da cidade onde nasceu a Sétima Arte em Portugal era até ao momento desolador. Digo "era" porque ao que tudo indica o novo pólo da cinemateca é mesmo para avançar este ano, na Casa das Artes, coisa que agradeço particularmente. E também por causa de uma reabertura recente. Mas quanto ao resto, permanece a desolação. O que sobra são as tais quatro salas do Cidade do Porto, as do Dolce Vita , nas Antas, e o pequeno estúdio do Teatro do Campo Alegre. Longe vão os tempos em que via passar a programação na Canal 2, e me espantava pelo facto de haver pouco mais de quinze salas no Porto, comparadas às mais de quarenta de Lisboa. Precisamente por há dias falar dessa recordação, e por causa do post sobre os espaços comerciais, é que abordei este tema.

Já falei no Charlot, o cinema da Brasília, sempre com imensa gente. Lembro-me de ter assistido a o primeiro Batman de Tim Burton. Mais adiante, na subida de Júlio Dinis, perto do Palácio de Cristal, havia o Pedro Cem. Também nesse assisti a muitos filmes, e se não me engano o último terá sido O Carteiro de Pablo Neruda, numa época em que ia pouco ao cinema.
O melhor de todos era o Foco, surgido nos anos setenta, que acabou por dar o nome ao Graham, urbanização onde se situava. Este bairro, entre a Avenida da Boavista, a VCI e o Bessa, obedeceu a um planeamento quase perfeito, com blocos de apartamentos de boa qualidade, galerias comerciais com inúmeras lojas, um supermercado, pubs, cafés e restaurantes, as piscinas, o hotel Tivoli, a igreja e, claro, o cinema. Arnaldo Saraiva faz algumas descrições interessantes da zona e dos seus habitantes no seu livro O Sotaque do Porto. Simplesmente, o hotel Tivoli encerrou, as piscinas há muito que estão fechadas, e o cinema, com as suas cadeiras que se afundavam, também já não está activo. Recordo-me de lá ir a um sarau universitário de tunas, em 1996 ou 1997, e depois disso, mais nada.


Mas a minha memória dos cinemas portuenses não se fica pela Boavista. Na Baixa havia o Lumière, com duas salas, muito procurado por isso mesmo. Sempre que lá ia com amigos, e se me despedia à saída, aproveitava para dar um salto à Leitura, ali ao lado, e percorrer a extensa colecção de banda desenhada que havia no primeiro andar. Mas também as salas do Lumière acabaram por fechar. Durante anos, as galerias comerciais onde se situavam serviam de mero ponto penumbroso de passagem entre ruas, com uma ou outra loja de filatelia e coleccionismo. Com a recente vaga de movida da Baixa, as galerias converteram-se em bares com luzes psicadélicas, e o espaço ganhou nova vida, principalmente à noite. Mas o cinema não reabriu.


Mais cima, e bem no centro da cidade, havia o Trindade, também com duas salas, mas mais antigo e vetusto. Nesse recordo-me de ver pelo menos o Philadelfia. Julgo que o edifício acolhe o bingo do Salgueiros, mas não sei se ainda promove algum tipo de espectáculo.


No centro havia também o Sá da Bandeira, que partilhava o palco com o teatro de revista e outros espectáculos ao vivo, e que em matéria de cinema está reduzido aos filmes porno. Mais acima, o Passos Manuel, inserido no Coliseu, voltou depois de longo fecho a exibir sessões de filmes recentes em reposição, mas julgo que está de novo inactivo. E ainda mais acima, na Praça da Batalha, duas jóias de períodos distinto: o Águia de Ouro e o Batalha. O primeiro é uma reminiscência em Art Deco, durante anos uma sala de prestígio, hoje uma fachada tapando ruínas; já tem futuro, e será convertido em hotel low cost, encerrando para sempre a sua função de casa de espectáculos. O Batalha é um sumptuoso edifício modernista dos anos quarenta, que reabriu há poucos anos, com espaço de bar e restaurante. Sei que tem uma imensa sala de cinema, mas penso que só esporadicamente, em festivais ou homenagens, exibe filmes.



















Depois há os cinemas que nem sei exactamente onde ficam, como o Terço, e ou o Vale Formoso, perto da Arca d´Água, com uma arquitectura também dos anos quarenta, e que só vi transformado em templo da IURD (um destino comum a salas abandonadas).

Outras jóias esquecidas haveria, na Foz, no Bonfim ou na Baixa, mas desconheço. No entanto, este é um pequeno guia que permitirá descobrir algo mais.

Mas o cinema que mais frequentei, e provavelmente o primeiro, era o Nun´Álvares, na rua de Guerra Junqueiro. Vi dezenas e dezenas de filmes nessa pequena mas acolhedora sala, forrada a azul, até ao último dia. Foi a última a fechar na cidade, sem ser em multiplex. E é daqui que vem a esperança: há anos falei do fecho do Nun´Álvares; pois agora voltou a reabrir, exactamente tal como estava, e já lá pude ver o Invictus.

E boa hora, este regresso, assim como a notícia da concretização do pólo da Cinemateca. A ser assim, ainda há esperança para o cinema na cidade de Aurélio da Paz dos Reis, Manoel de Oliveira e da Invicta Filmes.

3 comentários:

Luís Bonifácio disse...

Eu sou de um tempo mais antigo.

O do trindade com uma única sala com Plateia, Tribune Balcão inferior e Balcão Superior, com o enorme terraço de onde podiamos ver o adro e a Igreja da Trindade.

O mais confortável era sem dúvida o charlot e as suas fabulosas poltronas onde dormi o sono dos justos durante a soporifera "Sonata de Outono".
Velhos tempos sim senhora.

Luís Bonifácio disse...

E também me lembro da máquina de 70 mm do Coliseu onde tive a sorte de ver o "Patton", no ínicio dos anos 80.
E de um filme de Louis de Funés que punha as 2300 pessoas do Coliseu a rir a bandeiras despregadas.

João Pedro disse...

Ah, eu realmente já não apanhei essa fase. Com pena minha. O Coliseu, como cinema, devia ser imponente.