terça-feira, maio 26, 2009

E os Gandhi sobreviveram aos Tigres


A derrota final dos Tigres Tâmil na semana que passou é a prova de que os mais musculados grupos insurgentes podem ser aniquilados quando pelo seu radicalismo agressivo mergulham no maelstrom do terrorismo. Durante quase três décadas, os Tigres puseram o Sri Lanka a ferro e fogo, fizeram recuar os maioritários cingaleses e humilharam os indianos. Comandados pelo carismático e fanático Velupillai Prabhakaran, os guerrilheiros com a designação oficial de Tigres de Libertação do Tamil Eelam chegaram a ocupar um terço da antiga Taprobana, com o auxílio da sua marinha de lanchas rápidas e da sua força aérea. Apesar da sua organização como uma autêntica força armada convencional, distinguiram-se mais pelos atentados perpetrados por bombistas suicidas, armados com cintos-bomba, os famigerados "Black Tigers", incluindo mulheres, que tanto inspiraram os posteriores terroristas islâmicos. Outra cruel imagem de marca era a cápsula de cianeto, que ingeririam caso fossem cercados ou presos.



O radicalismo de Prabhakaran ia contra qualquer ideia de autonomia, preferindo sempre o confronto à conciliação, e não hesitou em atacar as forças indianas de manutenção da paz na ilha, matando inúmeros soldados. Vale a pena recordar que a Índia prestava até aí algum apoio aos Tâmil. Mas a violência dos Tigres obrigou as autoridades do sub-continente a virar-se para Colombo, e mais ainda quando num atentado suicida assassinaram o primeiro-ministro Rajiv Gandhi. Poucos anos depois, também o presidente cingalês Pramasada sofreu igual destino, com o mesmo modus operandi. Os Tigres continuaram com os seus ataques constantes (incluindo ataques aéreos) e os seus atentados, até ao início do ano, em que uma fortíssima ofensiva cingalesa os acantonou num último reduto, até conseguirem eliminar Prabhakaran, e consequentemente obter a rendição incondicional. O fanático líder acabou por sofrer a sorte habitual dos que colocam a luta armada à frente das negociações e dos acordos e não parecem capazes de viver sem ela, um pouco à imagem do que aconteceu a Savimbi. No fim, nem a cápsula de cianeto conseguiu usar.


O conflito durou largos anos, e só ultimamente voltou a ser notícia nos noticiários do mundo. Apesar de toda a tragédia humana envolvente e dos milhares de civis encurralados entre duas forças, de onde saíram bastantes vítimas, não houve para com estes a mesma atenção e a mesma solidariedade que costuma haver com Gaza, o que prova bem que a importância de um conflito varia conforme as partes envolvidas e o seu grau de mediatismo.


Espera-se que com o fim anunciado dos Tigres, Colombo proceda agora à pacificação da ilha e dê aos Tâmil o necessário grau de autonomia, liberta que está da pressão da guerrilha. O mais irónico, ou mais inesperada lição de moral, é que no mesmo fim-de-semana em que Prabhakaran pereceu, o Partido do Congresso, chefiado por Sonia e Rahul Gandhi, viúva e filho mais velho da mais conhecida vítima dos Tamil, Rajiv Gandhi, e pelo primeiro-ministro Singh, ganharam as eleições na União Indiana e consolidaram o poder do Partido do Congresso.

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