terça-feira, novembro 02, 2004

João XXIII

Ainda relacionado com o meu post de ontem, e como se fosse de propósito, a RTP emitiu hoje um telefilme sobre o Papa João XVIII. Deu para ver como serão as conspiraçõezinhas entre os cardeais no seio do Vaticano, e a exagerada influência que por vezes têm sobre o Sumo Pontífice (que poderá ser ainda mais significativa se o Papa estiver debilitado, como é o caso de João Paulo II), para não falar dos interesses políticos que muitos mantêm - embora na época em questão, em que a Itália era governada por uma Democracia Cristã ameaçada por um poderoso PCI, pudessem ser ainda mais relevantes.
João XXIII era sem dúvida o tipo de homem que os tradicionalistas a que aludi ontem jamais gostariam de ver no Trono de Pedro, ou não fossem furiosos opositores do Concílio do Vaticano II e de todas as consequências que dele se retiraram. Ainda hoje se batem pelo regresso aos velhos ritos que perduraram até aos anos 60. E a sua força não será assim tão dispicienda: afinal, quem é que me explica por que razão o último Imperador Austro-Húngaro está já beatificado (por razões insuficientes, a meu ver, embora fosse de uma bom senso irrepreensível), ou o taciturno Escrivá de Balaguer foi em tão pouco tempo canonizado, e o processo de canonização (pese a sua beatificação, há 4 anos) do Papa do "aggiornamento" continua parado? Por falta de milagres? Se a razão é essa, não se preocupem: haverá sem dúvida neste Mundo inúmeros seres que se curaram das suas maleitas depois de umas rezas que incluíram o simpático mas atento Angelo Roncalli. Se até ao Imperador Carlos da Áustria se reza...
Mas talvez a explicação seja mais de ordem cinéfila que teológica ou moral. É que o actor que encarna João XXIII na produção, Bob Hoskins, também já representou figuras mais controversas, como Nikita Khrushchev, que era aliás o líder soviético por alturas do Vaticano II. Coincidência ou não...

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