Por João Pedro Pimenta. Blog de expressão portuense, benfiquista, monárquica, católica e politicamente indeterminada. Pelo menos até ver...
Correio para jppimenta@gmail.com
Não sei se Lula da Silva é culpado daquilo que o acusam. Não acompanhei devidamente o processo judicial, não sei se as provas são suficientes e fidedignas, ou se Lula obteve vantagens pessoais. A verdade é que já vamos na segunda instância e o tribunal de recurso até endureceu a condenação. Mas se Lula não cometeu mesmo os actos de que é acusado e não obteve vantagens pecuniárias para si mesmo, cometeu pelo menos o crime - ou o pecado - de omissão pela rede clientelar e de corrupção que o PT semeou no aparelho de estado e organismos a ele ligados.
Seja como for, a candidatura presidencial parece estar por um fio. As sondagens mantêm-no à frente da corrida. Os seus apoiantes clamam que é o único candidato "capaz de unir a esquerda". Daí minha estupefacção: não haverá mais nenhum candidato de esquerda com hipóteses ganhadoras? É só mesmo um político que está há quarenta anos no activo? Isto também diz muito da esquerda brasileira. Seria como se a direita portuguesa recorresse a Cavaco Silva para se "unir".
Entretanto, olha-se para o friso de candidatos que já se perfilam às presidenciais deste ano - além de Lula temos Geraldo Alckmin, Marina Silva, Ciro Gomes, Jair Bolsonaro e Manuela d´Ávila - e lembramo-nos da velha piada académica: há candidatos bons e originais; mas os que são bons (com grandes dúvidas), não são originais; e os originais, como a comunista Manuela d´Avila e o sinistro e inenarrável Bolsonaro, não são bons. Espero mesmo que Deus seja brasileiro, para acudir àquele imenso país.
Tal como a Grande Enciclopédia do Ludopédio (o único programa de debate futebolístico que realmente interessa), também eu me lembrei do caso da pala de Alvalade a propósito da interrupção do Estoril-FCP, por causa de defeitos na estrutura da bancada. Já em tempos falei de mais este episódio pitoresco do futebol português, que reedito aqui:
A cobertura datava da construção do estádios, nos anos 50, e um parecer técnico do LNEC (a mesma entidade que o Sporting queria que fizesse uma vistoria à cobertura da Luz), tendo detectado falhas estruturais, determinou a interdição daquela bancada e a remoção da pala. A secretaria de estado da Cultura, com Santana Lopes à frente, decidiu que o espaço teria de ficar suspenso até nova decisão. O sporting protestou e chamou o veterano Edgar Cardoso, um dos autores da obra, que passeando e saltando por cima da pala, afirmou que aquilo era seguríssimo e que não havia qualquer problema. Imediatamente se levantou a suspensão (em vésperas de um importante concerto rock programado para quele estádio), fizeram-se umas pequenas obras de melhoramento e não se pensou mais no caso, até à efectiva demolição do estádio, mais de dez anos depois. Só uma pessoa protestou contra o desfecho do caso: Maria José nogueira Pinto, que era Subsecretária de Estado da Cultura, e que, sentindo-se desautorizada e achando que tudo aquilo era uma insensatez, pediu a demissão.
A memória deste episódio é pertinente: é que se o jogo entre o Estoril e o Porto tivesse ocorrido uma semana antes, em plena campanha para a liderança do PSD entre Rio e o mesmo Santana Lopes, o episódio seria provavelmente recordado pelos apoiantes do primeiro e desvalorizado pelo segundo (que seria aliás presidente do Sporting três anos depois). Mas os dias não se cruzaram, impedindo a coincidência, e o episódio acabou por ser escassamente recordado. É pena, porque seria mais um pitoresco micro-caso a juntar futebol e política.
Estas recordações sobre os Cranberries levaram-me de novo aos anos noventa e à ascensão de novos grupos pop-rock. Sempre achei curiosos os casos das next big thing que surgem prontas a conquistar o Mundo e que subitamente são ultrapassadas e atropeladas por grupos por quem pouco se dava à partida. É o caso dos James, de quem já aqui escrevi, sobre quem paira uma engraçada "maldição", a de terem tido amiúde bandas a fazer as primeiras partes dos seus concertos e que depois se tornam maiores do que eles próprios (como os Radiohead, os Nirvana ou os Coldplay). Mas não são, longe disso, casos únicos.
