Ainda devia estar no comboio quando começou a tertúlia no Café Nicola, e por isso só cheguei a meio, perdendo a apresentação e as discussões da 1ª metade. Eis um relato, entre o simplificado e o denso, do que ouvi.
O que se seguiu ao intervalo trouxe confirmações do que já se sabia, tais como a opção pelo federalismo (o mainstream não é ser federalista, é ser eurocéptico), as diferenças para o PS no investimento público ("target, timely, temporarily"), recusa do referendo ("quem for a favor tem aqui a oportunidade de o mostrar pelo voto").
Mas falou da também a sua visão económica - que se traduz numa visão mais liberal do que a média portuguesa mas dentro dos parâmetros do Estado Social Europeu, que considerou, apesar das diferentes concretizações e do seu grau de aplicação, ser o mesmo. Do ponto de honra na recondução de Durão Barroso como Presidente da Comissão Europeia, e da confusão no PSE quanto a esse assunto. De uma certa "identidade europeia", assinalando provas disso mesmo, como a supressão de fronteiras, a moeda única e até os programas ERASMUS. Da sua própria visão dos "costumes", reafirmando-se como "católico progressista", ficou a intransigência quanto ao aborto e eutanásia, a sua posição gradualista de uma hipótese de "terceira via"no caso do "casamento gay" e a oposição à nova lei do divórcio, que considerou que transforma o casamento numa "união de facto reforçada", misturando duas figuras que deveriam ser distintas.
Para o fim, ficaram questões que devido à inexorável passagem do tempo, ficaram para trás. Depois de uma "questão" de Miguel Morgado, à partida sobre uma assembleia constituinte europeia que acabou por ser uma sabatina sobre sistemas constitucionais comparados (não tenho bem a certeza porque cedo perdi o fio à meada), com concordância algo condicionada do candidato, falou-se finalmente das relações externas. Falou brevemente da possibilidade que Portugal tem em trazer dinâmicas à UE pelo seu relacionamento privilegiado com África e Magrebe (com a concorrência da França), América Latina (com proeminência da Espanha) e mesmo com a Ásia. Nas relações com o Leste, Rangel avisou que não se podia abandonar a Sérvia, depois do golpe do Kosovo Lembrou casos relativamente simples de possíveis alargamentos, como a noruega, Islândia e Suíça. E falou dos casos verdadeiramente bicudos; a Turquia, para começar, a cuja entrada deixa sérias dúvidas, embora não se oponha frontalmente, mas que deveria, caso isso não acontecesse, ser objecto de uma sólida parceria estratégica por parte da UE; a Ucrânia, que traz consigo não apenas uma parte russófona e russófila mas também a Crimeia e a base de Sebastopol; o Cáucaso, em especial a Arménia e a Geórgia, com problemas semelhantes aos dos ucranianos, mas também parte da identidade europeia; a Bielorrússia, em que Lukashenko parece ter iniciado uma tímida aproximação à UE. E por fim a Rússia; Paulo Rangel lembrou João Paulo II, a sua visão de uma Europa ao Urais e o seu combate não somente ao comunismo mas igualmente ao capitalismo selvagem; e que a cultura russa, começando na literatura e na música, era parte integrante da cultura europeia. Ou seja, nunca a UE poderia olhar para o gigante russo como uma entidade totalmente estranha, mas a entrada na organização/federação já lhe parecia exagerada senão impossível.
(Já que se falou de tantas possíveis entradas, é pena que ninguém tenha lançado as hipóteses Israel e Cabo Verde, com tanto direito como a Turquia).
Final em beleza: na senda da recordação de Karol Woytila, a ideia de que em Portugal é muito difícil falar-se publicamente utilizando linguagem religiosa e teológica, quando se usa para todas as outras vertentes, porque logo aparecem demagogos bramindo pela "violação do estado laico". Uma ideia afinal tão fiel às liberdades públicas e políticas que Paulo Rangel pretende defender, em S. Bento ou em Estrasburgo.
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