Desabafo contra Gaia
Há terras belíssimas em Portugal. E outras com as quais jamais nos reconciliaremos. Um desses casos é Gaia. A "outra banda" do Douro, enorme porção de terra entre o rio, Espinho e as Terras de Santa Maria, é um concelho que contém zonas urbanas, suburbanas, rurais e litorais, por vezes misturadas entre si. É uma cidade caótica rodeada de uma infinidade de freguesias e terrinhas que por vezes não se sabe onde acabam e onde começam. Para quem vem de fora, é o caos.
Vista da zona ribeirinha do Porto, Gaia tem aquela marginal recuperada, as célebres caves do vinho, e depois eleva-se a um patamar onde se vêem os viadutos do comboio e por fim imensas torres de betão, estragando o conjunto todo. A antipatia começa aí. Porém, se se viaja pelo concelho (já nem digo na comprida Avenida da República, que cruza a cidade alta), perde-se a paciência em menos de um ai. Há dias, vindo de um jantar na praia de Salgueiros - a tal zona litoral, em que a marginal do lado do mar está exemplarmente recuperada mas cujos edifícios do outra lado deixam muito a desejar - tentei voltar ao Porto pela ponte da Arrábida, tomando de novo o nó do Fojo. Pela Afurada estava fora de hipótese, por causa da confusão provocada pelo festival Marés Vivas, para mais em noite dos Prodigy e da sua rave industrial. Voltar mais por dentro revelou-se uma passeata desastrada, que só começou a acabar quando dei a volta na rotunda de Santo Ovídeo, uns quantos quilómetros a sul de onde queria entrar. É que para além das milhares de ruelas mal iluminadas das dezenas de terrinhas em que os nós das autoestradas foram construídas por cima de hortas e cruzam com vielas, a sinalização é de desesperar: não faltam placas a indicar as saídas para Lisboa e Aveiro, mas para o Porto é quase impossível. Tentativa patética de rivalidade ou o responsável pelas indicações acha que ainda (já?) é tudo o mesmo concelho? De qualquer forma, o passeio obrigatória até, aliviado, cruzar a Ponte, serviu para me enervar e para me indispor ainda mais com aquele concelho de além-Douro. E nem passei pela tenebrosa Vila d´Este, pelas Devesas ou por outros horrores mais camuflados.
Reconciliar-me com Gaia? Uma hipótese remota. Fusão municipal com o Porto? Apre, que a capital de distrito merece melhor sorte do que colar-se a subúrbios. Definitivamente, não.
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