Aí por 1992 ou 1993, em tempos de pré-Britpop, em que o Grunge era rei e senhor da cena pop-rock mundial, os britânicos andavam cabisbaixos, à procura de algum destaque num meio em que, terminado o shoegazing, e vulgarizado o madchester, pareciam condenados à decadência. Apareciam inúmeros grupos a tentar marcar a sua própria diferença. Uns eram aproveitáveis, outros nem tanto, e outros levavam os áugures do meio a rotundos enganos.
Aconteceu isso mesmo com os Kingmaker, um grupo prometedor, que supostamente iria conquistar os tops de vendas e marcar o som da pop britânica. Mas as coisas não correram pelo melhor, a popularidade que esperavam não chegou (como se pode ver pelo reduzido número de visualizações no videoclip mais abaixo) e o grupo acabou por se separar poucos anos depois.
Porque é que isto me veio à memória à boleia dos Cranberries? Porque, por alguns testemunhos que vi, os Kingmaker realizaram alguns concertos onde tinham, como banda suporte, um grupo londrino chamado Suede, que deram bem mais nas vistas que os próprios cabeças de cartaz. Como se sabe, os Suede, que começaram com um som glam-rock muito devedor de Bowie e dos anos setenta, tornaram-se num dos grupos fundadores e essenciais da Britpop e um dos mais amados no Reino Unido. Ou seja, eram eles próprios a next big thing do momento, com melhoresresultados.
Mas provaram um pouco do mesmo "remédio" atrás descrito: partiram para uma digressão nos Estados Unidos, levando uma pouco conhecida banda irlandesa para fazer as primeiras partes, uns certos Cranberries. Ao contrário do que esperavam, os ingleses passaram quase despercebidos no Novo Mundo, enquanto que os irlandeses e a voz de Dolores O´Riordan atraíram as atenções dos americanos, que começaram a fazer passar as suas músicas, como Linger, na MTV, eobtiveram logo um sucesso considerável que os catapultou para a fama. Os Suede foram olimpicamente ignorados e tiveram de se conformar em ser populares deste lado do Atlântico, sobretudo na terra de origem, onde durante bastante tempo continuaram a atrair as atenções sempre que lançavam um novo trabalho.
Quanto aos Kingmaker, desapareceram por completo. Provavelmente dedicaram-se a outras actividades que não a música. Deixaram apenas um rasto da sua existência na net, sobretudo no Youtube, para que possam ser recordados.
PS: nem sempre os Suede conseguiram ultrapassar os grupos cujos concertos abriam. partes. Na estreia dos REM em Portugal, em Lisboa, que tive a felicidade de ver, fizeram a primeira parte mas nem de perto chegaram ao seu nível. Mas sendo uma bela junção, reconheça-se que eram demasiado bons para serem um simples brinde.
O súbito desaparecimento de Dolores O´Riordan causou comoção por esse mundo fora. Não é para menos: era a voz e a alma dos Cranberries, um dos grupos rock mais populares das últimas décadas. Não era propriamente fã da banda irlandesa, mas quem passou a adolescência em meados dos anos noventa não pôde ficar indiferente a músicas como Zombie ou Ode to my Family, que se ouviam por toda a parte e que os tornaram estrelas globais. Para além de ser das canções mais populares dos anos noventa, Zombie teve ainda um importante papel social, como relembra o Diogo Noivo. No Need to Argue, o álbum dessas duas canções, tinha o icónico sofá na capa e vendeu cerca de 17 milhões de cópias. Curiosamente, quando o sofá deixou de aparecer na face dos álbuns, o sucesso começou a resvalar, levando mesmo à separação dos membros da banda durante alguns anos, até se reunirem novamente.
Os Cranberries vieram várias vezes a Portugal, entre festivais e concertos em nome próprio. Curiosamente, a primeira vez que actuaram em solo português seria, à partida, para fazer a primeira parte - juntamente com os Oasis - dos REM, num espectáculo que teria lugar em Alvalade. Mas o grupo de Athens, por problemas de saúde vários, teve de cancelar o concerto (só se estreariam anos mais tarde no Pavilhão Atlântico, numa actuação a que tive a sorte de assistir), pelo que o grupo irlandês entrou em cena no Coliseu dos Recreios, dando ao público um concerto memorável e vibrante, segundo os testemunhos. Seria o primeiro de vários, concluído com uma actuação no festival Marés Vivas, no cabedelo de Gaia, em 2011.
No ano passado chegou a estar anunciada nova vinda dos Cranberries a Portugal, à feira industrial anual de Cantanhede, o que me levou a pensar que o grupo estaria algo decadente (quando bandas consagradas começam a ir a Queimas das Fitas e festivais industriais é sinal disso mesmo). Acabariam por cancelar, dados os problemas de saúde de Dolores. sem imaginar que não teríamos nova oportunidade de os e de a ver.
