La fausse colonisation
Noto que, no seguimento do meu último post, as suspeitas que lá descrevi se confirmaram, embora por razões diversas. Diogo Belford Henriques considera que "a França acaba de conquistar uma nova colónia (Costa do Marfim) e um novo protectorado (Palestina)". Querendo a todo o custo justificá-lo, este senhor vem corroborar porque, segundo ele, há palestinianos que dizem coisas como "Os Estados Unidos controlam Israel, mas por Chirac tenho muito respeito".
Ficamos todos a saber que respeito agora significa submissão. Que o facto se agradecer algo a determinado país faz com que imediatamente se seja transformado na subserviente condição de "protectorado" desse mesmo país. Se assim é, Israel há muito deve ser protectorado dos EUA, até pelas reacções contra "a Europa anti-semita", ou a atitude de justificação dos States quando o Estado Hebraico "combate o terrorismo" (isto é, quando invade campos de refugiados, destrói edifícios lançando famílias na rua, etc), e a forma como bloqueia resoluções no conselho de Segurança da ONU quando se trata condenações ao referido estado.
Mas e o que dizer da "nova colónia" francesa? Apenas isto: que para tentar travar, ou ao menos minimizar uma guerra civil que tende a contaminar os próprios vizinhos da Costa do Marfim, estabeleceu-se uma força de manutenção da paz para aquele território, composta maioritariamente por forças francesas, cuja destruição de parte da força aérea governamental deu origem aos motins que se observam. Esclareça-se desde já que tal força assenta, como é óbvio, nas Resoluções 1464, 1498, 1514, 1527 e 1528 do Conselho de Segurança (procurar aqui), aprovadas pelo CS, e não em supostas missões mesiânicas, nem tanpouco para derrubar o regime vigente. a mesma ONU que, não sendo nem tendo pretensões a ser perfeita, é o único resquício de ordem mundial existente, com regras aceites pelos seus integrantes.
Curioso é que o mesmo blogger que fala nesta suposta "colonização" é um apoiante da guerra contra o Iraque, que como se sabe se baseou num misto de mentiras sobre ADMs e "sentido de missão cristão" (Bush afirmou recentemente que "falava com Deus", mas provavelmente não levou a sério os conselhos do Altíssimo, nem do Papa) para lançar o caos no país; à frente do qual- ou de algumas partes do mesmo- está um governo nomeado pelos EUA, que por sua vez condiciona a reconstrução do Iraque ás empresas exclusivamente aprovadas por eles próprios. Para colonização, pode-se dizer que o exemplo americano é perfeito.
Bem sei que a política externa francesa é dúbia, oportunista e a maior parte das vezes hipócrita. Mas lançar estas acusações aprovando casos bem piores mostra apenas que se confirmam as minhas piores suspeitas. Por isso, nem estranho. O anti-francesismo já nem precisa de se insinuar: ele aí está, sem disfarces nem pudores.
segunda-feira, novembro 15, 2004
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