As recentes declarações de Angela Merckel sobre a quantidade de dias de férias e a idade da reforma em Portugal, entre outros países, trazem consigo os germes do populismo e do autoritarismo encapotado. Fazer acusações tão levianas sem dados rigorosos nem ao menos próximos da realidade mostram que a actual Chanceler continua na senda da caça - ou manutenção - dos votos depois dos desastres que foram as eleições nos Lander, onde até os Verdes suplantaram a CDU, e que não hesita em recorrer ao mais patético populismo para o conseguir, mesmo que os resultados saiam pela culatra, como o provam as imediatas críticas da oposição.
Para além disso, e da óbvia humilhação que tenta lançar aos visados (mostra clarissimamente o que é a solidariedade europeia hoje em dia), arroga-se no direito de dizer aos outros como devem regular os seus sistemas sociais internos. Tanto Portugal como a Grécia, e outros, precisam de fazer reformas na administração pública, segurança social (aqui precisam todos, sob pena de falirem em poucas décadas) e economia, nos seus variados sectores. Mas quem o pode fazer são os respectivos governantes, supervisionados pelos orgãos comunitários competentes, ou por instituições com as quais tenham celebrados acordos, como aconteceu recentemente com o FMI e o BCE. Que Merckel, essa ambígua frau em cujas mãos os alemães depositaram o poder executivo, se ache no direito de mandar bocas para o seu eleitorado sem sequer estar na posse de dados válidos, demonstra apenas mais uma vez esta tendência alemã de viragem para o autoritarismo, não já com Anchluss e Panzers, mas enviando ordens económicas de longe, desdenhosa e altiva. Khol e Schmidt, estadistas com obra, bem se fartam de dar preciosos avisos, mas esta Bundesrepublik parece bem diferente da que existiu nos últimos sessenta anos, e certas decisões da política externa, como o veto no conselho de Segurança da ONU à intervenção na Líbia, são mais prova cabal disso mesmo. Fazer comparações com o Terceiro Reich será abusivo, mas o vírus autoritário e expannsionista, ainda que sob outras formas menos belicistas, está lá.
Bem esteve o MNE ao chamar o embaixador alemão para lhe comunicar o desagrado com a gracinha de frau Merckel. Há um limite para tudo, mas nem sempre os teutões o respeitam.
2 comentários:
Só para precisar, a referência que o João Pedro faz a"o veto no conselho de Segurança da ONU à intervenção na Líbia" por parte da Alemanha carece do esclarecimento que:
a) A Alemanha absteve-se nessa votação da Resolução 1973 a que se refere; não votou contra.
b) Como membro não-permanente daquele conselho, os seus votos não se reveste da categoria de voto de qualidade que possuem os cinco membros permanentes; por isso, não faz sentido falar em veto.
Abnsolutamente certo. Embora não mude o sentido do que pretendia deixar, a Alemanha absteve-se, não vetou. Um erro que passou, talvez pela necessidade de postar rapidamente.
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