domingo, junho 19, 2011

Nuno "Gomes"



Previsível mas desagradável. Apesar de ténues esperanças, Nuno "Gomes" deixa mesmo de ser jogador do Benfica. Ainda pretendia jogar mais um ano, mas Jorge Jesus, tal como mostrou na época acabada, não esteve pelos ajustes. É a partida de um jogador que esteve doze anos (entrecortados) no Benfica. Números que já não se usam.

Veio do Boavista quando era uma das maiores esperanças portuguesas para a frente de ataque. Mostrou logo profissionalismo, pois quando ainda estava ao serviço da turma do Bessa, marcou um golo ao Benfica na final da Taça de Portugal, que lhe ditou a derrota, apesar de já ter assinado. Depois seguiu-se uma média de vinte golos por época e as fantásticas exibições no Europeu de 2000, que obrigaram Vale e Azevedo, apertado pelos credores, a vendê-lo à Fiorentina. Havia esperança que, com Rui Costa ao lado, fosse o novo Batistuta, mas eram expectativas demasiado pesadas. Marcou menos do que esperava, ganhou uma Taça, e a Viola de Florença estourou sob as dívidas. Nuno tinha vários convites, mas optou por regressar à Luz, a custo zero, num dos melhores negócios de sempre do Benfica. Já não era o artilheiro dos vinte golos/época, mas era um avançado que abria espaços e fazia assistências preciosas, sem deixar de marcar os seus tentos. Esteve quase a ser o melhor marcador, em 2006, mas uma lesão grave retirou-o de campo a algumas jornadas do fim. A pouco e pouco, os golos foram diminuindo, outros avançados foram chegando, começou a alternância entre o banco e a titularidade. Não sendo uma escolha absoluta, era no entanto a referência, o "mais velho", o capitão do plantel. Até chegar a era Jesus, e o banco se tornar no seu local habitual em campo.

Na Selecção também deu nas vistas, em vários escalões. Marcou pela primeira vez com as Quinas ao peito no Euro 2000, contra a Inglaterra, um golo que selou uma das mais incríveis reviravoltas em competições internacionais. Marcou muitos mais (à França, nessa competição, pregando Barthez ao relvado, à Espanha, no "nosso" Europeu, levando Portugal à fase seguinte, à Alemanha), 29, ao todo, tendo-se tornado, até ver, no quarto melhor marcado de sempre por Portugal.

Nuno Gomes é o melhor artilheiro português dos últimos vinte anos, com mais golos marcados na carreira do que Rui Águas, Domingos ou Cadete. Mais do que ele, só mesmo o jogador que lhe deu a alcunha, Fernando Gomes. No entanto, durante anos era mal-amado, por causa da carinha laroca, dos cabelos e da bandelete para os prender, etc: era a "menina", o que se preocupava mais com o cabelo do que em jogar, o que se distinguia mais pelos falhanços do que pelos golos, etc, etc. Os adeptos preferem sempre os broeiros aos que têm aspecto mais fashion. O estatuto de "segundo melhor" atrás de Jardel e as comparações na segunda passagem pelo Benfica com os números da primeira também não ajudaram. Assim, Nuno teve de carregar durante anos uma pesada cruz, até se tornar veterano e assumir a barçadeira de capitão, e de, na época finda, provocar verdadeira empatia com os adeptos, entrando raramente e perto do fim, para ainda assinar com alguns golos. Embora tarde, conseguiu fazer as pazes com a "torcida". Depois de doze anos de águia ao peito, não conseguiu a renovação do contrato por parte da equipa técnica do Benfica, mais preocupada em importar sul americanos e júniores "muito promissores" do Varzim, e ele preferiu acabar a carreira noutras paragens, certo de que ainda tem golos a marcar. Provavelmente vai consegui-lo. Menos provável é que se encontra um ponta de lança português tão concretizador nos próximos anos.

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