quinta-feira, maio 14, 2009

Os danos da imprensa desportiva

Com um melancólico fim de campeonato e um empate bisonho frente ao Trofense, que tive a desventura de assistir ao vivo, Luís Filipe Vieira veio anunciar que iria haver "mudanças" no futebol do Benfica. Tanto bastou para que nos dias seguintes toda a imprensa desportiva viesse logo anunciar a saída de Quique Flores e as eminentes contratações de Jorge Jesus, Scolari, e o que mais se imagina.


Já se sabe que a imprensa desportiva, sem mais nada que contar, se agarra inevitavelmente ao Benfica, e em tempo de crise de resultados a sofreguidão aumenta exponencialmente. É vê-los a prever técnicos, anunciar jogadores "a caminho" e discorrer sobre as divergências dos dirigentes. O modelo é sempre igual. Mas agora ainda é pior: sem que haja qualquer indicação nesse sentido, já nem põem a hipótese remota de Quique ficar mesmo no próximo ano; os jogos que restam são vistos como um pró-forma. Ora mesmo que não esteja em jogo nada de substancial, seria penoso ver o Benfica vacilar de novo nesses desafios. Ficar em terceiro já é mau, mas em quarto e quinto é ainda pior, correndo-se o risco de se quedar atrás do Nacional da Choupana! Com que moral irá Flores orientar a equipa nos próximos jogos com toda a imprensa a deitar-se a adivinhar o seu sucessor? É de temer o pior. Em casos normais, o Braga nem seria um bicho de sete-cabeças, até porque já não demonstra o fulgor de há uns tempos (apesar da goleada ao Belenenses, que parece-me que se deveu mais à ansiedade e à prestação desastrosa da Cruz de Cristo), e muito menos o último adversário em casa, precisamente o Belém, mas até do jogo com estes tenho receio. Sem espírito para trabalhar e se se confirmar o guia de marcha, Quique Flores nada terá a esperar e já estará com a cabeça noutro lugar.

Mesmo que tenha tido um mau desempenho, o melhor ainda seria que ficasse, para que houvesse alguma constância e estabilidade. Mas assim parece impossível. Os nossos jornalistas desportivos, sem mais assunto em que pegar, pura e simplesmente regurgitam manchetes. E isso influencia e tem consequências concretas, provocam a desconfiança e a suspeita e podem acarretar decisões indesejadas. E nesta altura podiam falar de tanta coisa: do futebol internacional, da final da Taça do Rei que juntou os dois clássicos vencedores da prova, Athletic de Bilbao e Barcelona (que venceram, infelizmente), como da taça de Itália entre a Lázio e a Sampdoria, dos finais de andebol, etc. Mas não, optaram pelo rumor em detrimento da notícia factual. Só confirma que os jornais desportivos têm "informação" a mais e assuntos a menos, e que ocupam um lugar demasiado destacado na imprensa nacional para a importância que têm. Que saudades dos tempos em que A Bola, o último jornal do Bairro Alto, se publicava apenas duas vezes por semana. Essa é que era a dimensão acertada.





Há quinze anos dava-se este embate sublime, uma das vitórias mais gloriosas (e saborosas) de sempre. Como vão longe, esses tempos! Depois disso, o dilúvio.

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