Recordando a tragédia de (Vila Nova da Rainha, concelho de) Tondela do último fim de semana, é estupidamente irónico como aquela terra é vítima de incêndios fora da época dos fogos (Outubro e Janeiro), sendo que o último se deu numa noite gélida e chuvosa. Já não bastava o braseiro de há três meses, que arrasou parte do economia do concelho e causou dois mortos, e agora isto. O que mostra como a negligência pode originar desastres nas alturas em que menos contamos com eles. Fossem quem fossem os culpados pelo estado do edifício, é terrível pensar que várias pessoas perderam a vida por estarem a conviver numa noite de inverno num torneio de sueca, na colectividade da terra, que deveria ser um lugar seguro e acolhedor.
Já agora, como vão os planos de protecção contra incêndios a ser postos em prática daqui a uns meses?
Rui Rio ganhou a liderança do PSD, como se começou cedo a perceber, à medida que os números da votação iam saindo cá para fora. Facilmente se adivinhava que ganhando praticamente todos os distritos do norte e centro do país (faltou Coimbra e Lisboa, insuficiente para dar a volta), onde está a maioria da população e o grosso dos votantes do PSD, que a vitória já não escaparia a Rio.
Como disse no outro post, o antigo presidente da CM Porto está longe de ser um génio político, uma figura redentora ou um estadista de alta craveira. É rigoroso, firme, possivelmente bem intencionado, mas não será, salvo grande surpresa, o salvador por que os militantes do PSD tanto esperam. Dificilmente ganhará a António Costa nas próximas eleições, a não ser que algo de surpreendente se passe (e a verdade é que em 1984 ninguém imaginava Cavaco no poder pouco tempo depois, tal como ninguém imaginaria em 2004 ver brevemente Sócrates à frente do governo). Pode acontecer que o PS ganhe com maioria relativa e precise do PSD para viabilizar um governo, permitindo assim a perda da influência da extrema-esquerda, um dos objectivos de Rio. De qualquer forma, estranho a tentativa de colagem de Rio à esquerda: é verdade que em matéria de costumes é mais libertário, mas quando esteve à frente da câmara do Porto, distinguiu-se pelo rigor nas contas e pelo baixo despesismo e investimento público, por uma postura autoritária e por desdenhar da cultura, o que o tornou num dos alvos preferidos da esquerda (e se pensarmos que o BE portuense é em grande medida constituído por actores e sociólogos...).
Mas entre Rio e Santana a escolha era óbvia. Parece incrível como é que em 2018 ainda haja gente a seguir o "menino-guerreiro", mas a verdade é que ainda conseguiu uns incríveis 46% dos votos. Mesmo depois do seu curto e desastroso governo, da sua errância, de quase nunca cumprir um projecto até ao fim e de os deixar sempre um legado endividado, e de já ter perdido uma eleição com António Costa em 2009 (que devia ser uma mancha no currículo mais que suficiente para nem se apresentar), ainda há muito quem acredite nele. Será por amizade, por ingenuidade, por ódio a Rio? Todas essas razões são válidas, mas 46% é muito.
Seja como for, o PSD pode gozar agora de um período de maior sanidade, mas não terá certamente a vida fácil nem gozará de um estado de graça.
Quanto a Passos Coelho, resolveu, e bem, sair do parlamento. Deve fazer a correspondente travessia política no deserto. Veremos o que o futuro lhe reserva.
Já agora, a razão para se prever que Rio seria o novo líder do PSD é que até já havia um hino que lhe era dedicado. Caramba, os autores destas causas tinham certamente dons premonitórios: é que já me lembro de ouvir isto desde as "ondas laranjas" de Cavaco Silva.
Não sou militante do PSD, mas quero sempre que para a liderança dos partidos vençam os melhores e, sinceramente, já tarda uma oposição eficaz ao actual (esquema de) Governo, e o CDS não basta, por mais que Assunção Cristas se esforce - com algum êxito. Por vezes Catarina e Jerónimo tentam preencher a vaga, mas é raro aventurarem-se em grandes indignações.
Vivi bastantes anos sob os mandatos de Rui Rio e pude ver os seus sucessos e os seus fracassos. É um homem rigoroso, minucioso com as contas, pouco influenciado por grupos de pressão e ameaças (lembram-se da manif dos Super Dragões?) e teimoso, para o bem e para o mal. Como pontos negativos é autoritário, tem uma visão limitada e demasiado genérica sobre diversos assuntos, como a justiça, e uma péssima relação com a comunicação social. Não parece ser a escolha ideal para líder da oposição e para primeiro-ministro, embora pudesse fazer um papel competente como ministro das finanças ou da administração interna. Ainda assim, prefiro alguém com as suas limitações mas com rigor e organização do que um viciado nas disputas políticas como Santana Lopes, que por onde passou deixou as finanças em pantanas, e que nem quando já tinha atingido finalmente uma aura de credibilidade "senatorial" resiste a vir disputar pela enésima vez a liderança do partido - que já teve, com o êxito que se viu - com uma leviandade que já se pensava ser coisa do passado.
E neste combate pela presidência do PSD, nestas tricas, acusações várias e respectivos desmentidos, tenho ouvido por mais do que uma vez que Santana é um "vencedor". Os únicos triunfos que lhe conheço são os das vitórias autárquicas na Figueira e em Lisboa. É sobretudo esta que os seus apoiantes recordam, com razão, porque vencer uma coligação entre o PS e o PCP com um presidente no cargo cujo mandato não tinha desagradado à população, e apenas com o PSD (e simbolicamente o PPM), era uma tarefa hercúlea. Mas as vitórias de Santana acabaram aí. E vale a pena lembrar que já depois de ter oferecido a maioria absoluta a Sócrates seria de novo candidato em 2009 à câmara de Lisboa, desta vez à frente de uma coligação que juntava PSD e CDS, e perdeu com o PS de António Costa apoiado pelo grupo de Helena Roseta.
É este o pormenor que merece ser apontado: caso ganhe a presidência do PSD, Santana terá pela frente não João Soares mas António Costa, o que significa que a conquista de 2001 perdeu a validade. Já agora, é bom lembrar que Rui Rio cometeu uma proeza semelhante, ao conquistar o Porto nessas mesmas eleições (que ditaram a demissão de Guterres) a um PS de Fernando Gomes considerado absolutamente imbatível. Rio manteve-se na câmara por três mandatos, crescendo sempre nas sucessivas eleições que disputou, sempre com uma coligação PSD/CDS. Fica a nota para quem se apoia demasiado em actos eleitorais que já lá vão. Até porque os votos não são dos candidatos, são dos eleitores, e eles podem mudar o seu sentido sempre que tiverem oportunidade.
O primeiro post do ano 2018, já no seu quinto dia, é endereçado ao Delito de Opinião, no qual tenho também a honra de participar: é que hoje é precisamente o seu 9º aniversário. O Delito começou a sua caminhada a 5 de Janeiro de 2009 e não mais parou, arrebatando vários e talentosos escribas (e também outros que não o são, como este vosso servo) e alcançando o topo das preferências dos leitores da blogoesfera.
E que melhor forma de comemorar o aniversário do que anunciar o livro da colectânea de textos do Delito? Como só vai até determinada época ainda não aparecem textos deste que vos escreve, por isso a qualidade é garantida. Para que seja editado há uns certos requisitos a preencher, pelo que os passo a transcrever:
"Quase a entrar no décimo ano de publicação ininterrupta, o DELITO DE OPINIÃO passa enfim de blogue a livro. Está pronta a nossa primeira antologia de textos escolhidos pelos autores que entenderam participar nesta colectânea, com estilos e temas muito diferentes - afinal aquilo que fez e faz a identidade muito própria deste blogue, que resiste de boa saúde ao "fim da blogosfera" que alguns se apressaram a decretar urbi et orbi num anúncio que nós por cá desmentimos todos os dias.
Como a nossa série dos blogonautas convidados bem demonstra: noventa já passaram por cá desde Março e vários outros estão a chegar.
Como as estatísticas deste blogue confirmam: ultrapassámos já um milhão de visualizações desde o início do ano ainda em curso.
O sistema que adoptámos para este livro, com 260 páginas e chancela editorial da Bookbuilders, é o da subscrição. Ou crowdfunding, como agora se diz em "português técnico". Isto implica a existência de um número prévio de leitores inscritos, fazendo reserva de exemplares, para que a obra entre no mercado.
Esperamos um número mínimo de 160 subscritores, que passam a figurar como "apoiantes do DELITO" nesta iniciativa que a partir de agora deixa de ser só nossa e se torna também vossa.
Contamos portanto com a vossa adesão para muito em breve passarem a ler-nos também em livro. O complemento natural ao blogue.
Prometo ir dando mais novidades sobre esta iniciativa. Entretanto podem desde já aderir, enquanto leitores "delituosos", na loja virtual da Bookbuilders. Para garantir o acesso a esta nossa primeira antologia. E abrir o caminho a que apareçam outras. Esperando que gostem tanto de nos ler em livro como já demonstraram gostar de nos ler em blogue."